Sunday 26 April 2015

Juro real, vergonha nacional, o Brasil e a vontade política.

Quando vamos a uma feira ou frequentamos super mercados, sempre temos a ideia de estarmos presenciando um mercado livre, aonde o estabelecimento ( loja)  A cobra mais caro do que o estabelecimento B, por qualquer motivo que seja, mas esse estabelecimento A ou B ou C é livre para cobrar "o que quiser". Essa é a ideia básica de como são formados os preços dos produtos nos mercados livres. Quando pensamos nas nossas finanças pessoais, entendemos bem nossos limites. Toda essa ideia de finanças pessoais entra em congruência com o mercado livre de preços nos estabelecimentos comerciais; sabemos que podemos acabar comprando menos ou mais porque o mercado correspondente de preços é completamente livre e, se pesquisarmos, por exemplo, vamos poder comprar mais barato. Mas e o dinheiro? Como é formado o mercado do dinheiro? Quanto custa o dinheiro e quem manda nesse preço? Eu me refiro a quanto custa o acesso ao dinheiro na economia; o juros cobrados no Brasil.  Esse preço é formado no mercado livre como o mercado de tomates? O preço do dinheiro é arbitrado, estipulado matematicamente, mensurado livremente pelo mercado? Ou seja, o dinheiro custa mais ou menos por causa da demanda maior ou menor ou oferta maior ou menor desse dinheiro como acontece com o mercado de tomates?  Pelo que notamos no mundo, o preço do dinheiro é ditado pelos governos e não escolhido pelo mercado e isso deveria ser de total interesse da sociedade. É por isso tudo, que acho os juros reais no Brasil absolutamente inexplicáveis, distorcidos, altos demais!!! Como é possível um sistema econômico hoje em dia, avaliar o capital de maneira tão benevolente relativamente as horas trabalhadas por uma pessoa? O capital no Brasil é o mais valioso do mundo em termos de comparações as horas trabalhadas por pessoas na economia brasileira, isso tendo em perspectiva essa mesma comparação ( capital vs trabalho) com "qualquer" outro lugar do mundo. Muitos falam que o Brasil é caloteiro e, por isso, seu juro é alto, ou é alto por causa de suas instituições fracas, vale ler o texto do blog abaixo, esse tema é amplamente "explicado". http://itisallabiglie.blogspot.com.br/2015/04/o-brasil-merece-esse-tratamento_7.html .

Vamos tentar desmistificar certas ideias. Muitas pessoas falam que o Brasil é caloteiro e que deve sofrer por esses calotes por tempo indeterminado. "Um caloteiro não deve ser bem tratado"; é isso que um analista financeiro brasileiro comum vai falar para um pessoa comum. É de interesse nacional entendermos que calotes governamentais vem acontecendo ha tempos e tempos e nós brasileiros não somos a exceção e sim a regra no mundo. De 1800 até hoje, por volta de 70 países deram calotes governamentais / soberanos. 70!.  E detalhe, 70 países e mais de 160 calotes governamentais na história do mundo aconteceram desde de 1800.  No grupo dos caloteiros de aproximadamente 70 países, vimos em destaque, nas Américas: Chile, Canada, México.  Na Asia: China Japão, Índia.  Na Europa: França, Alemanha e Dinamarca. Ou seja, a fama de caloteiro do Brasil tem que ser revista, porque calotes vem acontecendo ao longo da história aos montes e pelo mundo inteiro.

Voltemos ao mais importante, que é, a vontade política de patrocinar x ou y taxa de juros em um determinado país, mas vamos falar principalmente do Brasil que aceita juros absurdamente altos, gastando aproximadamente 23% da arrecadação apenas para pagar os juros / serviço da dívida. A dívida brasileira nem grande é, quando comparada a maioria maciça das dívidas dos países do mundo, mas sua despesa / serviço da dívida é astronômico, pois o juro é altíssimo. Como falei, existe um gap ( estranha diferença de preço) entre o preço do trabalho e o preço do dinheiro / capital na economia / sociedade brasileira.  Não é possível que uma pessoa que, por exemplo, possua R$300.000 reais no banco ou $100.000 dólares, ganhe só de juros acima da inflação, juros real, R$18.000 reais líquidos em 1 ano em uma aplicação, ou seja, sem se descapitalizar ( contra a inflação), essa pessoa ganha aproximadamente 2 salários mínimos por mês apenas por possuir esse dinheiro, ou, fazendo absolutamente nada. Contando com juro total ganho dessa aplicação básica / "sem risco", essa pessoa ganha R$36.000 reais por ano ( falo do juro nominal também porque a inflação a descontar é muito particular, cada pessoa / família tem uma inflação diferente). Esse juro brasileiro é um absurdo e fora de propósito.

