Sunday 5 April 2015

Disciplina para que? O Brasil e a Hipocrisia nas máximas no mundo.




Disciplina econômica sempre foi um símbolo de prosperidade.  Disciplina econômica sempre esteve presente e intensamente imposta no meio acadêmico, no mercado financeiro e entre as pessoas em geral.  Afinal de contas, economia é o estudo da administração dos bens escassos e, por isso, essa tal disciplina sempre foi ponto de foco central entre economistas e governantes.  Hoje em dia, será que disciplina de gastos, economizar, poupança têm mesmo relevância na prática?  Será que existe mesmo a necessidade de haver alguma poupança para que haja prosperidade via investimentos como muitos continuam clamando por aí, mesmo depois das consequências e atitudes tomadas após a crise de 2008? Será que os países em desenvolvimento sofreram e sofrem porque são indisciplinados fiscalmente?  Será que, realmente, imprimir dinheiro cria inflação como é afirmado a séculos? Uma coisa é notável; justamente através da história vimos que os grandes ciclos e impérios acabaram por N motivos, mas com certeza, um dos grandes vilões foi a inflação, porém, hoje isso não se aplica mais, só é uma ideia que continua nas cabeças dos burocratas hipócritas e detalhe, a tese só aplicada nos países pobres e sub desenvolvidos.

Afinal, qual é, ou pelo menos, qual deveria ser o objetivo do estudo da economia? Acredito que a resposta é muito simples.  Estudar economia é, ou deveria ser, a idéia ou tentativa de gerar bem estar social ao maior número de pessoas possível na terra sem criar inflação alta ou desconfortável tendo também em vista a manutenção responsável dos recursos naturais.  Tendo em vista que o objetivo é esse, vamos analisar a situação dos últimos anos no mundo e vamos ver se existe ou não dois pesos e duas medidas na hora de tratar países "desenvolvidos" e sub desenvolvidos.  Detalhe, coloquei países "desenvolvidos" entre aspas, pois na minha humilde opinião, tendo como base a economia clássica, ou melhor, a economia estudada nas melhores universidades pelo mundo; país que não tem como pagar suas contas, pais com bancos super alavancados e quebrados por definição, não podem ser considerados desenvolvidos, simplesmente porque faliram. Com a falência, serviços sociais avançados e da melhor qualidade deveriam cessar de existir e logo esse país desenvolvido deveria quase que imediatamente ser rebaixado a um pais em desenvolvimento ou mesmo pobre, não faz sentido para você?

Vimos o Japão entrar em grande expansão econômica após a segunda guerra mundial, e essa expansão e melhora brutal da qualidade de vida da população chegou ao ápice na década de 80.  Logo depois o que acontece? "O país ficou Insolvente baseada nas teses econômicas liberais". Na presença de muitas dívidas e contas a pagar o governo japonês começou a imprimir dinheiro para pagar suas contas e dívidas e principalmente para manter seu sistema financeiro solvente.  Eles chamavam isso de medida de emergência heterodoxa, mas o ponto é, a teoria econômica deixou de valer para aquele país, pois o dinheiro não vinha de poupança alguma e sim da "máquina de imprimir do banco central".  Até aí tudo bem, emergência, passageiro e consequências ruins iriam acabar surgindo, e logicamente, a inflação foi a primeira variável que "acendeu" na cabeça dos economistas e analistas e, muito provavelmente, tudo aquilo iria desmoronar num caos de espiral inflacionário.  Ora, todo mundo sabia que, ir contra a teoria econômica e ser indisciplinado só poderia acabar em problemas. 

O que nós vemos hoje no Japão? O bem estar social continua a todo vapor, o desemprego é baixíssimo, não há nenhuma inflação, muito pelo contrário, eles vêm lutando contra a deflação há muitos anos e o principal, a impressão de dinheiro que seria passageira e emergencial continua até hoje, e o "pior" ainda, mais dinheiro do que nunca é criado do AR nos dias de hoje.  Além de tudo, o país tem uma dívida do governo de 220% do PIB ( parece até piada, ou mesmo uma lenda, conto de fadas).  O que houve com a teoria econômica da inflação por indisciplina e olhem que estamos falando na pior indisciplina da teoria econômica, a criação de dinheiro sem lastro ou como costumo falar, dinheiro do AR?

O que é inflação? E porque esse fenômeno jamais aconteceu no Japão após o início da "crise"?  Inflação acontece quando a demanda é maior do que a oferta por tempo suficiente para jogar os preços para cima; mas e se a oferta for sempre equilibrada ou até maior que a demanda mesmo com dinheiro do AR?  Resposta, não há inflação alguma, muito pelo contrário.  Mas os economistas são teimosos, os economistas são convictos e mesmo sem entenderem nada, clamavam que o Japão era uma exceção a regra e que não era possível para o resto do mundo fazer o mesmo, eu aceitei a tese, o mercado aceitou a tese e o mundo continuou girando.

