Sunday 26 April 2015

Juro real, vergonha nacional, o Brasil e a vontade política.

Quando vamos a uma feira ou frequentamos super mercados, sempre temos a ideia de estarmos presenciando um mercado livre, aonde o estabelecimento ( loja)  A cobra mais caro do que o estabelecimento B, por qualquer motivo que seja, mas esse estabelecimento A ou B ou C é livre para cobrar "o que quiser". Essa é a ideia básica de como são formados os preços dos produtos nos mercados livres. Quando pensamos nas nossas finanças pessoais, entendemos bem nossos limites. Toda essa ideia de finanças pessoais entra em congruência com o mercado livre de preços nos estabelecimentos comerciais; sabemos que podemos acabar comprando menos ou mais porque o mercado correspondente de preços é completamente livre e, se pesquisarmos, por exemplo, vamos poder comprar mais barato. Mas e o dinheiro? Como é formado o mercado do dinheiro? Quanto custa o dinheiro e quem manda nesse preço? Eu me refiro a quanto custa o acesso ao dinheiro na economia; o juros cobrados no Brasil.  Esse preço é formado no mercado livre como o mercado de tomates? O preço do dinheiro é arbitrado, estipulado matematicamente, mensurado livremente pelo mercado? Ou seja, o dinheiro custa mais ou menos por causa da demanda maior ou menor ou oferta maior ou menor desse dinheiro como acontece com o mercado de tomates?  Pelo que notamos no mundo, o preço do dinheiro é ditado pelos governos e não escolhido pelo mercado e isso deveria ser de total interesse da sociedade. É por isso tudo, que acho os juros reais no Brasil absolutamente inexplicáveis, distorcidos, altos demais!!! Como é possível um sistema econômico hoje em dia, avaliar o capital de maneira tão benevolente relativamente as horas trabalhadas por uma pessoa? O capital no Brasil é o mais valioso do mundo em termos de comparações as horas trabalhadas por pessoas na economia brasileira, isso tendo em perspectiva essa mesma comparação ( capital vs trabalho) com "qualquer" outro lugar do mundo. Muitos falam que o Brasil é caloteiro e, por isso, seu juro é alto, ou é alto por causa de suas instituições fracas, vale ler o texto do blog abaixo, esse tema é amplamente "explicado". http://itisallabiglie.blogspot.com.br/2015/04/o-brasil-merece-esse-tratamento_7.html .

Vamos tentar desmistificar certas ideias. Muitas pessoas falam que o Brasil é caloteiro e que deve sofrer por esses calotes por tempo indeterminado. "Um caloteiro não deve ser bem tratado"; é isso que um analista financeiro brasileiro comum vai falar para um pessoa comum. É de interesse nacional entendermos que calotes governamentais vem acontecendo ha tempos e tempos e nós brasileiros não somos a exceção e sim a regra no mundo. De 1800 até hoje, por volta de 70 países deram calotes governamentais / soberanos. 70!.  E detalhe, 70 países e mais de 160 calotes governamentais na história do mundo aconteceram desde de 1800.  No grupo dos caloteiros de aproximadamente 70 países, vimos em destaque, nas Américas: Chile, Canada, México.  Na Asia: China Japão, Índia.  Na Europa: França, Alemanha e Dinamarca. Ou seja, a fama de caloteiro do Brasil tem que ser revista, porque calotes vem acontecendo ao longo da história aos montes e pelo mundo inteiro.

Voltemos ao mais importante, que é, a vontade política de patrocinar x ou y taxa de juros em um determinado país, mas vamos falar principalmente do Brasil que aceita juros absurdamente altos, gastando aproximadamente 23% da arrecadação apenas para pagar os juros / serviço da dívida. A dívida brasileira nem grande é, quando comparada a maioria maciça das dívidas dos países do mundo, mas sua despesa / serviço da dívida é astronômico, pois o juro é altíssimo. Como falei, existe um gap ( estranha diferença de preço) entre o preço do trabalho e o preço do dinheiro / capital na economia / sociedade brasileira.  Não é possível que uma pessoa que, por exemplo, possua R$300.000 reais no banco ou $100.000 dólares, ganhe só de juros acima da inflação, juros real, R$18.000 reais líquidos em 1 ano em uma aplicação, ou seja, sem se descapitalizar ( contra a inflação), essa pessoa ganha aproximadamente 2 salários mínimos por mês apenas por possuir esse dinheiro, ou, fazendo absolutamente nada. Contando com juro total ganho dessa aplicação básica / "sem risco", essa pessoa ganha R$36.000 reais por ano ( falo do juro nominal também porque a inflação a descontar é muito particular, cada pessoa / família tem uma inflação diferente). Esse juro brasileiro é um absurdo e fora de propósito.

Como é que a economia brasileira vai para frente na presença de juros reais tão altos? A despesa financeira "mata" "qualquer" negócio no Brasil.  Eu sei que existem muitas outras mazelas no funcionamento sistemático do Brasil, infra estrutura ruim, impostos complicados, mão de obra desqualificada etc etc, mas notem; a despesa financeira é algo que o governo faz conosco, simplesmente por vontade própria, ou pior, por ignorância. Os governantes brasileiros acham que o mercado vai puni-los por algum motivo que não existe nessa magnitude em nenhum lugar do mundo. Não ha motivo algum que indique que o Brasil precise pagar o maior juros real do mundo.  Eu gostaria, nesse texto, de chamar a atenção sobre essa variável super cara para o orçamento de todos nós brasileiros, o custo do dinheiro no Brasil, os juro altíssimo.

Se pagássemos juros reais ( acima da inflação) semelhantes aos do mundo todo, economizaríamos por volta de R$70 bilhões de reais por ano. O governo, hoje tenta economizar $1 bilhão aqui, $5 bilhões ali, e pode, com um simples "decreto" ( não precisa e nem é para ser feito de uma vez só, mas pode ser feito rapidamente, ao longo de vários meses) economizaríamos R$70 bi por ano!. Quanto desenvolvimento não poderíamos "comprar" com esse dinheiro todo o ano?  "Aaaaaaa, mas a inflação vai "explodir", e o crédito vai "explodir" se os juros caírem!!!" Conversa fiada!!!.  Mil desculpas a quem pensa dessa forma.  A correlação entre juros e inflação no Brasil é fraca ha N anos, e nem "ha correlação" entre juros baixos e altos e a sessão de créditos no Brasil ha N anos, pois o crédito público entrou em cena de maneira forte. E para completar, a correlação entre juros e inflação no mundo ha N anos é fraquíssima.  E pior, não existe teoria de inflação alguma no mundo que seja de algum uso prático, são todas teorias "furadas". Vale ler o texto do blog sobre inflação.  http://itisallabiglie.blogspot.com.br/2014/11/a-engenharia-da-inflacao.html .

Quem dita certas coisas das mais importantes não são o mercados e sim os políticos, o preço do dinheiro é um deles. O que poderia explicar taxas de juros negativas na Europa, depois que os governos aumentaram brutalmente suas dívidas e seus déficits fiscais após 2008, se não a vontade política?  Não houve uma corrida gigante por crédito / poupança porque todo mundo queria pedir emprestado ao mesmo tempo após a crise de 2008? Por que o juros foi para zero e não para cima como os teóricos sempre clamaram? Por que não houve inflação e sim deflação? Mais uma vez, estamos brincando com a sociedade brasileira continuado a pregar teorias que só vão servir para um museu de economia e que hoje, não valem "nada". Vale ler o texto do blog que fala sobre esse tema, http://itisallabiglie.blogspot.com.br/2015/04/o-brasil-e-teoria-monetaria-moderna.html .

A sociedade tem que entender que o preço do dinheiro, é uma função única e exclusiva da vontade do estado, porque o governo faz as leis e o preço do dinheiro hoje, no mundo, é uma lei e não determinado por mercados livres. Não adianta tentar acreditar que os juros são uma variável que depende da oferta e procura por dinheiro, pois, isso não acontece no dia a dia, quem decide o preço do dinheiro, os juros, é o governo. Não seria melhor retirar o banco central da decisão sobre o juros e deixar o mercado livre decidir?  Afinal, não são os agentes dos mercados desenvolvidos no mundo a favor de total liberdade e liberalismo? O governo pode não ter o controle total sobre a oferta do dinheiro no curto prazo ( pois bancos criam dinheiro via criação de empréstimos) e isso faz diferença, mas o preço do dinheiro, ou juros pagos pelo governo, juros básico de uma economia, o controle, a decisão é totalmente do governo.

A taxa de juros no Brasil nos últimos 10 anos esteve em 15%, esteve 10%, esteve 13%, esteve 8%, esteve 13% e a inflação ( medida pelo IPCA) foi na média sempre entre 4,5% e 6,5% ( absolutamente controlada e fora de qualquer correlação relevante com o juros pagos pelo governo).  Entre 2005 e 2007, houve queda de juro de 18.5% para 11.5% e a inflação nos vários anos seguintes ficaram entre 5% e 6%.  E o Crédito? Mesmo na presença dessas oscilações grandes de taxas de juros, o crédito cresceu em linha reta para cima "ininterruptamente" nos últimos 10 anos. No final dessa expansão / "ciclo", é claro, o crédito privado foi retraído, pois a correlação entre juros, atividade econômica e crédito privado é real, mas quando o setor público entra dando crédito até de forma subsidiada, ou contrai o crédito por vontade política, a correlação cai brutalmente. Por que nosso governo finge estar combatendo a inflação via o aumento de juros?  É por que não entendem o que eu acabei de explicar nesse texto? É por complexo de inferioridade, como se aqui no Brasil houvesse mazelas que não existem no exterior?  Ou é porque os intelectuais, os catedráticos continuam a pensar nas teorias antigas de economia, que não valem mais para nada, e continuam a pensar que existe uma poupança finita pré estabelecida e que, por isso, o setor público e privado precisam concorrer por esses fundos no mercado interno e externo? Que besteira! Como já foi amplamente explicado, não ha limite para um governo "estável" em termos de aceso ao dinheiro, o único limite é a inflação.

