Wednesday 24 June 2015

O Brasil, Portugal, EUA, China e etc; economia familiar vs economia do governo; a ignorância e ou hipocrisia dos políticos e intelectuais.

Os anos passam e os anos voam, mas certas coisas não mudam. Sempre existirão os manipuladores e os manipulados ou sempre haverá aquele exército ou aquela polícia / exército quase que invencível, que estará vigiando o interesse de poucos em detrimento do interesse de muitos, seja por ignorância que a "academia econômica" provém, seja por pura má fé mesmo; eu prefiro acreditar que seja por ignorância. É verdade que, ao longo do tempo, houve um grande avanço social no mundo e comparada à época medieval, estamos muito melhores em termos de diferença econômico financeira social hoje em dia.  É verdade que, também, muito menos pessoas proporcionalmente aos períodos em questão são subnutridas, mas o fato é que o "esquema" permanece o mesmo, existem manipulados e manipuladores e é muito difícil argumentar contra essa tese. Outra situação muito importante a notar é que nos países desenvolvidos, a diferença social entre ricos e pobres parou de melhorar nos últimos 20 anos, e, com isso, temos que imediatamente parar para pensar, pois a ideia não é tirar dinheiro dos ricos para dar aos pobres, a ideia é dar equivalência de oportunidades básicas a população e criar valor agregado nas economias. O Brasil, hoje, está em situação difícil, pois a inflação corrente é alta, mas, com certeza, esta inflação cairá e mesmo que esse texto tenha uma perspectiva global; mesmo o Brasil, que todos acham um lixo, também pode ser incluído no raciocínio que segue no texto. Políticos e intelectuais, como é de praxe, fazem a opinião pública pensar que a economia de uma família é similar a economia de um governo, logo, a economia do governo tem que ser austera, se não, pode quebrar / falir, ou pelo menos, passar por grandes problemas. A verdade é que o governo é monopolista ou "price maker" do dinheiro a as famílias são "price takers" do dinheiro, pois o governo é responsável pela criação do dinheiro (única moeda legal aceitável legalmente), o governo também pode controlar o crédito geral da economia e pode, também, ao seu critério, ajustar o custo deste dinheiro, algo que chamamos de juro.  Essa função, de criação de dinheiro ou crédito, é dividida com os bancos privados, que também podem criar dinheiro via crédito, porém, os bancos privados, em tese, são ou deveriam ser como as famílias, ou seja, terem restrições orçamentárias e poderem, de repente, quebrar / falir. No UK, há pouco tempo, as eleições foram ganhas por um partido que falava que as pessoas deveriam ter cuidado, e que o seu governo deveria ser administrado como uma família, ou seja, com austeridade, e agora falam em mais austeridade, cortes no orçamento, ou seja, falam em corte na criação de dinheiro por parte do governo. Em Portugal, muitos falam que as eleições vão ser ganhas por conservadores, também austeros, e que o argumento, "administre seu país com austeridade como uma família deve fazer", novamente está influenciando "injustamente" as mentes do eleitorado. Espero que seja por ignorância. Em Portugal, em todo caso, as pessoas vivem sem sua soberania fiscal e monetária, pois, essa soberania mora em Bruxelas, no coração da União Europeia, isso tudo porque os Portugueses acham que, realmente, a economia de uma família é semelhante à economia de um governo e acham que devem viver melhor na zona do Euro e que fora dela, a vida seria terrível, quando isto não é verdade, nem de perto.  Estar na união Europeia para Portugal significa quase que Portugal tenha um câmbio nacional fixo ou pegado a outra moeda, e a tese que segue se refere única e exclusivamente a sistemas econômicos que trabalhem com câmbio flutuante e com moeda nacional aceita.  A vida dos portugueses pode ser melhor, mas essa é uma decisão da União Europeia e não dos portugueses; a tese abaixo pode ser aplicada para a Europa como um todo, mas quando há discriminação clara entre países usando a mesma moeda, tenho obrigação de mostrar que o argumento que segue abaixo vale para uma reflexão dos Portugueses. A reflexão sobre à possibilidade do governo gastar mais e melhorar a vida da sociedade e não ao contrário.  Muito provavelmente a vida dos portugueses fora da Europa seria muito melhor no médio e longo prazos, nada como poder decidir seu próprio destino dentro da nova norma mundial de fiat currency,( sistema de papel moeda sem lastro físico) .  