A crise de 2008 chegou, EUA, Europa, UK literalmente quebraram e que fizeram? Disciplina fiscal? Nem pensar. Deixar os bancos e segurados e várias outras indústrias quebrarem como mando a teoria econômica liberal, nem pensar.  O que foi feito? O mesmo que foi feito no Japão.  Déficits fiscais monstruosos apareceram, socorros a bancos, seguradoras e outras indústrias aconteceram e tudo isso como? Utilizando o tal dinheiro do AR e dívidas e mais dívidas.  Cortaram gastos sociais ou até aumentaram? Pois é, aumentaram.  Houve alguma inflação? Não, muito pelo contrário, hoje esses países estão com inflação baixíssima ou até deflação e suas taxas de juros estão a zero ou negativas.  Juros zero ou negativo??? Mas, e toda a indisciplina não deveria justamente levar os juros as alturas por causa do maior risco? Pois é, nada disso aconteceu ou acontece hoje em dia.  Os bancos centrais tomam conta e garantem "o esquema".

Hoje pedem que o Brasil tenha disciplina fiscal, que corte gastos, que aumente impostos que faça exatamente tudo o que os países "desenvolvidos" não fizeram e não fazem.  Isso tudo também é "exigido" para vários países sub desenvolvidos pelo mundo, mesmo que, todos os economistas, acadêmicos e participantes do mercado tenham visto que nada da teoria de inflação realmente aconteceu na prática.  Afinal, existe no mundo hoje alguma teoria de inflação confiável?  Ou o que existe é uma hipocrisia, ou mesmo, um sistema de castas no mundo financeiro aonde só os países com história de domínio possam fazer o que querem, sem deixar que outros façam também.  Ou ainda, será que países que detenham o poder bélico podem fazer o que querem mesmo que por coação e influência? A mais pura hipocrisia domina a situação mundial.

O Brasil tem inflação relativamente alta e juros astronômicos, juros impensáveis, juros acima da inflação que são o dobro da própria inflação, o mercado fala que é uma consequência! Balela!!!. Quanto da inflação do Brasil acontece via juros? Quanto de influência o juros tem na cessão de crédito, eu diria e as correlações dizem, perto de zero.  Então por que pagamos "o maior" juros real do mundo? Porque amigos existe uma cultura de que tudo tem que ser resolvido via juros, e a classe dominante e formadora de opinião acata isso, afinal é super conveniente ganhar 13% ao ano, ou 6% de juros reais somente freqüentando a praia. Que vergonha! Enquanto isso 23% de toda a arrecadação do país vai para o pagamento de juros, vergonha! 

O Brasil hoje tem ameaças de downgrades por causa de indisciplina fiscal, falta de poupança e por causa da possibilidade de não poder pagar suas dividas.  Sejamos honestos, o Brasil hoje é AAA e não nota mais baixa, sabem por que? Porque nota de agência de rating é referente a capacidade de um pais honrar suas dívidas.  Hoje o Brasil tem $40 bilhões de dívida externa e $370 bilhões em reservas, se quiserem descontar os $100 bi de swaps cambiais mesmo sem esses tenham sido "liquidados", contemos com isso também, sem problema. Sobra muito!  O Brasil, se quiser paga 100% da dívida externa amanhã ( algo que deveria fazer) e as dívidas em reais ( moeda local), no limite, imprimimos e pagamos.  Não rolávamos nossas dívidas no overnight na década de 80?  O único calote que existiu no Brasil não foi de dívida externa? Que conversa de downgrade é essa? Concluindo que hoje o Brasil tem 100% de capacidade de pagamento de suas dívidas e, com isso, pensar em downgrades ou mesmo levar um downgrade por qualquer indisciplina que seja, é hipocrisia, afronta e falta de respeito.

O Brasil tem inflação alta hoje em dia por vários motivos; leis erradas do passado, sofreu uma desvalorização cambial substancial nós últimos dois anos, um governo mais popular tirou 40 milhões de pessoas da miséria e retirou mais 30 milhões da classe pobre para a média, falta de infra estrutura, enfim, um monte de variáveis, mais isso "é normal".  A Coréia do sul ao desenvolver-se rodou inflações entre 5 e 9% ao ano por muitos anos e, com o passar do tempo e boas políticas criou bem estar social para o maior números de pessoas possível e hoje não tem inflação alta.

Adotar disciplina para que? Estrangular a população e os meios produtivos via impostos altos para que? Cortar dívidas para que?  Hoje vivemos na era dos bancos centrais, vivemos a economia que não é mais o estudo dos bens escassos e sim abundantes!!! ( o capital). Foquemos no bem estar social e em reformas para conter a indexação da economia e os vícios ligados a expectativa de inflação crônica, isso sim tem que ser feito e não ajuste fiscal algum. O dinheiro hoje é sem lastro e é criado ao léu.  