Como é que os EUA, Europa, Japão e UK criaram tanta dívida em tão pouco tempo nos últimos 6 anos e os juros só caíram, se não por vontade política? Como é que o Brasil, Russia e China compraram tantas reservas internacionais nos últimos 6 anos, se não por vontade política? Novamente, como explicar taxas de juros negativas na Europa hoje, se não por vontade política? Pois é, o dinheiro apareceu nesses países e ainda o dinheiro apareceu bem barato; foi o custo do dinheiro que esses governos decidiram pagar. A inflação faz diferença no preço do dinheiro ou juros? Sim, claro, se a inflação é baixa o juros podem ser baixos "em tese" ( esse tema vale escrever um outro texto). A inflação é importante, mas o problema é que, lembrando, eu estou falando em juros real no Brasil ( juros pagos acima da inflação) o juros no Brasil é aproximadamente 13% e a inflação do ano que vem, vai ser, no máximo 6%, ou seja, é um juro real absurdo.  Podem falar que esse ano a inflação está maior, mas é só olhar a média da inflação dos últimos 10 anos e a média das expectativas da inflação para os próximos 10 anos, que veremos que esse ano de 2015 é um ano fora do normal ou outlier em termos de inflação.

O governo brasileiro acha que resolve grande parte de seus problemas com os juros reais mais altos do mundo e compromete seu desenvolvimento por causa de crenças erradas.  São $70 bilhões gastos "de bobeira" em juro real pago a mais do que deveríamos pagar, isso, só para estarmos em linha com o resto do mundo.  Mas e o dólar, não iria subir brutalmente se os juros caíssem tanto? Bem, entre 2005 e 2008, o juro só caía e o dólar só caía no Brasil; ninguém queria comprar dólar mesmo no período em que a taxa de juros básica no Brasil caiu de 18.5% para 10%. Ou seja, depende muito da situação do mundo e, com isso, a correlação ensinada pelos intelectuais de plantão sobre essas duas variáveis, juros e o preço do dólar também é fraca.  O Brasil tem é que tomar vergonha na cara, expor sua tese, e, com certeza, cair esse juros real maluco, principalmente agora que não ha inflação de demanda e a economia está em recessão. O Brasil tem N mazelas, mas com certeza, a mais fácil e lucrativa de resolver é cortando esse juros real que "usurpa" e "ancora" a economia, acorda Brasil!

Monday 20 April 2015

O que é o dinheiro? O que é o QE? O Brasil e o desenvolvimento

O que é o dinheiro ou o que é riqueza financeira? Da onde vem o dinheiro e de quem é a responsabilidade sobre a criação desse dinheiro? Essas são perguntas que, depois de mais de 170 anos, o parlamento do UK resolveu discutir, mas pouco se avançou, após tal debate. (Vale ver, https://m.youtube.com/watch?v=EBSlSUIT-KM&feature=youtu.be ). Incrivelmente, o parlamento inglês estava bem vazio, porque poucos membros da elite política do UK sequer sabiam debater tal tema. Não seria de total e absoluta vontade da sociedade saber exatamente o que acontece com o dinheiro, da onde ele vem e para onde ele vai?  A democratização desse dinheiro não seria o maior objetivo do governo via o pleno emprego a "todo custo"?  Os políticos mais preparados para discutir assuntos importantes no mundo sequer entendem o básico sobre o dinheiro e para completar, economistas PHDs e muitos dos próprios membros escolhidos para dirigir o FED, banco central americano, também não sabem muito bem o que se passa com o dinheiro e qual teoria a adotar sobre o dinheiro e a sua criação. O que é o QE que aparece nos jornais intensamente desde a crise de 2008? QE ajuda, realmente, a economia a melhorar? Será que o conceito de "print money" QE, imprimir dinheiro, não está equivocado? O resto do mundo não faz QE também?  Será que, não é uma eterna dívida crescente que move a economia do planeta terra? E o Brasil, não deveria se espelhar em economias como a chinesa e se beneficiar em termos de desenvolvimento relativo? 

O Estado / Governo é o monopolista na criação de notas e moedas, ou seja, o governo é monopolista da criação do dinheiro e se responsabiliza por esse dinheiro criado. Contudo, moedas e notas são uma pequeníssima parte do dinheiro total do planeta, a grande maioria do dinheiro está em forma de depósitos bancários. No UK, por exemplo, apenas 3% do dinheiro total está em forma de notas e moedas e no mundo todo é isso acontece. Quando um banco privado cede um empréstimo, esse banco cria um depósito bancário na conta do tomador do empréstimo, com isso, o banco criou dinheiro na hora, ou seja, vivemos em um sistema híbrido entre estado / governo e os bancos privados, pois quando um banco privado cria um claim ( uma revindicação financeira sobre um devedor) ele está criando dinheiro.  Não seria de interesse total da sociedade saber como é o processo ou como foi o processo de escolha de quem, além do governo, vai poder criar dinheiro como o estado faz?  Não seria de total interesse da sociedade querer saber se esses mesmos banqueiros estão servindo a algum propósito econômico - democrático?  Por que, quando os bancos iriam quebrar em 2008 no mundo desenvolvido, não podiam quebrar, se não, "a civilização iria acabar"?  Se existe um setor na economia que não pode quebrar de forma nenhuma, não deveria ser melhor esse setor estar nas mão do governo ou, pelo menos, ser altamente regulado pelo governo?  Não é lamentável o setor privado financeiro ter aproveitado/ ganho, bônus milionários por anos e anos até chegarmos em 2008, quando a sociedade teve que pagar quase que a conta total de apostas irresponsáveis do setor financeiro privado?

Como foi escrito em um outro texto do blog, dívida pública, nada mais é do que déficits fiscais acumulados. O governo gasta mais do que arrecada ao longo do tempo e pronto, um déficit está formado / criado, e dinheiro é criado. Todos os países do mundo têm dívida pública ou escolhem ter dívidas diversas.  Vale ler, (http://itisallabiglie.blogspot.com/2015/02/requerimento-de-legislacao-para-atenuar.html ) Como o dinheiro aparece? Da onde saiu o dinheiro para financiar esses déficits dos governos? Da poupança externa? Da poupança interna? É necessário poupança? É até bonito falar que um dinheiro americano ou europeu tenha vindo financiar um déficit no Brasil, mas fato é, dinheiro, em sua base de criação como instrumento de pagamento, só se cria com dívidas e com a presença dos bancos centrais.  Em situação de déficit fiscal, ou a situação comum, o tesouro gasta com o dinheiro que o banco central criou imediatamente; o banco central deposita o dinheiro na conta do tesouro para o gasto referente do tesouro; o dinheiro gasto pelo tesouro em qualquer que tenha sido o bem ou serviço, no final do dia, vai "dormir" em algum lugar ( banco) e, assim, uma dívida é criada, pois o sistema nacional público cria um título de dívida e paga uma remuneração ao dinheiro criado, o dinheiro é acomodado no final do dia para render algo, business as usual.  Imagine que o tesouro paga a conta de um café, a dona da cafeteria vai chegar ao fim do dia e depositar esse dinheiro no banco para não ficar parado ( sem rendimento), isso acontece em todas as operações de compra e venda de uma economia.  

Quando os bancos privados nos EUA e em outras partes do mundo desenvolvido foram quebrar em 2008, um instrumento foi e é usado pelo FED , banco central americano ( é usado também no mundo inteiro e de maneira muito relevante), algo que foi tratado como não convencional; o tal do QE que aparece a toda hora nos jornais desde 2008, ou "quantitative easing".  Mais QE é, realmente, criar dinheiro novo, ou o que segurou a economia americana do colapso foram os $5 trilhões a mais de dívidas via déficits fiscais acumulados em 5 anos?  QE não faz nada de mais porque não compra bens e serviços na economia, QE ( criação de  dinheiro) compra ativos financeiros, principalmente dívida pública. O dinheiro criado compra outro dinheiro já criado, por que? A dívida pública já vale como dinheiro. Qualquer pessoa tem poder de compra ou de tomar crédito imediato com um título público nas mãos, ou seja, dívida pública vale como dinheiro. QE, sim, diminui o preço do dinheiro no longo prazo ( crédito de longo prazo), pois o banco central geralmente compra títulos de longo prazo forçando as taxas de juros longas momentaneamente a caírem, mas como isso é feito?   

Banco A tem, dentro do FED, banco central, um securities account e um reserve account ( conta títulos e conta dinheiro).  Quando o FED compra o título do banco A, o que faz é, simplesmente, debitar o securities account do banco A e creditar a reserve account do banco A ( reserve = dinheiro imediato, depósito bancário).  Ou seja o net ( o que sobra), ou o movimento feito, gerou zero de dinheiro novo, pois o título comprado que saiu de circulação e foi "depositado" no FED já valia como dinheiro no dia anterior a ser comprado.  As pessoas só falam que QE é dinheiro novo ou imprimir dinheiro porque os economistas ou membros dos governos só contam como dinheiro o reserve account, a conta dinheiro imediato ou cash.  Porém, entretanto, contudo, crédito público / dívida pública vale como dinheiro e, com isso, ambas as contas dos banco A, B, C, D etc dentro dos bancos centrais deveriam ser tratadas como dinheiro. Deveras, o que foi de grande importância na crise de 2008, foi o déficit fiscal criado nos EUA e não o QE em si. O QE facilita a tomada de crédito mais longo, mas se não houver demanda por crédito pelo setor privado, não adianta.  Mas o que o QE e o déficit fiscal estão fazendo no mesmo texto?

Uma das medidas mais importantes e eficientes para os EUA saírem da crise, foi a geração de déficits fiscais ( governo gastar mais do que arrecada)  trilionários  ao longo de 5 anos.  Incrível, mas os EUA geraram déficits fiscais a volta dos 10% do PIB após a crise de 2008, algo absolutamente impensável, porém foi necessário, e essa dívida, na verdade, poderia estar até maior e ter evitado a dor de muitas famílias americanas. O QE apareceu nos EUA em um momento em que o governo americano esteve precisando vender muita dívida pública nova e os compradores externos não queriam comprar mais treasury ( dívida americana) por causa da crise, com isso, os bancos americanos teriam que ser os maiores compradores desse déficit novo e gigante para salvar a economia e isso aconteceu na Europa, UK e Japão em grandes proporções. Ou seja, o banco central "forçou" os bancos americanos a comprarem títulos públicos, pois o banco central estava transformando / comprando a dívida existente em dinheiro imediato sem rendimento, esse dinheiro ou reserva bancária acabaria sempre tendo que render de um dia para o outro e, com isso, o banco que vendeu a dívida pública em carteira para o banco central, acabava comprando um título público novamente, pois o dinheiro tem que dormir rendendo em algum lugar, "se não é prejuízo".  Ou seja, o QE ajudou, pois existia uma necessidade de vender muita dívida nova, e havia, na verdade, muito pouco dinheiro imediato para esse gasto tanto no setor privado quanto no externo.  Concluindo que, é uma lenda a ideia de que dívidas só podem ser criadas através de uma poupança pré existente, seja ela interna ou externa. Dinheiro se cria, não estamos mais no padrão ouro, aonde existia a restrição da quantidade de ouro em circulação. Não é por menos que o valor do déficit fiscal americano acumulado dos últimos anos é muito semelhante ao tamanho do balanço / posses do FED, banco central americano, o tamanho das compras que o FED fez com dinheiro criado é proporcional a dívida criada. 

