Monday 20 April 2015

O que é o dinheiro? O que é o QE? O Brasil e o desenvolvimento

O que é o dinheiro ou o que é riqueza financeira? Da onde vem o dinheiro e de quem é a responsabilidade sobre a criação desse dinheiro? Essas são perguntas que, depois de mais de 170 anos, o parlamento do UK resolveu discutir, mas pouco se avançou, após tal debate. (Vale ver, https://m.youtube.com/watch?v=EBSlSUIT-KM&feature=youtu.be ). Incrivelmente, o parlamento inglês estava bem vazio, porque poucos membros da elite política do UK sequer sabiam debater tal tema. Não seria de total e absoluta vontade da sociedade saber exatamente o que acontece com o dinheiro, da onde ele vem e para onde ele vai?  A democratização desse dinheiro não seria o maior objetivo do governo via o pleno emprego a "todo custo"?  Os políticos mais preparados para discutir assuntos importantes no mundo sequer entendem o básico sobre o dinheiro e para completar, economistas PHDs e muitos dos próprios membros escolhidos para dirigir o FED, banco central americano, também não sabem muito bem o que se passa com o dinheiro e qual teoria a adotar sobre o dinheiro e a sua criação. O que é o QE que aparece nos jornais intensamente desde a crise de 2008? QE ajuda, realmente, a economia a melhorar? Será que o conceito de "print money" QE, imprimir dinheiro, não está equivocado? O resto do mundo não faz QE também?  Será que, não é uma eterna dívida crescente que move a economia do planeta terra? E o Brasil, não deveria se espelhar em economias como a chinesa e se beneficiar em termos de desenvolvimento relativo? 

O Estado / Governo é o monopolista na criação de notas e moedas, ou seja, o governo é monopolista da criação do dinheiro e se responsabiliza por esse dinheiro criado. Contudo, moedas e notas são uma pequeníssima parte do dinheiro total do planeta, a grande maioria do dinheiro está em forma de depósitos bancários. No UK, por exemplo, apenas 3% do dinheiro total está em forma de notas e moedas e no mundo todo é isso acontece. Quando um banco privado cede um empréstimo, esse banco cria um depósito bancário na conta do tomador do empréstimo, com isso, o banco criou dinheiro na hora, ou seja, vivemos em um sistema híbrido entre estado / governo e os bancos privados, pois quando um banco privado cria um claim ( uma revindicação financeira sobre um devedor) ele está criando dinheiro.  Não seria de interesse total da sociedade saber como é o processo ou como foi o processo de escolha de quem, além do governo, vai poder criar dinheiro como o estado faz?  Não seria de total interesse da sociedade querer saber se esses mesmos banqueiros estão servindo a algum propósito econômico - democrático?  Por que, quando os bancos iriam quebrar em 2008 no mundo desenvolvido, não podiam quebrar, se não, "a civilização iria acabar"?  Se existe um setor na economia que não pode quebrar de forma nenhuma, não deveria ser melhor esse setor estar nas mão do governo ou, pelo menos, ser altamente regulado pelo governo?  Não é lamentável o setor privado financeiro ter aproveitado/ ganho, bônus milionários por anos e anos até chegarmos em 2008, quando a sociedade teve que pagar quase que a conta total de apostas irresponsáveis do setor financeiro privado?

Como foi escrito em um outro texto do blog, dívida pública, nada mais é do que déficits fiscais acumulados. O governo gasta mais do que arrecada ao longo do tempo e pronto, um déficit está formado / criado, e dinheiro é criado. Todos os países do mundo têm dívida pública ou escolhem ter dívidas diversas.  Vale ler, (http://itisallabiglie.blogspot.com/2015/02/requerimento-de-legislacao-para-atenuar.html ) Como o dinheiro aparece? Da onde saiu o dinheiro para financiar esses déficits dos governos? Da poupança externa? Da poupança interna? É necessário poupança? É até bonito falar que um dinheiro americano ou europeu tenha vindo financiar um déficit no Brasil, mas fato é, dinheiro, em sua base de criação como instrumento de pagamento, só se cria com dívidas e com a presença dos bancos centrais.  Em situação de déficit fiscal, ou a situação comum, o tesouro gasta com o dinheiro que o banco central criou imediatamente; o banco central deposita o dinheiro na conta do tesouro para o gasto referente do tesouro; o dinheiro gasto pelo tesouro em qualquer que tenha sido o bem ou serviço, no final do dia, vai "dormir" em algum lugar ( banco) e, assim, uma dívida é criada, pois o sistema nacional público cria um título de dívida e paga uma remuneração ao dinheiro criado, o dinheiro é acomodado no final do dia para render algo, business as usual.  Imagine que o tesouro paga a conta de um café, a dona da cafeteria vai chegar ao fim do dia e depositar esse dinheiro no banco para não ficar parado ( sem rendimento), isso acontece em todas as operações de compra e venda de uma economia.  