Imaginem uma família nuclear com 2 filhos, ou seja 4 pessoas morando na casa. Em uma época, a inflação vai subindo um pouco mais, o salário da família não está mais cobrindo as despesas mais básicas ou fixas e o marido e ou esposa resolvem que vão procurar mais um emprego, pois, se não, a família vai acabar inadimplente / quebrada.  Isso é a vida real de uma família, essa é a vida do setor privado e os políticos querem nos fazer acreditar que o dinheiro é escasso também para o governo e que não há muito o que fazer porque, se não, a sociedade vai ver grande inflação ou porque, para que o governo gaste, ele tem que, antes, receber impostos ou competir por dinheiro na economia com o setor privado, emitindo dívidas, podendo levar as taxas de juros para estratosfera, pois, afinal, o dinheiro tem que vir de algum lugar, vale ler o texto, ( http://itisallabiglie.blogspot.com.br/2015/04/o-que-e-dinheiro-o-que-e-qe-o-brasil-e.html ). Tudo isso é uma grande "balela", me desculpem aos mais sensíveis. O governo está em posição completamente diferente de uma família, ou do que o conjunto de todas as famílias e também do conjunto de todas as empresas privadas que existam em determinado país; governo é governo e setor privado é setor privado. Essas restrições de dinheiro só existiam ou existem tanto para o setor público como para o setor privado, quando havia a restrição do padrão ouro ou quando, na modernidade, um país, resolve pegar (peg) a sua moeda a uma outra moeda referência, com tem sido o caso do dólar para alguns países na história recente. Nesses dois casos, sim, existe uma restrição monetária, pois para criar dinheiro novo, vai existir um contra partida inevitável no sistema, sistema esse de tamanho finito, pois existe uma quantidade finita de recursos / dinheiro a disposição em um sistema de moeda "pegada" ou fixa a outra moeda. No caso do peg moderno, isto nada mais é do que uma auto imposição política, ou decisão política de criar essa restrição e não é relacionada a vontade dos mercados, é uma escolha do governo e não imposição dos mercados. Como vai ser explicado, hoje em dia, se houver alguma organização mínima em um país, o céu é o limite ou a inflação é para o governo que, junto ao setor privado podem criar um mundo mais justo e mais farto para todos. Não que eu ache que mundo farto seja o melhor caminho para o ser humano, mas já que os intelectuais, políticos e CEOs, estão andando de barco de 100 pés, enquanto existe uma geração inteira ( "Milllennials") no mundo todo, sem muita perspectiva e que nem tenham a ambição de, sequer, possuir uma bicicleta ( "post ownership society") eu sou obrigado a querer uma certa nivelação nessa história, pois o dinheiro não pode ser tão fácil para uns e tão difícil para outros, ainda por cima, com o governo querendo fazer a sociedade acreditar que, se o governo gastar menos vai ser sempre melhor para a economia e que com menos intervenção do governo as coisa serão sempre boas e determinadas pelo mercado, quando isso não existe na prática, e sim, nos livros de economia escritos antes da década de 70, que jamais contemplaram a realidade do mundo moderno e que estavam atrelados ao padrão ou restrição do ouro. Mesmo na interpretação mais arrojada da teoria neo Keynesiana possível, não existe a clareza da observação dos últimos 20 anos do mundo e, por isso, não podemos ficar quietos, pois estamos sendo manipulados, vale ler ( http://itisallabiglie.blogspot.com.br/2015/04/gravity-heat-light-money-and-freedom.html ). Vale ler também ( http://itisallabiglie.blogspot.com.br/2015/03/sobre-os-aforismas-economicos.html )