E no Brasil e no mundo? O Brasil é casta baixa, como já foi dito em outros textos do blog. Acusam-nos de termos instituições fracas, de sermos absolutamente corruptos, apontam o dedo para o nosso déficit,como se dependêssemos da poupança de alguém e quando quase todos os outros países rodam déficits fiscais ao mesmo tempo. Tentam justificar os juros absolutamente altos no Brasil clamando teorias econômicas que não se aplicam mais na prática, como foi amplamente explicado em outro texto do blog. Falam até da dívida brasileira que é das menores dentro do grupo das grandes economias mundiais. Essas idéias contra o Brasil não passam de grandes leviandades; o Brasil tem 1000 problemas, mas relativamente a outros países, é dos melhores em termos econômico financeiros. Os juros absolutamente altos no Brasil são justificados depois de tantas explicações sobre o dinheiro? O Brasil não precisa de superávits e poupança; ideia que tentam nos convencer que precisamos como se houvesse uma escassez de capital para executar algum projeto. Não é um absurdo todo esse juro real na economia brasileira? Enfim. 

Mas falando de QE no Brasil com exemplo. Lembram quando o dólar perdia valor "todo dia" no Brasil por alguns anos, há tempos atrás? O Brasil também fez QE.  Quando sobravam dólares no sistema financeiro a uma determinada cotação, ou o BC, banco central, tomava a decisão de deixar a cotação do dólar cair ou comprava reservas internacionais / dólares.  Se o governo não tivesse comprado nenhuma ou pouca reserva, o dólar teria caído muito mais rápido naqueles anos. O Brasil comprou $370 bi em reservas? QE é a reposta. O banco central cria uma reserva bancária em Reais para o vendedor do dólar e coloca os dólares no seu balanço, mas a contra partida é que esse dinheiro criado em Reais vai ter que "dormir" rendendo em algum lugar (banco), e esse lugar, no Brasil, se chama CDI e custa 13% ao ano.  O importante é notar que o processo é o mesmo dos outros países, cria-se uma reserva bancária no computador que vira dívida no final do dia, pois o país paga uma taxa de juros no seu sistema financeiro em moeda local para acomodar esse dinheiro novo. Novamente; o dinheiro se cria em toda a parte do planeta.

Dívida é riqueza, dívida é dinheiro, dívida vale como dinheiro, dívida vale como riqueza, o problema é que existe muita dívida privada e se não houver mais déficits público, o setor privado jamais será apto a mover as economias com consistência e, pior, vamos ver crises atrás de crises, pois os calotes privados vão aparecer.  O setor privado tem limites, o limite do setor público é apenas a inflação e não a criação o dinheiro novo. O sistema privado  funciona como a conta de uma família, se acabar o dinheiro não tem jeito, a não ser que o setor público salve a situação como aconteceu em 2008.  Notem que, déficit publico é gasto, ou seja, é renda privada, da mesma forma que dívida pública, ou estoque de dívida pública / dinheiro é riqueza privada acumulada, se você shut down / desligar o setor público ou querer diminuí-lo, vai estar fechando a torneira ao desenvolvimento econômico.  O Brasil deveria se espelhar na China e não deixar de se desenvolver por causa de limitações que não existem. Não precisamos de poupança, precisamos de liderança política. A China entendeu muito bem e possui dívidas públicas homéricas via sua instituição e seus bancos. Os ativos financeiro da China saíram de $9 tri de dólares em 2008 para $27 tri de dólares em 2014 e o desenvolvimento aconteceu sem poupança pública e privada de país algum ( a poupança chinesa é insignificante em relação ao dinheiro / dívidas criadas nos últimos vários anos).  Vamos acordar para o fato de que exitem riquezas em formas de terras, de equity ( participações em empresas) e riqueza financeira, essa riqueza financeira, nada mais é do que a dívida de outros.  Será que as pessoas são tão ricas assim? Vamos acordar; o que leva uma economia para frente hoje em dia é mais dívida e mais déficits fiscais e não ao contrário. Acorda Brasil!!! 

Wednesday 15 April 2015

Dick Tatorship

April 15th 2015. Mr Draghi was glitter-bombed. End the ECB dictatorship! One wonders how those institutions originally conceived as a discretionary mechanism to stabilise the banking systems arose to such a position. The amount of power bestowed on them is so tremendous that from a certain perspective they have become the dominant political power in most democracies. It does not matter that they dress themselves with technocratic robes, their decisions are political in the strictest sense of the word: their consequences affect asymmetrically different constituents of a society. They choose winners and losers. Without accountability, without representation. Why do democracies accept this? Let others argue about this. Let us tell the short history.

The single event that catapulted economic bureaucrats to the centre of political power was certainly the disruption of the Bretton Woods monetary system in the early 1970s. What followed was a traumatic and chaotic experience that ended with the elevation of central bankers as the ultimate guardians of money. Not that anybody had any idea of what money was. It must exist in an orderly form. Bureaucrats then argued: we do not need to understand the nature of money; rather we must play an active role in controlling its effects. How? Creating an environment of a relatively high unemployment where demand driven inflation does no arise. From stewards of the banking system to guardians of money to active policers of business conditions. This was not sufficient. Since they have an active role, they can implement those economic policies necessary for the attenuation of the periodic economic business cycles.  Fiscal policies are anathema. This was not sufficient. Since from now and then the banking sector create delicate credit crises why should they resume themselves to provide liquidity of last resort to the banking system. They could prevent such an outcome by acting preemptive and minimising the risks of a vicious full-blown credit crisis. This was not sufficient. If their preemptive actions was not enough to prevent the unfolding of the credit crisis they should have enough power to interfere directly in the financial companies providing explicit or implicit guarantees on their liabilities and broke artificial acquisitions in order to stabilise the banking sector. They could even decide which companies should survive and which should not. This was not sufficient. Here comes Mr. Draghi: they should have enough power to discriminate at will those countries that should suffer from those that should receive “whatever it takes” grace. Is this sufficient or not? We know the pattern. Let everyone decide for himself or herself. They usually grant themselves power when “needed”.


The irony is that at the same time they have so much power and so little. So many responsibilities and so few instruments. The underlying ideology is that money, and only money, can fix everything. What we have seen in the last of couple of years is that money is insufficient to fix anything of magnitude. We are facing the consequences of a dual anomaly. The banking system is incapable of pursuing its economical function of providing capital to credible enterprises and financing to creditworthy consumers; the corporate sector is incapable of pursuing its economic function of reinvesting their profits, in the interests of their stake holders, in order to provide continued economic development. We might invoke a third anomaly: the incapacity of financial markets participants to recycle capital efficiently, but this is a matter for another blog post. These anomalies should be addressed directly. By proper political actors. They involve deep vested interests and affect us all. They will not be fixed by money. We echo the activist mantra: let us bring back democracy to the table. If it is necessary to reform our monetary system and its institutions let us face the challenge. 

Tuesday 14 April 2015

Sobre iPhones e Cabeleireiros

Inflação e produtividade são dois conceitos particularmente problemáticos. Pela mesma razão: eles derivam da comparação do incongruente. Um iPhone e um corte de cabelo não são exatamente dois bens comensuráveis. É necessária uma abstração: de que em última instância o grosso do valor de uma mercadoria é definido pela quantidade e qualidade de trabalho empenhado nela. Noutras palavras, os outros tantos fatores subjacentes, tais como remuneração do estoque de capital físico e intelectual, marcas, poder de barganha, dentre outros, são de alguma forma secundários à monta de trabalho no processo produtivo. Mais do que isso, existe o pressuposto de que as diferentes formas de trabalho são comparáveis entre si e são de alguma forma proporcionais à produtividade subjacente. Mesmo quando este trabalho é realizado noutra economia! O iPhone é certamente um grande exemplo: o trabalho efetivamente empenhado é provavelmente a variável de menor relevância em seu valor final. Existe a marca, existe a infinidade de patentes nos componentes e no software, que nem de longe preservam alguma proporcionalidade ao estoque de esforço humano subjacente, existe muita energia, que em tempos recentes e por razões que não convém discutir aqui, é negociada a múltiplos elevados do custo médio de produção, e finalmente há algum trabalho manual. Muito pouco trabalho manual. No processo de manufatura, no transporte, no varejo. Não obstante, eles têm que ser comparados para se definir de forma adequada a inflação e a produtividade.

Note que refiro-me a inflação e não a custo de vida. Inflação não é custo de vida. No processo de desenvolvimento de uma economia, é natural esperar que a valor remunerado a trabalho comparável convirja em algum horizonte de tempo aos valores praticados nas economias desenvolvidas. O cabeleireiro americano não é mais produtivo que o cabeleireiro brasileiro. O que distingue sua remuneração relativa é outro fator que deveria desaparecer no processo de desenvolvimento da economia Brasileira. A única forma de uma economia se desenvolver sem inflar nominalmente o custo de vida seria através de um processo contínuo e duradouro de apreciação das taxas de câmbio. Mas isto raramente ocorre. Por uma razão muito simples: tipicamente numa economia em desenvolvimento as assimetrias de remuneração são muito maiores na média do que no topo. Um processo contínuo de apreciação cambial muito rapidamente levaria a níveis de remuneração dos mais ricos a um patamar superior ao praticado nas economias desenvolvidas. A não ser que a remuneração do topo caísse em termos nominais. Acontece que isto é muito difícil. É lícito supor que o desenvolvimento se dá pelo caminho com menos atrito, e este é pela elevação do custo de vida. Se isto é incorporado ou não numa medida de inflação é problema metodológico. Não deveria. Inflação não se trata disso, mas de um fenômeno completamente indiscriminado e mais ou menos determinístico de elevação dos níveis de preço. Não de variações de preços relativos.