Quando os bancos privados nos EUA e em outras partes do mundo desenvolvido foram quebrar em 2008, um instrumento foi e é usado pelo FED , banco central americano ( é usado também no mundo inteiro e de maneira muito relevante), algo que foi tratado como não convencional; o tal do QE que aparece a toda hora nos jornais desde 2008, ou "quantitative easing".  Mais QE é, realmente, criar dinheiro novo, ou o que segurou a economia americana do colapso foram os $5 trilhões a mais de dívidas via déficits fiscais acumulados em 5 anos?  QE não faz nada de mais porque não compra bens e serviços na economia, QE ( criação de  dinheiro) compra ativos financeiros, principalmente dívida pública. O dinheiro criado compra outro dinheiro já criado, por que? A dívida pública já vale como dinheiro. Qualquer pessoa tem poder de compra ou de tomar crédito imediato com um título público nas mãos, ou seja, dívida pública vale como dinheiro. QE, sim, diminui o preço do dinheiro no longo prazo ( crédito de longo prazo), pois o banco central geralmente compra títulos de longo prazo forçando as taxas de juros longas momentaneamente a caírem, mas como isso é feito?   

Banco A tem, dentro do FED, banco central, um securities account e um reserve account ( conta títulos e conta dinheiro).  Quando o FED compra o título do banco A, o que faz é, simplesmente, debitar o securities account do banco A e creditar a reserve account do banco A ( reserve = dinheiro imediato, depósito bancário).  Ou seja o net ( o que sobra), ou o movimento feito, gerou zero de dinheiro novo, pois o título comprado que saiu de circulação e foi "depositado" no FED já valia como dinheiro no dia anterior a ser comprado.  As pessoas só falam que QE é dinheiro novo ou imprimir dinheiro porque os economistas ou membros dos governos só contam como dinheiro o reserve account, a conta dinheiro imediato ou cash.  Porém, entretanto, contudo, crédito público / dívida pública vale como dinheiro e, com isso, ambas as contas dos banco A, B, C, D etc dentro dos bancos centrais deveriam ser tratadas como dinheiro. Deveras, o que foi de grande importância na crise de 2008, foi o déficit fiscal criado nos EUA e não o QE em si. O QE facilita a tomada de crédito mais longo, mas se não houver demanda por crédito pelo setor privado, não adianta.  Mas o que o QE e o déficit fiscal estão fazendo no mesmo texto?

Uma das medidas mais importantes e eficientes para os EUA saírem da crise, foi a geração de déficits fiscais ( governo gastar mais do que arrecada)  trilionários  ao longo de 5 anos.  Incrível, mas os EUA geraram déficits fiscais a volta dos 10% do PIB após a crise de 2008, algo absolutamente impensável, porém foi necessário, e essa dívida, na verdade, poderia estar até maior e ter evitado a dor de muitas famílias americanas. O QE apareceu nos EUA em um momento em que o governo americano esteve precisando vender muita dívida pública nova e os compradores externos não queriam comprar mais treasury ( dívida americana) por causa da crise, com isso, os bancos americanos teriam que ser os maiores compradores desse déficit novo e gigante para salvar a economia e isso aconteceu na Europa, UK e Japão em grandes proporções. Ou seja, o banco central "forçou" os bancos americanos a comprarem títulos públicos, pois o banco central estava transformando / comprando a dívida existente em dinheiro imediato sem rendimento, esse dinheiro ou reserva bancária acabaria sempre tendo que render de um dia para o outro e, com isso, o banco que vendeu a dívida pública em carteira para o banco central, acabava comprando um título público novamente, pois o dinheiro tem que dormir rendendo em algum lugar, "se não é prejuízo".  Ou seja, o QE ajudou, pois existia uma necessidade de vender muita dívida nova, e havia, na verdade, muito pouco dinheiro imediato para esse gasto tanto no setor privado quanto no externo.  Concluindo que, é uma lenda a ideia de que dívidas só podem ser criadas através de uma poupança pré existente, seja ela interna ou externa. Dinheiro se cria, não estamos mais no padrão ouro, aonde existia a restrição da quantidade de ouro em circulação. Não é por menos que o valor do déficit fiscal americano acumulado dos últimos anos é muito semelhante ao tamanho do balanço / posses do FED, banco central americano, o tamanho das compras que o FED fez com dinheiro criado é proporcional a dívida criada. 