Quando eu digo que a economia de um governo é completamente diferente de uma economia de uma família, eu não estou só supondo, isso é observável e qualquer um pode observar.  Notem, o governo é uma espada na sua cabeça, sempre foi e sempre será, infelizmente, é a vida como ela é.  O governo impõem que as famílias paguem impostos na moeda que aquele mesmo governo criou, ou seja, para a família poder ficar solvente com o estado, tem, necessariamente, que correr atrás dos créditos que o governo aceite para a família poder ficar solvente. Ou seja, as família têm que ganhar esse dinheiro para depois pagar impostos; já o governo, só pode criar impostos se criar o dinheiro ou permitir que bancos privados criem dinheiro antes, para que aí o estado possa arrecadar, uma coisa não pode acontecer sem a outra ter acontecido antes. Primeiro cria-se o dinheiro, depois paga - se o imposto, é impossível pagar impostos sem dinheiro.  O estado está em posição inversa a família em termos de dinheiro. Ou seja, o estado é monopolista da criação de moeda aceita na economia, já as famílias são os que tem que correr atrás do dinheiro para estarem solventes com o estado. Dentro dessa tese, como é obvio, entra o fator de coação do governos, o governo é que possui o poder da polícia, do exercito e de fazer leis, com isso, pode realmente impor / implantar a disciplina necessária para que as famílias fiquem "em dia" com o governo e com esse mesmo dinheiro, podem consumir produtos e serviços na economia.

Mas porque eu estou tentando indicar que dentro de um sistema de moeda / câmbio flutuante, que o dinheiro do governo é praticamente ilimitado e o dinheiro das famílias não é ilimitado?  Por que esse argumento político austero é pura demagogia e ou ignorância?  Temos que entender que para haver renda tem que haver gasto, é impossível o dinheiro ser gasto sem antes ter sido criado ou pelo governo ou por algum banco, ou seja, em um sistema de fiat currency, o governo pode criar o dinheiro que for necessário para amenizar o ciclo econômico e evitar que as pessoas sofram em uma sociedade. Mais uma vez, não é que eu seja a favor ou não de não termos mais ciclos econômicos de boom e bust como seria o clássico da economia moderna liberal, eu só estou observando o que vem acontecendo nos últimos 20 anos e noto que os governo, absolutamente, não têm limites de dinheiro e que a inflação, que é o único limitador da criação desse dinheiro por parte do estado, não acontece no mundo na maioria maciça dos casos hoje em dia, isso, se, não forem todos os casos.  Países que já estão tentando a criação de inflação via déficits fiscais colossais e ou via QEs colossais, um deles até por mais de 20 anos (Japão) não estão conseguindo criar inflação, acho que isso já é evidência suficiente. Mas não vamos perder o foco.

Na época do padrão ouro, assim como as famílias, os governo tinham que tomar cuidado com os gastos e com a criação do dinheiro em uma economia, pois o governo sabia que um cidadão poderia ir ao banco querer pegar / sacar a sua barrinha de ouro e esta barrinha deveria estar depositada nos cofres do governo, ou seja, existia uma restrição clara a criação de dinheiro que era exatamente a quantidade de ouro existente. Como as famílias, os governos tinham que tomar cuidado com os gastos, pois poderiam ficar sem seu estoque de ouro e "quebrar". Contudo, em 1971 o último país no mundo a ter algum "peg" com o ouro foi os EUA, e nesse ano, os dólares que haviam sido "abraçados" como moeda reserva e de mercado internacional pelo mundo após a segunda guerra mundial, não possuía mais nenhum ouro / lastro residual guardado para a população americana ou detentores desses dólares pelo mundo.  Ou seja, a grande restrição para o governo criar moeda que era o ouro, desaparecera.  (Notem que quando ou falo do padrão ouro eu falo, também, de sistemas que tenham moedas pegadas ( peg) a alguma outra moeda como o dólar; nessas economias, a moeda de (peg) funciona como o ouro funcionava em termos de restrição a criação de dinheiro por parte de um governo. Os leitores têm que entender que o raciocínio que tento colocar aqui nessa redação é para sistemas econômicos de moedas flutuantes e moedas nacionais aceitas por suas populações e não moeda fixa / pegada em outra moeda.)