Mas o que distingue o corte de cabelo do iPhone enquanto processos produtivos? A colaboração do capital. Um cabeleireiro hoje não é nada diferente de um cabeleireiro de 20 anos atrás. Ele, em tese, não é nem mais nem menos produtivo do que antes. O iPhone sequer existia 10 anos atrás. O processo de manufatura revolucionou-se por completo nos últimos 20 anos. Tornou-se obscenamente intensivo em direitos de propriedade intelectual em detrimento do trabalho. De um lado temos ganhos insignificantes de produtividade e do outro um ganho estapafúrdio de produtividade. O conceito de produtividade tornou-se obsoleto. Nada mais do que isso. Noutros tempos foi útil. Hoje cria mais problemas do que esclarecimentos. Ainda assim, desenvolvimento econômico trata-se de alguma forma de prover mais bens e serviços por quantidade de trabalho. Numa economia na qual uma parte da mão de obra é empenhada sem praticamente auxílio algum de tecnologia e outra parte é empenhada com níveis obscenos de tecnologia, existe um caminho aparentemente seguro rumo ao desenvolvimento: deslocar a força de trabalho de uma classe de atividade para outra.

Mais fácil falar do que fazer. Existem ocupações de baixa produtividade (neste sentido de uso da tecnologia) porque tais atividades são demandadas. E a demanda agregada por tais atividades é extremamente dependente do nível de renda dos mais ricos. Deveras, a chamada classe média alta cria uma demanda totalmente desproporcional por serviços tecnologicamente improdutivos. Domésticas, porteiros, babás, garçons, motoristas, manobristas, vendedores, consultores financeiros, tratamentos estéticos, psicólogos, professores, etc. Em sociedades particularmente desiguais como a Brasileira estas distorções são especialmente sensíveis. Os cinco por cento mais ricos detém algo da ordem de 45% da renda total. Que são desproporcionalmente despendidos em atividades tecnologicamente improdutivas. E eis a armadilha brasileira: a fração da renda dos 5% mais ricos não caiu, antes subiu. O fenômeno de redistribuição de renda deu-se unicamente entre a longa cauda dos mais pobres e o que era genuinamente a classe média. E saciou-se pela oferta de bens de consumo importados e pelo elevado nível de subemprego prévio. A demanda pelo trabalho tecnologicamente improdutivo criada pelos mais ricos não perdeu importância. Claramente este processo esgotou-se. O futuro desenvolvimento brasileiro depende necessariamente da queda da participação dos mais ricos no monto da renda total. Quer pela competição, quer pela tributação, quer pela diminuição da rentabilidade da riqueza. De alguma forma isto tem que acontecer. Caso contrário entraremos noutro período de prolongada estagnação.

Sunday 12 April 2015

O Brasil e a teoria monetária moderna





A sociedade quado pensa em medicina de primeira classe, pensa nas ultimas tecnologias a disposição da população, pensa que médicos estão o tempo todo estudando e fazendo pesquisas para melhorarem essa medicina; isso acaba que é uma realidade.  Contudo, curiosamente, essa mesma sociedade deixa de lado algo crucial e não se atenta a ideia de que a teoria econômica está emperrada / parada ha muito tempo; a teoria econômica não evoluiu nos últimos 50 anos. Na prática, "nada realmente  importante" da teoria econômica "moderna" acadêmica se aplica hoje. Os estudos sobre o dinheiro deveriam ser prioridade em uma sociedade e muito mais debates sobre a criação de dinheiro e o bem estar social deveriam acontecer. Na prática, a população acaba caindo na armadilha de pensar que o bem estar social está de certa forma limitado a esse "dinheiro" que é escasso.  A escassez do dinheiro e a restrição orçamentária parece óbvia, pois fazemos sempre a comparação com nossa família ou com o setor privado que, realmente, têm restrições ao dinheiro; mas para um governo soberano isso não se aplica. O dinheiro, na verdade, é ilimitado para um governo soberano e isso deveria ser debatido com afinco.  Essa "incrível verdade" ficou muito mais evidente durante e após a crise financeira de 2008.  Hoje o Brasil sofre com a tal restrição orçamentária, será que isso é justo?  Será que o Brasil não pode pensar diferente? Ou pensar parecido com a China?

O mundo viveu "5000 anos" com uma restrição real de dinheiro (restrição monetária), essa restrição aparecia na forma do padrão ouro.  "Financeiramente falando", do "início da história" para frente, o ouro escasso era a referência para a criação de dinheiro e gastos de um governo e para o setor privado. Como o ouro era escasso, realmente existam restrições de dinheiro ou ao poder de compra em um governo. Até 1971, dólares americanos tinham valor intrínseco, esse valor intrínseco era o ouro depositado no FED, banco central americano.  Pessoas poderiam literalmente pegar o ouro no banco central e levar para casa e isso era ótima garantia, pois a população havia vivido 5000 anos pensando em ouro; algum colateral para o dinheiro ou depósito bancário era ótimo.  Depois de 1971 isso não era mais verdade e o sistema de moeda Fiat tomara forma.  Moeda Fiat é a moeda que tem valor porque o governo aceita como pagamento de impostos e porque o governo diz que, legalmente, os contratos podem ser liquidados nessa nova moeda sem colateral em ouro, nada mais do que isso.  O dinheiro depois de 1971 virou uma promessa do governo e não algo tangível como ouro.  O mundo que via o dólar como a moeda reserva de valor, não teve outra opção mas manter essa ideia, pois todo o sistema financeiro mundial após a segunda guerra havia sido organizado em termos de dólar americano. O dólar passou a ser, na teoria, igual as outras moedas, sem colateral tangível de valor. 



Os políticos, a mídia, os participantes do mercado não notam, ou esquecem que quase 100% da teoria econômica do mundo foi escrita antes de 1971 e como existia a restrição monetária do padrão ouro, aplicar teoria econômica antes e depois de 1971( criação da "nova moeda reserva" Fiat currency) faz uma enorme diferença. Isso ficou evidente, inclusive, no ótimo artigo ( http://itisallabiglie.blogspot.com.br/2015/03/sobre-os-aforismas-economicos.html ).
Nem "vamos perder tempo" falando de teoria econômica clássica e partamos logo para o "keynesianismo neoclásssico"  Afinal, governos podem ficar sem dinheiro?  Existe mesmo uma restrição orçamentaria para um governo?  Governos têm que pegar emprestado para financiar seus gastos? Existe uma poupança pré definida a todo momento que restringe os gastos, pois não se pode gastar sem haver uma poupança ou dinheiro anterior?  Se os governos pegarem dinheiro emprestado eles estarão mesmo competindo por fundos com o setor privado e essa demanda por dinheiro faz as taxas de juros subirem?  Rodar um déficit fiscal é preocupante ou ruim para uma economia?

Não vou aqui nesse documento querer explicar toda a teoria monetária moderna, mas acredito que o conjunto de documentos nesse blog vai acabar explicando-a muito bem. Hoje tenho por objetivo, falar do básico do básico, como o início desse artigo já indica.  Antes 1971, quando o banco concedia um empréstimo, ou quando o governo iria gastar, ambos tinham que ter em mente que aquele dinheiro ou depósito criado, teria que, obrigatoriamente, em parte, estar depositado em ouro no banco central dos EUA, com isso, tudo era restrito e o capital realmente era escasso.  Após 1971 a restrição do ouro desapareceu, com isso, o limite de um governo não passa mais pela ideia de insolvência desse governo e sim pelo perigo de inflação. A inflação potencial é o limite, não existe mais restrição a quanto de moeda ou depósitos um governo pode emitir, ou quanto possa gastar.  Como o governo pode emitir quantidades de dinheiro ou depósitos ilimitadamente, logo a probabilidade de calote de um estado soberano que tem dívidas apenas em sua moeda é = a zero.  

Rodar um déficit fiscal monstruoso é problema se a inflação for baixa? Claro que não. Rodar déficit fiscal monstruoso gera inflação com certeza? Algo que temos que entender é que todos os governos têm dívidas e a dívida nada mais é do que os déficits fiscais acumulados ao longo do tempo.  Quando o governo gasta mais do que arrecada, o banco central credita a conta do tesouro nacional ilimitadamente, não ha restrição a não ser que essa restrição seja uma lei do país, uma lei que o país está impondo em si próprio e não por causa de alguma restrição real, como existia na época do ouro que tinha oferta limitada.  Quando o governo gasta esse dinheiro, em algum bem ou serviço, o dinheiro, no final do dia é depositado em um banco para obter alguma rentabilidade via um CD, por exemplo ( certificado de depósito bancário) ou o dinheiro é aplicado em algum título do governo. Caso esse dinheiro não seja de uso dos bancos e sobrem no sistema, o banco central emite títulos públicos para acomodar esse dinheiro e isso vai somando a dívida pública.  É por isso que as taxas de juros no mundo em geral são tão baixas, as dívidas / riquezas ( contra partida da dívida) são tão grandes que o dinheiro fica sobrando no sistema no overnight, muito dinheiro competindo por aplicações acaba em taxas de juros cada vez mais baixas, pois todos querem evitar que o dinheiro que sobre renda zero, com isso, excesso de déficits e dívidas geram taxas de juros baixas e não altas como a teoria econômica deseja explicar.

Um banco privado também não precisa mais se preocupar com as restrições antigas e se aparecer tomador de dinheiro que seja "da confiança", o banco empresta na hora depositando na conta do cliente via um computador. Existem N maneiras em que o banco pode conseguir esse dinheiro, mas, no limite, o banco central credita a conta reserva daquele banco e dinheiro aparece.  Ou seja, como já falei em outro documento, se um país não entregou sua soberania como a Grécia e Portugal entregaram a união européia, se um país é soberano, tem moeda e dívida aceita por sua população e tem um banco central, câmbio flutuante ( a conversibilidade seria o ideal) o céu é o limite em termos de bem estar social, especificamente o emprego de toda a sociedade, ou full employment.  