E no Brasil e no mundo? O Brasil é casta baixa, como já foi dito em outros textos do blog. Acusam-nos de termos instituições fracas, de sermos absolutamente corruptos, apontam o dedo para o nosso déficit,como se dependêssemos da poupança de alguém e quando quase todos os outros países rodam déficits fiscais ao mesmo tempo. Tentam justificar os juros absolutamente altos no Brasil clamando teorias econômicas que não se aplicam mais na prática, como foi amplamente explicado em outro texto do blog. Falam até da dívida brasileira que é das menores dentro do grupo das grandes economias mundiais. Essas idéias contra o Brasil não passam de grandes leviandades; o Brasil tem 1000 problemas, mas relativamente a outros países, é dos melhores em termos econômico financeiros. Os juros absolutamente altos no Brasil são justificados depois de tantas explicações sobre o dinheiro? O Brasil não precisa de superávits e poupança; ideia que tentam nos convencer que precisamos como se houvesse uma escassez de capital para executar algum projeto. Não é um absurdo todo esse juro real na economia brasileira? Enfim. 

Mas falando de QE no Brasil com exemplo. Lembram quando o dólar perdia valor "todo dia" no Brasil por alguns anos, há tempos atrás? O Brasil também fez QE.  Quando sobravam dólares no sistema financeiro a uma determinada cotação, ou o BC, banco central, tomava a decisão de deixar a cotação do dólar cair ou comprava reservas internacionais / dólares.  Se o governo não tivesse comprado nenhuma ou pouca reserva, o dólar teria caído muito mais rápido naqueles anos. O Brasil comprou $370 bi em reservas? QE é a reposta. O banco central cria uma reserva bancária em Reais para o vendedor do dólar e coloca os dólares no seu balanço, mas a contra partida é que esse dinheiro criado em Reais vai ter que "dormir" rendendo em algum lugar (banco), e esse lugar, no Brasil, se chama CDI e custa 13% ao ano.  O importante é notar que o processo é o mesmo dos outros países, cria-se uma reserva bancária no computador que vira dívida no final do dia, pois o país paga uma taxa de juros no seu sistema financeiro em moeda local para acomodar esse dinheiro novo. Novamente; o dinheiro se cria em toda a parte do planeta.

Dívida é riqueza, dívida é dinheiro, dívida vale como dinheiro, dívida vale como riqueza, o problema é que existe muita dívida privada e se não houver mais déficits público, o setor privado jamais será apto a mover as economias com consistência e, pior, vamos ver crises atrás de crises, pois os calotes privados vão aparecer.  O setor privado tem limites, o limite do setor público é apenas a inflação e não a criação o dinheiro novo. O sistema privado  funciona como a conta de uma família, se acabar o dinheiro não tem jeito, a não ser que o setor público salve a situação como aconteceu em 2008.  Notem que, déficit publico é gasto, ou seja, é renda privada, da mesma forma que dívida pública, ou estoque de dívida pública / dinheiro é riqueza privada acumulada, se você shut down / desligar o setor público ou querer diminuí-lo, vai estar fechando a torneira ao desenvolvimento econômico.  O Brasil deveria se espelhar na China e não deixar de se desenvolver por causa de limitações que não existem. Não precisamos de poupança, precisamos de liderança política. A China entendeu muito bem e possui dívidas públicas homéricas via sua instituição e seus bancos. Os ativos financeiro da China saíram de $9 tri de dólares em 2008 para $27 tri de dólares em 2014 e o desenvolvimento aconteceu sem poupança pública e privada de país algum ( a poupança chinesa é insignificante em relação ao dinheiro / dívidas criadas nos últimos vários anos).  Vamos acordar para o fato de que exitem riquezas em formas de terras, de equity ( participações em empresas) e riqueza financeira, essa riqueza financeira, nada mais é do que a dívida de outros.  Será que as pessoas são tão ricas assim? Vamos acordar; o que leva uma economia para frente hoje em dia é mais dívida e mais déficits fiscais e não ao contrário. Acorda Brasil!!! 