Nos últimos 20 anos, temos visto o Japão garantir sua "integridade" econômica da seguinte forma. O governo japonês vem criando cada vez mais dinheiro / dívidas e isso vem "enriquecendo" sua população / famílias, vale ler ( http://itisallabiglie.blogspot.com.br/2015/04/o-brasil-e-teoria-monetaria-moderna.html ), pois quanto mais dinheiro é criado e gasto pelo governo mais as famílias conseguem ter acesso a esse dinheiro e mais próspero ou estável é o país. O governo do Japão, tem dívida sobre PIB de 220%, o banco central do Japão possui mais de $6tri em ativos (100% do PIB, fora o off balance sheet) ou seja, com tanto dinheiro / dívida / gasto pelo governo é obvio que a economia, mesmo cada vez mais fraca na parte privada, iria sobreviver e muito bem obrigado. Nada como governos endividados para garantirem sociedades mais prósperas e ricas.  Eu não estou, de forma nenhuma, excluindo o mérito do setor privado japonês, nem estou deixando de lado todo o crédito privado, que também gerou riqueza aos cidadãos, só estou falando que na presença de déficits ficais gigantes da para fazer de tudo, desde garantir a própria dívida gigante, passando por um estado rico, um exercito forte, mas, também, podendo salvar empresas do setor privado como vem acontecendo a torto e a direito no Japão. Agora me falem, a economia do governo é igual a economia de uma família? Ou, se a economia possuir um câmbio flutuante, se os cidadãos daquele país reconhecerem a moedas do seu país como "riqueza", o céu é o limite para os gastos governamentais? Com certeza sim.  Pensando bem nisso, o bem estar social geral não é mais questão econômica de restrição, mas sim, uma questão moral, pois não há restrição de dinheiro, a única restrição é a inflação.  Mais uma vez, não fui eu quem escolhi esse caminho, foram os EUA, Japão, UK e União Europeia, eu só estou constatando os fatos e indicando que os políticos e intelectuais são ignorantes ou mal intencionados com argumentos de austeridade. Esses países desenvolvidos sempre impuseram a cartilha "medonha" de austeridade do FMI para os países em desenvolvimento com problemas ao longo do tempo, mas na hora que esses mesmos países "desenvolvidos" deveriam seguir essa cartilha ( em tese), não quiseram; ia ser muito difícil para eles aguentarem, assim não da!!! Santa Paciência!!! Na Europa pegaram a Grécia e Portugal para "cristo" na parte fiscal, e o resto dos países? e os EUA e o UK e o Japão? ( Não estou retirando as culpas parciais desses países da Europa, mas já que existem leis a serem seguidas, que todos as sigam e não só os "piores países"). O que aconteceu na China nos últimos 10 anos? O Crédito basicamente explodiu patrocinado pelo governo. Nos últimos 6 anos os chineses construíram um setor financeiro do tamanho do setor financeiro dos EUA, a prosperidade foi e tem sido gigantesca e, o melhor, nada do incômodo de inflação.  Mais uma vez, como a China criou tanta riqueza em tão pouco tempo? O dinheiro apareceu de repente? Claro que não, o dinheiro foi criado e ponto final, isto não é discutível, isto é um fato. Os chineses entenderam bem, principalmente após a crise de 2008, que austeridade do governo é uma "esquema" e um argumento furado e, por isso, foram as compras! e estão muito bem obrigado por mais mal que tentem falar do país. E 2008, por que essa crise é tão importante para o argumento? O que aconteceu nos EUA, UK e Europa em 2008?