Em várias épocas na história ficou claro que quando os déficits do governo foram pequenos, o desenvolvimento parou e ou o setor privado teve que se alavancar para substituir o governo na composição do PIB.  Na era Clinton, que foi conhecida como um governo superavitário, o que tínhamos de contra ponto, era o crédito do setor privado crescendo a passos gigantescos até o momento que isso se esgotou a economia "colapsou".  Em 2006 o déficit público não foi suficiente e o que aconteceu depois? Novamente o setor privado se alavancou demais e tivemos o super problema em 2008. Por que não ter baixado o imposto das famílias para zero para que essas pudessem fazer o pagamento de suas hipotecas? Iria fazer alguma diferença para o governo que não pode ficar insolvente em moeda local nunca, principalmente nos EUA onde a moeda reserva é criada?  Na época que o "Bush pai" aumentou impostos brutalmente o que sucedeu? Menor déficit e crise econômica.  O setor privado tem limites, como uma família tem, o setor público não tem limites e não pode ficar insolvente, por isso, déficit público é uma coisa boa e não ruim até que a inflação apareça se aparecer.  O mal das pessoas foi achar que a alavancagem do setor privado não tinha limites e que a do setor público tinha, quando a verdade é justo ao contrário, quantas crises poderiam ter sido evitadas no mundo todo?

Falando dessa maneira parece até que os governos podem gastar a vontade que não vamos ver inflação em hora nenhuma. Como falei em outro texto, não existe teoria de inflação confiável no mundo e é complicado apontar motivos específicos de país para país em termos de processo inflacionário, porém a observação dos últimos vários anos nos dão uma boa ideia do que está acontecendo. Ora, acho que já está mais do que provado que déficits gigantes, criação de dinheiro para financiar os governos, e crédito privado gigante não estão relacionados a inflação e a alta de juros e isso está claro olhando para um mundo que vai da China aos EUA.  Déficits gigantes foram e são  rodados nos EUA, UK, japão e em grande parte do mundo nada de inflação e sim perigo de deflação e tudo isso acompanhado de juros zero ou negativo. Afinal déficit fiscal não gera inflação? Afinal dívidas maiores e gigantes dos governos não geram inflação, está mais do que provado que não.  Não é por menos que a China já notou isso a apertou fundo no acelerador, criando, só de ativos financeiros, $17 tri de dólares em 5 anos, sem dar satisfações a ninguém. Vejam se os chineses estão com problema de inflação, vê se os EUA, UK, Japão e Europa estão com problema de inflação, pois é. não estão.

Minha ideia nesse documento é iniciar alguns ou a maioria dos leitores sobre a teoria monetária moderna, que já é escrita a passos largos no exterior ( MMT: Modern Monetary Theory) que na verdade nada mais é do que a teoria sobre a observação da economia na prática e não com base em teorias que foram escritas mediante o padrão ouro.  E o Brasil, como entra nessa estória?  Ha algum tempo, foi escrito um texto sobre o pagamento imediato da dívida externa do Brasil ( http://itisallabiglie.blogspot.com.br/2015/02/requerimento-de-legislacao-para-atenuar.html ).  Para que ter dívida pública externa se temos muito mais dólares do que devemos ao exterior? Ou melhor, precisamos de dívida externa para alguma coisa? Não. Nós temos é que operar dentro de nossa moeda para que nós, também, tenhamos soberania e que nosso estado, também, não tenha limite de dívidas e déficits como aconteceu com todo o mundo desenvolvido, sem maiores problemas.

O Brasil não precisa ter medo de déficit ou de dívidas altas, o Brasil precisa de reformas estruturais ( já é tema para um próximo documento) para que a parte da oferta de sua economia esteja preparada para a demanda, para que não haja inflação. JÉ por isso que as taxas de juros no mundo em geral são tão baixa, as dívidas são tão grandes que o dinheiro fica sobrando no sistema no overnight, muito dinheiro competindo por aplicações acaba em taxas de juros cada vez mais baixas, pois todos querem evitar que o dinheiro que sobre renda zero, com isso excesso de déficits e dívidas geram taxas de juros baixas e não altas como a teoria econômica deseja explicar.Historicamente, é só observar a própria história econômica dos países no século 19 e 20 e ver que a inflação aparece por problemas de oferta e não demanda. 
Não sejamos hipócritas e achemos que existe restrição orçamentária para o Brasil e ou que o Brasil pode ficar insolvente ou que os juros gigantes no Brasil são justificados, seja por instituições fracas relativamente, seja por corrupção relativamente alta ou por que existe teoricamente uma restrição contra os gastos do governo.  O Brasil é nosso, vamos cuidar dele é só entender o que está acontecendo na prática econômica e não na teoria velha e antiquada.  As populações do mundo deveriam cuidar da teoria econômica como cuida da medicina, com atenção.

Wednesday 8 April 2015

Gravity, Heat, Light, Money and Freedom

Typically great scientific achievements start with some clue that provides a framework from which the right questions start to be considered. Curiously the time span from the start to the end of a theory is that of one generation: from Galileo formulation of the physics in terms of variable motion to Newton theory of universal gravity; from Thomson and Carnot formulation of heat in terms of mechanical work to Joule and Clausius kinetic theory of heat; from Faraday discovery of magnetic induction to Maxwell theory of light. From a Kuhnian perspective the one generation span is not that surprisingly. There must be dramatic shift in mindsets in order to fully grasp the meanings and potentialities of the new framework. The intra-generational period provides a gradual exploration of the potential implications of the new framework until someone completely absorbed by the new method of thinking is able to synthesize the achievements into a general grand theory that, if lucky enough, can reveal deep truths beneath the phenomena.  The beginnings of a new theory are not fortuitous. They always occur at the time when the prevailing technique can provide relevant data. Galileu, Thomson, Carnot and Faraday are children of the industrial technology of their time. The telescope, the heat engines, the controlled use of electricity could not have been achieved much before. The technique and the genius coalesce into one major new idea.

And I believe we are in one of those moments in scientific history. The major recent developments of  financial technique together with the vast experimentation in monetary theory has provided a fertile ground from each some genius can glimpse some deep clue about the nature of money. It is some sort of Galileo moment, we just do not know yet who the new Galileo is/are. It is pretty obvious today to anyone who take seriously the inquire about the nature of money that the whole previous obsession with concrete manifestations of money and their efficiency of use were misguided. The social realization of money does not seem to be relevant at all: money must have a deeper meaning within the functioning of the economy the surpasses its manifestation as metal, paper, digits, or credit or block chain. Every one of these can serve as money, but none of these is money. If we are able to abstract its meaning from its manifestations we can potentially implement a new kind of money that frees us from the radical shortcomings of its historical social realizations. Just like the failure of the metallic money is well understood for quite some time, the failure of the fiat money should now be evident to any sensible person. Not because of inflation, as many have feared for so long. Fiat money as we know it today has empowered the monetary bureaucrats with authority that should be unacceptable to anyone who take seriously the problem of political representation. The single most important price of the economy, the cost of capital, cannot simply be dictated by the will of a central ruler. Do not be fooled: the bureaucrats have no clue about what they are doing. Inflation targeting is over. We live in the era of monetary bureaucrats with unbounded power and unbounded ego. We desperately need a true theory of money.

Tuesday 7 April 2015

O Brasil merece esse tratamento? Instituições absolutamente fracas?

No Brasil hoje, reina o ódio em relação ao PT, isso é baseado em muitas razões pertinentes, principalmente a corrupção.  Esse ódio aumenta a possibilidade da miopia coletiva popular, que já é enorme e a cegueira coletiva acabou reinando.  Ao longo dos anos, teses foram adotadas em N disciplinas, mas como saberemos se essas teses adotadas são as certas ou erradas, ou até, vamos mais longe, se essas teses realmente senvem na prática, ou apenas para os interesses de alguns poucos grupos?  Depois de esrcever o ultimo artigo, recebi um comentário que acabou dando origem a esse "documento" e o tema é: as instituições são realmente fortes no mundo desenvolvido para que exista o argumento que o Brasil ou qualquer outro país mereça "ser tratado" de maneira diferente pelas pessoas em geral e pelos mercados?  O mundo desenvolvido realmente tem se comportado bem respeitando contratos e mostrando que suas instituições são fortes? Será que o Brasil não cumpre mesmo seus contratos? Será que o Brasil merece taxas reais de juros mais altas e um tratamento internacional inferior? É claro que o Brasil tem muitas instituições fracas, mas isso é comum em toda parte pois, como diz um amigo meu, "sempre que as instituições são testadas, "abrem o bico"", ou seja, amarelaram ( chicken) para a realidade, mesmo que a realidade caracterize tudo o que tenha sido pregado de melhor por essas mesmas instituições por anos e anos; a famosa hipocrisia na hora que o sapato aperta.

Afinal, que instituições são essas que fazem do mundo desenvolvido realmente desenvolvido? O banco central europeu que fala, "what ever it takes", "farei todo o necessário"? (quando a crise realmente ficou grave). O banco central americano que falou abertamente que grande parte do seu objetivo ao fazer QE ( criação de dinheiro imediato do AR) era fazer o preço da bolsa subir, para que as pessoa se sentissem mais ricas para poderem gastar mais? Sem nenhuma vergonha na cara! Isso é sem precedentes na história do FED, que sempre disse não querer se envolver na formação de preços dos mercados. Ou, é melhor falar das fraudes contábeis de Enron e Worldcom no inicio da década passada, expondo, de vez, a fragilidade da industria de auditorias de alto nível no mundo desenvolvido. E a fraude gigante do subprime, aonde milhões de documentos foram forjados para que contratos de imóveis fossem fechados e executados nos EUA há poucos 10 anos atrás?

Ano passado, a ideia de que houve quebras de contraos no Brasil ficou muito forte, porque, em tese, o governo não deixou certos preços subirem na economia, preços esses que garantiriam retornos financeiros contratados pelas empresas com o governo.  Isso não confere.  A realidade é, nesses casos, os preços são regulados, existe uma regra intertemporal para garantir rentabilidade do contrato, algo que vai ser cumprido como sempre foi.  Não houve quebras de contrato. Os EUA como no Brasil, já congelaram os preços nos mercados; quer maior quebra de contrato do que essa? E então, esquecemos do que os outros fazem e carregamos a cruz de cristo para sempre? Existe algum complexo de inferioridade dos analistas brasileiros? Falta de informação? Doutrinação?