Como é que a economia brasileira vai para frente na presença de juros reais tão altos? A despesa financeira "mata" "qualquer" negócio no Brasil.  Eu sei que existem muitas outras mazelas no funcionamento sistemático do Brasil, infra estrutura ruim, impostos complicados, mão de obra desqualificada etc etc, mas notem; a despesa financeira é algo que o governo faz conosco, simplesmente por vontade própria, ou pior, por ignorância. Os governantes brasileiros acham que o mercado vai puni-los por algum motivo que não existe nessa magnitude em nenhum lugar do mundo. Não ha motivo algum que indique que o Brasil precise pagar o maior juros real do mundo.  Eu gostaria, nesse texto, de chamar a atenção sobre essa variável super cara para o orçamento de todos nós brasileiros, o custo do dinheiro no Brasil, os juro altíssimo.

Se pagássemos juros reais ( acima da inflação) semelhantes aos do mundo todo, economizaríamos por volta de R$70 bilhões de reais por ano. O governo, hoje tenta economizar $1 bilhão aqui, $5 bilhões ali, e pode, com um simples "decreto" ( não precisa e nem é para ser feito de uma vez só, mas pode ser feito rapidamente, ao longo de vários meses) economizaríamos R$70 bi por ano!. Quanto desenvolvimento não poderíamos "comprar" com esse dinheiro todo o ano?  "Aaaaaaa, mas a inflação vai "explodir", e o crédito vai "explodir" se os juros caírem!!!" Conversa fiada!!!.  Mil desculpas a quem pensa dessa forma.  A correlação entre juros e inflação no Brasil é fraca ha N anos, e nem "ha correlação" entre juros baixos e altos e a sessão de créditos no Brasil ha N anos, pois o crédito público entrou em cena de maneira forte. E para completar, a correlação entre juros e inflação no mundo ha N anos é fraquíssima.  E pior, não existe teoria de inflação alguma no mundo que seja de algum uso prático, são todas teorias "furadas". Vale ler o texto do blog sobre inflação.  http://itisallabiglie.blogspot.com.br/2014/11/a-engenharia-da-inflacao.html .

Quem dita certas coisas das mais importantes não são o mercados e sim os políticos, o preço do dinheiro é um deles. O que poderia explicar taxas de juros negativas na Europa, depois que os governos aumentaram brutalmente suas dívidas e seus déficits fiscais após 2008, se não a vontade política?  Não houve uma corrida gigante por crédito / poupança porque todo mundo queria pedir emprestado ao mesmo tempo após a crise de 2008? Por que o juros foi para zero e não para cima como os teóricos sempre clamaram? Por que não houve inflação e sim deflação? Mais uma vez, estamos brincando com a sociedade brasileira continuado a pregar teorias que só vão servir para um museu de economia e que hoje, não valem "nada". Vale ler o texto do blog que fala sobre esse tema, http://itisallabiglie.blogspot.com.br/2015/04/o-brasil-e-teoria-monetaria-moderna.html .

A sociedade tem que entender que o preço do dinheiro, é uma função única e exclusiva da vontade do estado, porque o governo faz as leis e o preço do dinheiro hoje, no mundo, é uma lei e não determinado por mercados livres. Não adianta tentar acreditar que os juros são uma variável que depende da oferta e procura por dinheiro, pois, isso não acontece no dia a dia, quem decide o preço do dinheiro, os juros, é o governo. Não seria melhor retirar o banco central da decisão sobre o juros e deixar o mercado livre decidir?  Afinal, não são os agentes dos mercados desenvolvidos no mundo a favor de total liberdade e liberalismo? O governo pode não ter o controle total sobre a oferta do dinheiro no curto prazo ( pois bancos criam dinheiro via criação de empréstimos) e isso faz diferença, mas o preço do dinheiro, ou juros pagos pelo governo, juros básico de uma economia, o controle, a decisão é totalmente do governo.