Para que o texto não fique muito longo, vamos falar do exemplo dos EUA.  Para entendermos 2008, temos que voltar a década anterior, onde, o setor privado começou a tomar crédito e mais crédito na economia, ao ponto de tomar crédito em um ritmo de 7% do PIB por ano ( na ausência de déficit público), algo que criou muita riqueza, mas acabou criando a bolha da internet no Nasdaq que subsequentemente estourou e junto com o evento 11 de setembro ( terrorismo), jogaram a economia americana "na lama".  É claro que eu não coloco a culpa dessa crise ou de outras crises só no setor privado, é claro que o setor publico tem culpa também, o setor privado é só o responsável pela exuberância ou magnitude dos ciclos, tanto para baixo, quanto para cima ( na grande maioria das vezes) e cabe ao governo, na hora da crise, entrar com mão forte para garantir o bem estar da população e optar por menor stress, afinal, o dinheiro do governo é ilimitado e só a inflação é o limite para a criação do dinheiro. Outra tese é: Cabe ao governo fiscalizar e controlar mais o setor privado para que essa volatilidade econômica não volte a acontecer da forma que vem acontecendo há 100 anos, para não falar 1000 anos, de todo modo, o governo tem que ser peça fundamental na economia ou fiscalizando ou suportando financeiramente. Mais uma vez, não sou eu que escolheu governos tão ativos, foram os países que mandam no mundo. Logo depois dessa crise do Nasdaq o banco central americano jogou a taxa de juro para 1%, o governo começou uma campanha gigantesca para incentivar o setor de imóveis, a economia recuperou bem, mas, novamente, os bancos privados exageraram, ou seja, mais uma vez, o setor privado se lambuzou mediante a fraca fiscalização do estado e boom!!, de repente todos os bancos do mundo desenvolvidos estavam quebrados e nem empresas de altíssima qualidade fora do setor financeiro conseguiam rolar dívidas de curo prazo; o sistema financeiro mundial congelou / quebrou em 2008, pois ficou claro que existia muito pouco dinheiro para "carregar" tantos ativos nos balanços e fora dos balanços dos bancos privados e as empresas privadas de hipotecas, que eram "patrocinadas" pelo governo americano, as GSEs, também quebraram e o que aconteceu depois? cartilha do FMI? Nem pensar!! Os EUA nunca optaram por austeridade, nunca! depois dessa crise aparecer. O banco central americano comprou $5 tri em ativos do sistema ( principalmente títulos do próprio governo americano :) ), o governo americano criou mais de $6 tri em dívidas novas e a economia e vários bancos e empresas privadas foram salvas pelo dinheiro público criado imediatamente. Agora me falem, novamente, a economia de um governo é igual a economia de uma família? Claro que não!  