Algum ser humano no século 20 e 21, pensa em quebra de contrato maior do que o calote de 1970 nos EUA? Os EUA calotearam sua população em $60 bilhões de dólares em barras de ouro, um contrato de 25 anos. Para muitos o maior calote do século 20!? E então, cadê a instituição forte?  E a União Europeia? Deu calote generarizado no Chipre da noite para o dia, sendo o Chipre membro do grupo europeu.  Que instituições maravilhosas são essas que, da noite para o dia, mudam as regras do mercado financeiro, proibindo apostas contra o mercado na hora que o sapato apertou? ( "vender a descoberto": vender hoje para comprar no futuro mais barato) não pode mais porque o sapato da instiutição está ameaçado? "Não pode vender título público europeu a descoberto!!!???" Por que? Cade o liberalismo? Cadê o mercado aberto? Mais uma quebra de contrato? Pimenta no rabo alheio é refresco!!!  Que instiutições fortes e exemplares são essas que deixaram os bancos europeus marcarem seus balanços "a modelo" e não a mercado, porque, se não,"todos" os bancos estariam quebrados? Aonde está o liberalismo capitalista de mercado aberto? Tudo isso aconteceu no UK, EUA, e Europa há pouco tempo!

A corrupção. No Brasil hoje vivemos abaixo das nuvens da currupção exposta e aberta, parece uma sala de CTI / UTI de um hospital; sofrimento psicológico nas máximas.  O humor das pessoas gira em torno da corrupção, o dia a dia das pessoas gira em torno da corrupção, Um dia isso vai passar, porém vale notar estatísitcas importantes sobre corrupção no mundo. Segundo https://www.transparency.org/cpi2014/results o Brasil aparece em número 69 em termos de corrupção percebida no mundo. Notem que estamos melhores em termos de corrupção que o México e empatados com a Itália, com a Itália! Brasil melhor que 90% da america do sul.  Mesmo que caiamos no raking por causa dos últimos casos de corrupção, nada justifica ou justificará se falar que o Brasil é um horror absoluto completo por causa da corrupção.  Eu falei de corrupção  porque a corrupção acaba sendo uma "instituição" na prática e muitos argumentam contra o Brasil e a favor de outros países justamente falando da corrupção comparativa.

Mitos que as instituições dos países desenvolvidos são fortes e merecem louvor e tratamento diferenciado, mito que o Brasil é extremamente corrupto e tem instituições não confiáveis absolutamente falando. Como o mundo "vive" de mitos, ou melhor é manipulado por mitos!!!

Agora, algo muito importante, e se as instituições "fortes", não são correlacionadas com o desenvolvimento economico? Ai, é pior ainda, porque estamos aqui argumentando sobre instituiçoes fortes e essas instituições não são, na verdade, um fator determinante para o desenvolvimento econômico. Isso é provavelmente verdade.  Um paper do Faculty of Economics, University of Cambridge (http://hajoonchang.net/wp-content/uploads/2011/01/JOIE-institutions-and-development-published.pdf) , fala que certos aspectos de instituições "fortes"( proriedade privada, por exemplo), que, em tese, existem em países desenvolvidos, não têm correlação histórica com o desenvolvimento econômico e,que, na verdade, países que mudaram suas instituições para um modelo mais neo liberal, passaram a desenvolver-se menos e não mais nos últimos 30 anos.  Modelos mais rígidos acabaram registrando um desenvolvimento mais forte, em média, no mundo, pense na China agora como exemplo máximo

A China. Corrupta, muito mais que o Brasil, sistema judiciário bem menos desenvolvido que o nosso, quebram contratos a toda hora, dão calotes em patentes e etc.  Hoje, a China é o motor do mundo e seu desenvolvimento econômico e social é sem precedentes. Agora, me digam por que usam o argumento de que o Brasil deve pagar juros astronômicos por casa de suas instituições fracas, ou mesmo, por causa da corrupção relativa gigantesca?  O que temos que aprender sobre o mundo de hoje é, se houver aceitação da moeda local pela população e aceitação dos títulos públicos como ha no Brasil (mesmo com o ódio do PT), se houver um banco central e não houver problemas de oferta para causar inflação, o céu é o limite em termos de desenvolvimento, mesmo para países de "casta baixa" como o Brasil e a China. "Instituições fortes", foi um argumento inventado pelos países "desenvolvidos" para nos doutrinar mais e mais. Esse argumento de instituições fortes começou mesmo no início na década de 90. Antes disso, pouco era clamado sobre a correlação entre instituições fortes e o desenvolvimento. Espero que meu amigo que comentou o texto anterior esteja completamente satisfeito. Espero que entendamos que, nem sempre as teses adotadas pelas instituições e pelo meio acadêmico são as mais corretas.  Temos, muitas vezes, que pensar por nós mesmos.

Darwin and Economic Reforms

Frequently science advances by the proposition of theories that are able to explain certain phenomena under a certain ideological framework. Evolution theory is one of the greatest examples. Darwin proposed a reasonable mechanism that could explain life under a strictly materialistic framework of biological nature. The early enthusiasm about the theory did not derive from its empirical accomplishments, but from the attractiveness of its underlying ideological framework. It was now possible to adhere to all-encompassing materialism without any plausible rational objection. Nonetheless, the theory made very broad predictions about the nature of life, the nature of heritage, the possibility of mutations, the continuity of specie differentiation and the power of a natural selection optimization algorithm. The ultimate vindication of the theory dependent on the adequate confirmation of each of those bold predictions. Ideology in itself would hardly have been sufficient for one of the greatest scientific achievement of all time.

It is important to recognize that even though ideological reasoning can be a plausible motivation for advancement of knowledge it cannot be sufficient in itself. The inner logic of a theory, often sufficient to convince adherents of that specific ideology, cannot form the basis of proper scientific knowledge. Any theory based on ideology must be able to either make new factual predictions or explain other phenomena that are somewhat alien to the original scope of the theory.

The so-called New Institutional Economics is a good example of an ideology-based theory. By invoking high transaction costs and partial information, it proposed a mechanism, from which a system of rational self-interested agents could create, by the imposition of those with bargaining power, sub-optimal institutional frameworks. From a strictly theoretical point of view, it was nothing more than giving enough degrees of freedom to a new classical model in order to allow it to accept stable sub-optimal equilibrium. However, from an ideological point of view it was a major achievement: it was now possible to adhere to neoclassical economics without any plausible rational objection. In theory, any historical institution of societies could result by this mechanism. Even more important, it introduced the possibility of path dependency on economic development: it was plausible for an economy to be stuck in a sub-optimal equilibrium because those with bargaining power were able to devise stable institutions to serve their own interests. Just like evolution theory, it became mainstream almost overnight by those captivated by the neoclassical ideology. Both the IMF and the World Bank were eager to implement its prescriptions to their programs. It gave them as an institution, and their bureaucracy as ideologues, a new reason for existence. The era of economic reforms began: every country should be “forced” to reform their existing institutional framework to make them more like those of developed economies. It was the stairway to heaven. The global general equilibrium of all nations was within grasp.

The theory made bold predictions, or at least as bold as we can get from social sciences. First, since there is still a general equilibrium without transaction costs, there are potentially perfect institutions. Those economies that were able develop continually should be closer to those institutions. Moreover, as consequence, they should be much less subject to abnormal economic cycles than those predicted by traditional neoclassical economic models. In addition, even though there is no unique path to approach the optimal equilibrium, on the long run those idiosyncratic paths should more or less converge to each other. In other words, there should be no sustained development strategy very different from those pursued by the developed economies. Small variations in accordance to the historical idiosyncrasies of each economy are reasonable, but a radical deviation would be a huge anomaly.


How then could the 2008 economic crisis happened? How such a divergent outcome be possible? Even more shocking: it was very clearly caused by the state-of-the art institutions (like Basel capital rules). Even more shocking: how could China find a sustained development trajectory so alien to those of the past? How could an economy so far away from neo-liberal political and social institutions be the best performing economy for so long? In its bold predictions new institutional economics failed badly. Nonetheless, it continues to be preached as sacred scripture all over the developing world. Reform, reform, reform. Basle II failure? Bring us Basle III. The ultimate irony is that those proponents of the theory seem to be stuck in a suboptimal methodological equilibrium: the theory seemed too beautiful to be false.

Sunday 5 April 2015

Disciplina para que? O Brasil e a Hipocrisia nas máximas no mundo.




Disciplina econômica sempre foi um símbolo de prosperidade.  Disciplina econômica sempre esteve presente e intensamente imposta no meio acadêmico, no mercado financeiro e entre as pessoas em geral.  Afinal de contas, economia é o estudo da administração dos bens escassos e, por isso, essa tal disciplina sempre foi ponto de foco central entre economistas e governantes.  Hoje em dia, será que disciplina de gastos, economizar, poupança têm mesmo relevância na prática?  Será que existe mesmo a necessidade de haver alguma poupança para que haja prosperidade via investimentos como muitos continuam clamando por aí, mesmo depois das consequências e atitudes tomadas após a crise de 2008? Será que os países em desenvolvimento sofreram e sofrem porque são indisciplinados fiscalmente?  Será que, realmente, imprimir dinheiro cria inflação como é afirmado a séculos? Uma coisa é notável; justamente através da história vimos que os grandes ciclos e impérios acabaram por N motivos, mas com certeza, um dos grandes vilões foi a inflação, porém, hoje isso não se aplica mais, só é uma ideia que continua nas cabeças dos burocratas hipócritas e detalhe, a tese só aplicada nos países pobres e sub desenvolvidos.

Afinal, qual é, ou pelo menos, qual deveria ser o objetivo do estudo da economia? Acredito que a resposta é muito simples.  Estudar economia é, ou deveria ser, a idéia ou tentativa de gerar bem estar social ao maior número de pessoas possível na terra sem criar inflação alta ou desconfortável tendo também em vista a manutenção responsável dos recursos naturais.  Tendo em vista que o objetivo é esse, vamos analisar a situação dos últimos anos no mundo e vamos ver se existe ou não dois pesos e duas medidas na hora de tratar países "desenvolvidos" e sub desenvolvidos.  Detalhe, coloquei países "desenvolvidos" entre aspas, pois na minha humilde opinião, tendo como base a economia clássica, ou melhor, a economia estudada nas melhores universidades pelo mundo; país que não tem como pagar suas contas, pais com bancos super alavancados e quebrados por definição, não podem ser considerados desenvolvidos, simplesmente porque faliram. Com a falência, serviços sociais avançados e da melhor qualidade deveriam cessar de existir e logo esse país desenvolvido deveria quase que imediatamente ser rebaixado a um pais em desenvolvimento ou mesmo pobre, não faz sentido para você?