5 comments:

  1. keynesianismo barato....

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    1. Keynesianismo barato? Bem, entendendo minimamente de "Keynesianismo" e até de "neo keynesianismo", primeiro, essas teses falam que o governo tem que pedir empretado para financiar seus gastos (errado), segundo, essas teses falam que existe um limite finito de oferta de poupança em um determinado período de tempo (errado), e finalmente, terceiro, as teses falam, que, como existe essa poupança finita, o governo ao competir por fundos / empréstimos com o setor privado, isso vai fazer as taxas de juros subirem ( errado ) ou seja, Keynesianismo é tudo o que eu NÃO escrevi tanto nesse texto como no texto que explico mais a fundo a teoria monetária moderna, se você não leu, vale ler, muito obrigado pelo seu comentário, segue: http://itisallabiglie.blogspot.com.br/2015/04/o-brasil-e-teoria-monetaria-moderna.html

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    2. "primeiro, essas teses falam que o governo tem que pedir empretado para financiar seus gastos (errado), "
      O que voce quis dizer com "errado" ? Esse conceito é, no mínimo óbvio. Os governos pedem emprestado para financiar o (excesso) de gastos. Aliás, concorda com o que você escreveu no texto : "Como foi escrito em um outro texto do blog, dívida pública, nada mais é do que déficits fiscais acumulados. O governo gasta mais do que arrecada ao longo do tempo e pronto, um déficit está formado / criado, e dinheiro é criado. Todos os países do mundo têm dívida pública ou escolhem ter dívidas diversas. "

      Para mim, errado é voce assumir que título de dívida é dinheiro sob qualquer hipótese. É quasi-dinheiro em 99% das situações. Não é dinheiro em situação de estresse, vide exemplo claro da crise de 2007/2008. O custo do repo do treasury explodiu, imagina o que aconteceu com o título corporativo, nem preciso comentar.

      Jorge

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    3. Jorge, o governo não tem que pedir emprestado, primeiro o governo gasta e depois o dinheiro aparece como o necessário depositado pelo banco central na conta do tesouro. Não é necessário poupança pré estabelecida para que haja essa nova dívida, é só olhar para o mundo, ou você acha que os déficits fiscais gigantescos rodados ao longo dos últimos 5 anos a volta do mundo necessitaram da existia uma poupança esperando para ser emprestada, trilhões e mais trilhos? Sim dívida pública são déficits fiscais acumulados, qual o problema? O ponto é, quando o gasto é feito, não é necessário ninguém emprestar, isso ficou mais do que nítido após 2008. Em algum momento o treasury não foi aceito como de dinheiro por alguém? Em qualquer lugar do mundo? Não vi treasury sendo recusado como dinheiro por ninguém. E no Brasil, alguém deixou de aceitar algum título público do governo nos últimos N anos, enfim, de uma olhada e veja que nos últimos vários anos, não há proporção alguma possível dentro da realidade em que a poupança pré existente é igual ao investimento ou gasto do governo, o dinheiro foi criado como no QE é criado. Veja a China, foram criados 20 tri em gastos e créditos na economia nos últimos vários anos, isso foi fruto de poupança pré existente? Por favor, grande abraço

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  2. Aquele estranho momento em que você percebe que o dinheiro que você ganhou com tanto suor é oriundo da dívida de outrém...

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