A taxa de juros no Brasil nos últimos 10 anos esteve em 15%, esteve 10%, esteve 13%, esteve 8%, esteve 13% e a inflação ( medida pelo IPCA) foi na média sempre entre 4,5% e 6,5% ( absolutamente controlada e fora de qualquer correlação relevante com o juros pagos pelo governo).  Entre 2005 e 2007, houve queda de juro de 18.5% para 11.5% e a inflação nos vários anos seguintes ficaram entre 5% e 6%.  E o Crédito? Mesmo na presença dessas oscilações grandes de taxas de juros, o crédito cresceu em linha reta para cima "ininterruptamente" nos últimos 10 anos. No final dessa expansão / "ciclo", é claro, o crédito privado foi retraído, pois a correlação entre juros, atividade econômica e crédito privado é real, mas quando o setor público entra dando crédito até de forma subsidiada, ou contrai o crédito por vontade política, a correlação cai brutalmente. Por que nosso governo finge estar combatendo a inflação via o aumento de juros?  É por que não entendem o que eu acabei de explicar nesse texto? É por complexo de inferioridade, como se aqui no Brasil houvesse mazelas que não existem no exterior?  Ou é porque os intelectuais, os catedráticos continuam a pensar nas teorias antigas de economia, que não valem mais para nada, e continuam a pensar que existe uma poupança finita pré estabelecida e que, por isso, o setor público e privado precisam concorrer por esses fundos no mercado interno e externo? Que besteira! Como já foi amplamente explicado, não ha limite para um governo "estável" em termos de aceso ao dinheiro, o único limite é a inflação.

Como é que os EUA, Europa, Japão e UK criaram tanta dívida em tão pouco tempo nos últimos 6 anos e os juros só caíram, se não por vontade política? Como é que o Brasil, Russia e China compraram tantas reservas internacionais nos últimos 6 anos, se não por vontade política? Novamente, como explicar taxas de juros negativas na Europa hoje, se não por vontade política? Pois é, o dinheiro apareceu nesses países e ainda o dinheiro apareceu bem barato; foi o custo do dinheiro que esses governos decidiram pagar. A inflação faz diferença no preço do dinheiro ou juros? Sim, claro, se a inflação é baixa o juros podem ser baixos "em tese" ( esse tema vale escrever um outro texto). A inflação é importante, mas o problema é que, lembrando, eu estou falando em juros real no Brasil ( juros pagos acima da inflação) o juros no Brasil é aproximadamente 13% e a inflação do ano que vem, vai ser, no máximo 6%, ou seja, é um juro real absurdo.  Podem falar que esse ano a inflação está maior, mas é só olhar a média da inflação dos últimos 10 anos e a média das expectativas da inflação para os próximos 10 anos, que veremos que esse ano de 2015 é um ano fora do normal ou outlier em termos de inflação.

O governo brasileiro acha que resolve grande parte de seus problemas com os juros reais mais altos do mundo e compromete seu desenvolvimento por causa de crenças erradas.  São $70 bilhões gastos "de bobeira" em juro real pago a mais do que deveríamos pagar, isso, só para estarmos em linha com o resto do mundo.  Mas e o dólar, não iria subir brutalmente se os juros caíssem tanto? Bem, entre 2005 e 2008, o juro só caía e o dólar só caía no Brasil; ninguém queria comprar dólar mesmo no período em que a taxa de juros básica no Brasil caiu de 18.5% para 10%. Ou seja, depende muito da situação do mundo e, com isso, a correlação ensinada pelos intelectuais de plantão sobre essas duas variáveis, juros e o preço do dólar também é fraca.  O Brasil tem é que tomar vergonha na cara, expor sua tese, e, com certeza, cair esse juros real maluco, principalmente agora que não ha inflação de demanda e a economia está em recessão. O Brasil tem N mazelas, mas com certeza, a mais fácil e lucrativa de resolver é cortando esse juros real que "usurpa" e "ancora" a economia, acorda Brasil!

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