Vimos o Japão entrar em grande expansão econômica após a segunda guerra mundial, e essa expansão e melhora brutal da qualidade de vida da população chegou ao ápice na década de 80.  Logo depois o que acontece? "O país ficou Insolvente baseada nas teses econômicas liberais". Na presença de muitas dívidas e contas a pagar o governo japonês começou a imprimir dinheiro para pagar suas contas e dívidas e principalmente para manter seu sistema financeiro solvente.  Eles chamavam isso de medida de emergência heterodoxa, mas o ponto é, a teoria econômica deixou de valer para aquele país, pois o dinheiro não vinha de poupança alguma e sim da "máquina de imprimir do banco central".  Até aí tudo bem, emergência, passageiro e consequências ruins iriam acabar surgindo, e logicamente, a inflação foi a primeira variável que "acendeu" na cabeça dos economistas e analistas e, muito provavelmente, tudo aquilo iria desmoronar num caos de espiral inflacionário.  Ora, todo mundo sabia que, ir contra a teoria econômica e ser indisciplinado só poderia acabar em problemas. 

O que nós vemos hoje no Japão? O bem estar social continua a todo vapor, o desemprego é baixíssimo, não há nenhuma inflação, muito pelo contrário, eles vêm lutando contra a deflação há muitos anos e o principal, a impressão de dinheiro que seria passageira e emergencial continua até hoje, e o "pior" ainda, mais dinheiro do que nunca é criado do AR nos dias de hoje.  Além de tudo, o país tem uma dívida do governo de 220% do PIB ( parece até piada, ou mesmo uma lenda, conto de fadas).  O que houve com a teoria econômica da inflação por indisciplina e olhem que estamos falando na pior indisciplina da teoria econômica, a criação de dinheiro sem lastro ou como costumo falar, dinheiro do AR?

O que é inflação? E porque esse fenômeno jamais aconteceu no Japão após o início da "crise"?  Inflação acontece quando a demanda é maior do que a oferta por tempo suficiente para jogar os preços para cima; mas e se a oferta for sempre equilibrada ou até maior que a demanda mesmo com dinheiro do AR?  Resposta, não há inflação alguma, muito pelo contrário.  Mas os economistas são teimosos, os economistas são convictos e mesmo sem entenderem nada, clamavam que o Japão era uma exceção a regra e que não era possível para o resto do mundo fazer o mesmo, eu aceitei a tese, o mercado aceitou a tese e o mundo continuou girando.

A crise de 2008 chegou, EUA, Europa, UK literalmente quebraram e que fizeram? Disciplina fiscal? Nem pensar. Deixar os bancos e segurados e várias outras indústrias quebrarem como mando a teoria econômica liberal, nem pensar.  O que foi feito? O mesmo que foi feito no Japão.  Déficits fiscais monstruosos apareceram, socorros a bancos, seguradoras e outras indústrias aconteceram e tudo isso como? Utilizando o tal dinheiro do AR e dívidas e mais dívidas.  Cortaram gastos sociais ou até aumentaram? Pois é, aumentaram.  Houve alguma inflação? Não, muito pelo contrário, hoje esses países estão com inflação baixíssima ou até deflação e suas taxas de juros estão a zero ou negativas.  Juros zero ou negativo??? Mas, e toda a indisciplina não deveria justamente levar os juros as alturas por causa do maior risco? Pois é, nada disso aconteceu ou acontece hoje em dia.  Os bancos centrais tomam conta e garantem "o esquema".

Hoje pedem que o Brasil tenha disciplina fiscal, que corte gastos, que aumente impostos que faça exatamente tudo o que os países "desenvolvidos" não fizeram e não fazem.  Isso tudo também é "exigido" para vários países sub desenvolvidos pelo mundo, mesmo que, todos os economistas, acadêmicos e participantes do mercado tenham visto que nada da teoria de inflação realmente aconteceu na prática.  Afinal, existe no mundo hoje alguma teoria de inflação confiável?  Ou o que existe é uma hipocrisia, ou mesmo, um sistema de castas no mundo financeiro aonde só os países com história de domínio possam fazer o que querem, sem deixar que outros façam também.  Ou ainda, será que países que detenham o poder bélico podem fazer o que querem mesmo que por coação e influência? A mais pura hipocrisia domina a situação mundial.

O Brasil tem inflação relativamente alta e juros astronômicos, juros impensáveis, juros acima da inflação que são o dobro da própria inflação, o mercado fala que é uma consequência! Balela!!!. Quanto da inflação do Brasil acontece via juros? Quanto de influência o juros tem na cessão de crédito, eu diria e as correlações dizem, perto de zero.  Então por que pagamos "o maior" juros real do mundo? Porque amigos existe uma cultura de que tudo tem que ser resolvido via juros, e a classe dominante e formadora de opinião acata isso, afinal é super conveniente ganhar 13% ao ano, ou 6% de juros reais somente freqüentando a praia. Que vergonha! Enquanto isso 23% de toda a arrecadação do país vai para o pagamento de juros, vergonha! 

O Brasil hoje tem ameaças de downgrades por causa de indisciplina fiscal, falta de poupança e por causa da possibilidade de não poder pagar suas dividas.  Sejamos honestos, o Brasil hoje é AAA e não nota mais baixa, sabem por que? Porque nota de agência de rating é referente a capacidade de um pais honrar suas dívidas.  Hoje o Brasil tem $40 bilhões de dívida externa e $370 bilhões em reservas, se quiserem descontar os $100 bi de swaps cambiais mesmo sem esses tenham sido "liquidados", contemos com isso também, sem problema. Sobra muito!  O Brasil, se quiser paga 100% da dívida externa amanhã ( algo que deveria fazer) e as dívidas em reais ( moeda local), no limite, imprimimos e pagamos.  Não rolávamos nossas dívidas no overnight na década de 80?  O único calote que existiu no Brasil não foi de dívida externa? Que conversa de downgrade é essa? Concluindo que hoje o Brasil tem 100% de capacidade de pagamento de suas dívidas e, com isso, pensar em downgrades ou mesmo levar um downgrade por qualquer indisciplina que seja, é hipocrisia, afronta e falta de respeito.

O Brasil tem inflação alta hoje em dia por vários motivos; leis erradas do passado, sofreu uma desvalorização cambial substancial nós últimos dois anos, um governo mais popular tirou 40 milhões de pessoas da miséria e retirou mais 30 milhões da classe pobre para a média, falta de infra estrutura, enfim, um monte de variáveis, mais isso "é normal".  A Coréia do sul ao desenvolver-se rodou inflações entre 5 e 9% ao ano por muitos anos e, com o passar do tempo e boas políticas criou bem estar social para o maior números de pessoas possível e hoje não tem inflação alta.

Adotar disciplina para que? Estrangular a população e os meios produtivos via impostos altos para que? Cortar dívidas para que?  Hoje vivemos na era dos bancos centrais, vivemos a economia que não é mais o estudo dos bens escassos e sim abundantes!!! ( o capital). Foquemos no bem estar social e em reformas para conter a indexação da economia e os vícios ligados a expectativa de inflação crônica, isso sim tem que ser feito e não ajuste fiscal algum. O dinheiro hoje é sem lastro e é criado ao léu.  

Eu "gostaria muito" de ver se "todo mundo" iria gostar de morar no UK se não houvesse segurança, educação, saúde e infra estruturas de qualidade altíssima.  Tudo isso é pago também com muito dinheiro do AR e dívidas e mais dívidas e mais dívidas ( Hoje o banco central do UK detém 40% de toda a dívida do país, funny enogh!!!). Lembrem, criando-se dinheiro / riqueza, cria-se dívida e se o dívida não é paga, ou não rende nada, ou roda a taxas negativas, isso não é riqueza. O endividamento é gigante no UK, por volta de 120% do PIB (Brasil tem dívida líquida de 36% do PIB), o UK vem rodando déficits ficais grotescos que já chagaram a 10% do PIB há alguns poucos anos e esse ano será de 5% do PIB ( querem o que pobre Brasil rode superávit fiscal de 1,2% do PIB) pode isso? Eu quero Brasil como o UK, eu quero Brasil Japão, eu quero Brasil Europa, se for para não seguir os livros de economia, o Brasil também quer o mesmo. Queremos o bem estar social para o maior número de pessoas possível, porque, claramente, no mundo não existe mais a tal da restrição orçamentária, isso fica para o museu de economia e não para debates de gente séria ou mesmo gente com um mínimo de inteligência.