Eu "gostaria muito" de ver se "todo mundo" iria gostar de morar no UK se não houvesse segurança, educação, saúde e infra estruturas de qualidade altíssima.  Tudo isso é pago também com muito dinheiro do AR e dívidas e mais dívidas e mais dívidas ( Hoje o banco central do UK detém 40% de toda a dívida do país, funny enogh!!!). Lembrem, criando-se dinheiro / riqueza, cria-se dívida e se o dívida não é paga, ou não rende nada, ou roda a taxas negativas, isso não é riqueza. O endividamento é gigante no UK, por volta de 120% do PIB (Brasil tem dívida líquida de 36% do PIB), o UK vem rodando déficits ficais grotescos que já chagaram a 10% do PIB há alguns poucos anos e esse ano será de 5% do PIB ( querem o que pobre Brasil rode superávit fiscal de 1,2% do PIB) pode isso? Eu quero Brasil como o UK, eu quero Brasil Japão, eu quero Brasil Europa, se for para não seguir os livros de economia, o Brasil também quer o mesmo. Queremos o bem estar social para o maior número de pessoas possível, porque, claramente, no mundo não existe mais a tal da restrição orçamentária, isso fica para o museu de economia e não para debates de gente séria ou mesmo gente com um mínimo de inteligência.

3 comments:

  1. Vários pontos muito bem colocados no seu artigo. alto juros no Brasil, ajuste fiscal atual do Brasil no frigir dos ovos é troco (pocket change). Teço somente um comentário: em sua argumentação implicitamente você coloca EUA, UK, Europa e Japão no mesmo saco que Brazil. Infelizmente está misturando alhos e bugalhos, joio e trigo, etc.. Tudo se resume a confiança. O Brasil inspira alguma confiança? O fato dos países desenvolvidos poderem "imprimir" a solução de suas crises ("print their way out of the crisis") reside no fato de serem considerados "Reserve Currency" em maior ou menor grau. A história humana é repleta de exemplos que essa "solução" empoçada em liquidez não tem final feliz (Império romano, Coroa espanhola, França de Luis XV, Weimar Republic, nossa própria experiência de cruzeiro, cruzado, cruzado novo, etc...) seja por inflação ou default (renegociação de contratos financeiros e sociais), mas para países centrais (geopoliticamente e financeiramente) leva um período extremamente longo até o D-day, momento que estamos vivenciando hoje em dia e provavelmente continuaremos por muito tempo. Para países periféricos sem o mínimo de confiança esse tempo de maturação tende a zero. E não se deixe enganar de que imprimir dinheiro é o novo "holy grail" das finanças mundiais. It's all about timing...

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    1. Amigo, fico muito feliz que tenha lido o blog e comentado, é um prazer enorme para o joca, pepito101 e bugio de fogo.
      Quem precisa de alguma confiança no mundo de hoje é quem deve em dólares ou moeda estrangeira. O Brasil tem, em dólares, (reservas), quase 10 vezes mais que a dívida externa em dólar, ou seja, não precisamos de aceitação ou confiança, precisamos de legitimidade como "gente". O Brasil deve (liability) pouco em termos mundiais de bom senso e em termos de padrões ( standard) clássicos de medição macro econômica ( main stream media); temos das melhores demografias futuras do planeta e amigo, quem tem sua moeda, seu banco central, e nenhuma dívida externa, não pode ficar insolvente porque imprime, como já é o usual em toda parte do mundo. QE está em toda parte. Problemas de inflação? Historicamente, problemas de inflação estiveram ligados a oferta e não a demanda. Podemos focar em oferta nacional para impulsionar nossa economia. Não precisamos de aceitação, precisamos de cooperação mútua de amigos, não de carrascos. Já pagamos um pedágio de escravo com juros reais de 6%, uma piada de mal gosto que não deixa a economia respirar. Grande abraço, espero ter respondido sua pergunta, se não, por favor, reply. Dê uma olhada nos conceitos MMT, modern monetary theory, pode te ajudar, boa noite.

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  2. "Third, we may be headed into a world where capital is abundant and deflationary pressures are substantial. Demand could be in short supply for some time. In no big industrialised country do markets expect real interest rates to be much above zero in 2020 or inflation targets to be achieved. In the future, the priority must be promoting investment, not imposing austerity. The present system places the onus of adjustment on “borrowing” countries. The world now requires a symmetric system, with pressure also placed on “surplus” countries." By L. Summers
    http://larrysummers.com/2015/04/05/time-us-leadership-woke-up-to-new-economic-era/

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