Thursday 2 April 2015

Fies, Mantega e a Inflação

Dentre os diversos fatores que determinam o desenvolvimento econômico das nações a demografia ocupa um lugar de destaque. Primeiro por que ele é essencialmente determinístico: o perfil etário da população num horizonte de uma década ou duas está mais ou menos definido é possível antever com bastante acuidade a sua evolução ano a ano. Segundo por que de certa forma ele é um componente quase inexorável: a maior ou menor oferta de mão-de-obra em idade ativa é uma força quase irresistível rumo ao desenvolvimento. Precisam prevalecer condições extremamente singulares para que o curso demográfico não seja determinante no desenvolvimento econômico.
Nesta perspectiva o que presenciamos na economia Brasileira nestes últimos dois anos é bastante peculiar. A mão-de-obra empregada estagnou a partir de 2013, subitamente. É muito fácil apelar a explicações ideológicas: teria sido culpa da política econômica. Isto, entretanto, não faz sentido: deveras, a crítica é justamente de que houveram exagerados incentivos na política econômica. Mas isto, por si só, deveria ter ampliado ainda mais a massa empregada, não ocasionado sua estagnação.
Mas o que se passou então? Os dados são claros: houve uma queda relevante da taxa de participação no mercado de trabalho. E esta queda não foi generalizada: concentrou-se basicamente na faixa etária entre 18 e 24 anos. A taxa de não-participação costuma ser bastante estável. Em 2003 29.8% das pessoas entre 18 e 24 encontravam-se fora da força de trabalho segundo o IBGE. Em 2004 eram 29,3%, em 2005 30,5%, em 2006 29,4%, em 2007 29,2%, 2008 29,4%, 2010 30,1%, 2011 29,9%, 2012 30,4%. Típica flutuação da imperfeita mensuração estatística. Algo extraordinário acontece então: em 2013 há um salto para 32,2% e finalmente em 2014 para 34,9%. Nada aconteceu na faixa etária entre 25 e 49 anos. Esta ficou perfeitamente estável em níveis muito baixos de não-participação no mercado de trabalho.   
Não é necessária muita imaginação para se entender o que aconteceu: foi a disseminação vertiginosa do crédito estudantil que de certa forma abriu espaço para que parte dos estudantes pudesse temporariamente se retirar do mercado de trabalho.  Para se ter uma idéia da dimensão do crédito estudantil, em 2010 eram contemplados algo da ordem de 500 mil contratos. No fim de 2014 eram algo da ordem de dois milhões. É algo com dimensão para se ter impacto macroeconômico.
Pois bem, se nossa tese está correta, e o crédito estudantil de fato propiciou a saída de quantidades expressivas de pessoas do mercado de trabalho, é bastante fácil entender o que se passou nos últimos dois anos. Dada a dimensão do choque de oferta de mão-de-obra, a insistência do ministro Mantega de propiciar mais e mais incentivos fiscais numa tentativa de reiniciar a trajetória de crescimento econômica teve como único efeito gerar inflação: em nenhuma circunstância um incentivo fiscal irá promover crescimento sem que haja condições matérias para tal. Se não há mais gente para trabalhar, qualquer tentativa artificial de gerar crescimento terá como consequência a geração de inflação e a destruição das margens de lucros nas empresas.
Percebendo esta dinâmica inusitada da inflação o Banco Central inicia um ciclo de aperto monetário na economia, numa tentativa de segurar a inflação pela contenção das iniciativas do setor privado. Mas eis a grande ironia: subir os juros no Brasil tem um efeito fiscal fortemente expansionista. A despeito das hercúleas, e por vezes irresponsáveis iniciativas de pré-fixação da dívida pública pelo tesouro nacional, o Banco Central faz grandes esforços para desfazer isto. De fato uma parcela muito relevante da dívida pública encontra-se no próprio balanço do Banco Central. A contrapartida destes ativos são as operações de remuneração pós fixada do lado do passivo. Enfim, subir juros significa prontamente aumentar substancialmente o déficit nominal. Como, tautologicamente, a despesa de alguém é sempre a receita de outrem, e por conseguinte, déficit fiscal é renda privada, uma subida dos juros sem uma contrapartida em aperto fiscal é necessariamente expansionista do ponto de vista fiscal. Ela só surte efeito a partir do ponto em que causa estragos nos balanços do setor privado: decisões de investimentos são postergadas, a tomada de risco é desincentivada pelas altas remunerações sem risco, e finalmente os endividados colocam-se em situação delicada.  
Mas qual a política econômica sensata neste caso? Simplesmente tirar o incentivo fiscal. Não há dinamismo algum no setor privado. Muito pelo contrário. Não há justificativa, por conseguinte, para o aperto monetário. Não é necessário controlar o apetite do setor privado. É necessário reconhecer que circunstancialmente não há folga alguma no mercado de trabalho e portanto o estado deve tirar ao máximo seus tentáculos dele. Não por razões ideológicas, simplesmente por uma questão estratégica: este choque de oferta é temporário, e mais cedo do que tarde, a realidade demográfica voltará a se impor e abrirá novamente espaço para uma expansão robusta da economia. Estudar é, no fim do dia, investimento. E, sob certos aspectos, investimento mais importante do que os investimentos do PAC. Pontes poderão ser construídas depois. Educação não.  

Wednesday 1 April 2015

Esquerda ou Direita, você escolhe.

                                             
Estava eu comendo um queijo da serra e bebendo um belo Chianti pensando no conceito "esquerda caviar". Afinal serei eu, um fã de Hayek pertencente a esse grupo? Um conceito que me coloca na esquerda? Afinal o que é esquerda e direita hoje em dia? Cheguei a conclusão que sou de esquerda, mas "de esquerda por circunstância". Tendo toda a minha educação acontecendo em moldes norte americanos, sinto um peso no coração quando falo de tamanha frustração de ser um participante do mercado financeiro hoje em dia. Ouvir todos os dias berros de jornalistas, analistas e de PHDs sobre conceitos de teorias macro econômicas que estão ultrapassados na prática e, para quem tem vergonha na cara, na teoria também, é deprimente. Eu sei que é triste estudar por 40 anos e depois ter que aceitar que tudo aquilo estudado nada mais era do que uma ideologia e nunca uma ciência, ou sequer um método de tomada de decisões para a sociedade. É frustrante acordar todos os dias e ver que, mais do que nunca, o estado está presente e preponderante nas economias mundiais; sistema mais de esquerda do que nunca. O que me ensinaram na faculdade foi, quanto menor o estado melhor, quanto menos influência do estado melhor, quanto menos regulação melhor, "deixe a mercadoria passar". Que a meritocracia reine, que a produtividade eleve, que os mais eficientes superem os retardatários.


Ser da esquerda caviar em tese, significa ter idéias ou convicções de esquerda, mas gostar, também, das coisas boas da vida, literalmente até o caviar mesmo. Mas existe alternativa nesse mundo para alguém rico que tenha bom senso do que, mesmo sem entender, ser considerado da esquerda caviar? Acho que não, afinal a esquerda se tornou o único lugar confortável num mundo que presenciou tudo que aconteceu de 2006 para cá.

Existia um tempo quando todos pensavam e tinham fé, que QE era uma exceção do Japão. O conceito em si, já era absurdo em termos históricos pois, afinal, um banco central criar dinheiro do ar para comprar títulos do tesouro nacional do mesmo governo parecia obsceno, mas, o mundo e eu, não sei porque, ignorou e "desculpou" essa situação. A maior de todas as desculpas foi que o QE japonês era esterilizado e que não haveria nenhum problema pois, afinal, os títulos vendidos pelo próprio BC iriam esterilizar o dinheiro criado do AR. Que falta de senso básico!!! Hoje, as pessoas acham que o QE que o mundo todo tem feito é diferente do Japão, mas não é, tudo acontece exatamente da mesma forma e hoje, o mundo ignora e "desculpa" isso também. Como não estar do lado da esquerda?

Em qualquer QE, ao criar dinheiro, o BC cria reservas bancárias; as 18:00 horas essas reservas bancárias" dormem" em algum lugar e vão procurar por algum rendimento, ou seja, sempre que o BC cria dinheiro do AR existe, no mesmo dia, uma contra partida em forma de dívida ou a esterilização desses dinheiro. Concluindo facilmente que não existe QE que não seja esterilizado, fazer distinção é puro teatro. O QE pode ser esterilizado com a venda de um título de 10 anos ou se 1 dia, mas é sempre esterilizado. O triste? É que com quem você fale no mercado financeiro, vai te falar que o QE praticado nos EUA era diferente do praticado no Japão. É pena.

Aconteceu uma coisa horrível, o Chianti está acabando. Ou seja, vou me abreviar até para poder ficar com minha linda mulher. O liberalismo ou o neo liberalismo ou o laissez-fair levaram uma mega HIT na cabeça em 2008. A idéia de que o privado é mais eficiente que o público foi por água abaixo porque, acredito eu, ou qualquer ameba, que o que foi feito do sistema financeiro mundial foi tão, mas tão falho que nem a mente pública mais incompetente poderia replicar 10% do que foi feito pré 2008 e logicamente continua a fazer hoje em dia, mas em uma espécie de PPP, parceria público privada. Os maiores bancos e seguradoras do mundo quebraram, os EUA e o G7 não aceitaram suas próprias regras e mudaram as regras do jogo. Imaginem os EUA e Europa com lei de responsabilidade fiscal nesses últimos 6 anos??? Pois é, quem financiou tudo isso? Quem financiou déficits fiscais de 10% do PIB? Em grande parte, os bancos centrais com dinheiro do AR, o mesmo AR do dinheiro do Japão.

Afinal não era meritocracia? Afinal , não era: quem falha, paga por isso? Cadê? Cadê o clearing da crise de 2008? Cadê a transparência, para todo mundo saber para onde foram os trilhões em linhas de crédito de salvamento que o FED concedeu? Cadê o planilha que me diz quem são as contrapartes de centenas de trilhões em derivativos de crédito que existem no mundo? Cadê a vergonha nas cara para falar, "nós falhamos e o ciclo de baixa tem que play out"? Não existiu, porque pimenta no rabo alheio é refresco; planilha do FMI é para a casta baixa e "não para nós" dos países do Atlântico Norte, Hipócritas!

E então, ser ou não ser de esquerda? Se os bancos centrais dos países desenvolvidos financiam os deficitários e problemas públicos e privados sem limites, com certeza eu vou querer, que, no mínimo, o bem estar da população esteja no meio dessa bagunça! E óbvio que não vou querer ser freira em prostíbulo! Se os EUA, EU, UK e Japão são as maiores "prostitutas", não vou eu, com minha educação estadunidense, querer que o meu Brasil se beneficie das mesmas benesses e que o pobre do mundo todo tenha melhores oportunidades? Claro que vou! Alguém acha certo dezenas de trilhões serem criados do AR para que não seja para benefício de todos e só de uma pequena porção da população? . Aaaaaaaa mas afeta todo mundo no longo prazo, está sendo para bem geral da população . Afeta mesmo? Noto que esse longo prazo nunca chega e é por isso que, se Hayek não conseguiu espaço com as potências mundiais, que sejamos todos Keynes, mas para todo mundo e não só para os países "desenvolvidos". Nesse caso, sim, faço questão de ser da esquerda caviar, porque, afinal, não sou de esquerda e sim tenho bom senso. Quem não tem o seu BC que levante o dedo. Zzzzzzzzz... ninguém ... Tudo virou decisão política, não há mais mercados livres, vamos acordar! Será que a direita de hoje não é a esquerda de ontem?