Mas e a inflação, que é a maior restrição para os gastos gerais de uma economia? Hoje, países, que possuam algum grau de desenvolvimento, trabalham com uma economia on line, ou seja, quando uma demanda é percebida, a oferta é logo adequada aquela demanda nova e a inflação não ocorre. Não adianta tentar, mais uma vez, aplicar leis que foram escritas há 50 anos, ou antes do padrão ouro acabar, ou antes do computador ser inventado, ou antes do celular ser inventado, ou antes da internet ser inventada ou antes que os softwares avançados tenham sido inventados, vivemos em um mundo online e na presença de um mínimo de organização é muito difícil gerar inflação mesmo com o governo gastando ou tendo dívidas gigantes, muito pelo contrário, está sendo difícil para o mundo, mesmo com governos muito maiores, gerar alguma inflação no mundo desenvolvido. É só olhar para o Japão que foi o país que mais criou dinheiro proporcionalmente no mundo e sofre com os riscos de deflação ha anos. Olhe para a China que tinha $7 tri em ativos financeiros em 2008 e hoje tem $28 tri, olhe para a china que consumiu em 4 anos mais cimento do que os EUA consumiram em toda a sua história, olhe para a China e veja um país que consome 65% de todos os commodities do mundo e que não tem problema nenhum de inflação. Olhe para o UK que vem rodando déficits fiscais governamentais desde 2002, e que nos últimos 5 anos rodou déficits fiscais de 8 e até 10% do PIB, que ainda roda déficit fiscal de 5% e vai rodar mais déficits, algo que salvou a economia depois de 2008, cadê a inflação incômoda no UK? Não há. ( Existem claramente outros motivos para a melhora da economia do UK após 2008, só estou indicando que os déficits fiscais gigantes ajudaram brutalmente).  Digam se não é estranho que o partido que falou de austeridade tenha ganho a eleição no UK ha pouco tempo. Partido esse que fala que a economia estatal tem que ser administrada como a economia de uma família, isso, depois de salvarem bancos privados e executarem hipotecas nos últimos 6 anos. Agora, vem a austeridade? por que? há algum problema de inflação no UK? está havendo alguma super desvalorização da moeda do UK? Está havendo corridas aos bancos no UK? Não? Então porque arroxar as contas? Ignorância? Má fé? É realmente incrível a hipocrisia e a manipulação da opinião pública.

E o Brasil? O juro é a maior praga do Brasil, arrebata aproximadamente 30% da arrecadação de impostos e não se justifica mundialmente falando. Um juro real de 6% é pago no Brasil, no mundo de hoje, é comparável a uma situação de guerra civil, e essa não é a situação do Brasil.  É inadmissível que o furo ou carrego financeiro do Brasil seja tão alto.  "Nenhuma" empresa em um mercado competitivo aguenta esse "carrego"/custo financeiro. O Brasil passa por um momento muito difícil, principalmente por causa da inflação corrente que está bem acima da média da inflação dos últimos vários anos.  Como tenho falado ao longo do texto, inflação é o limite e, por isso, o Brasil tem mesmo, que tomar cuidado.  Vale focar no contexto.  Vale notar um monte de eventos positivos que ocorreram nos últimos 10 anos no Brasil. Mais de 100 milhões de pessoas foram beneficiadas por programas sociais para uma inclusão social relativa, isto também ajudou o resto da economia, pois esses gastos acabam sendo renda de outras pessoas como venho explicando nesse texto, e nessa parte o Brasil agiu muito bem. O Brasil também conseguiu algo historicamente impensável, conseguiu colocar a economia em pleno emprego, com dívida líquida pública menor.  Contudo, recentemente, o governo cometeu erros claros e graves, muito provavelmente para garantir a reeleição. O principal deles, acredito, tenha sido tentar estimular mais a economia via mais crédito público em um momento que já estávamos com a taxa de desemprego abaixo de sua taxa natural e na presença de produtividade marginal negativa do trabalhador. Além disso, na presença recente dos programa de incentivo ao estudo, por volta de 3 milhões de pessoas saíram da população economicamente ativa para estudar, isto acabou apertando ainda mais o mercado de trabalho puxando para cima os preços principalmente dos serviços, vale ler ( http://itisallabiglie.blogspot.com.br/2014/11/a-engenharia-da-inflacao.html ) e vale ler também  (http://itisallabiglie.blogspot.com.br/2015/04/fies-mantega-e-inflacao.html ) .  Esses fatores foram o "empurrão final" para que a inflação "espirrasse" no Brasil. Logicamente, que, vimos problemas de oferta de água / energia, vimos defasagens no preço da gasolina; preço este, que voltou a se "alinhar" em termos internacionais recentemente. Agora, algo muito importante a notar é, a economia brasileira brilhou durante alguns vários anos, mas foi sempre a base de estímulo da demanda e sem investir na oferta. Infelizmente, o Brasil não entra naquele grupo de países com economia on line; on line até é, mas a infra estrutura e muitas leis "pecam" e, com isso, a possibilidade de conciliar oferta e demanda no Brasil é muito mais demorada.  Vimos, também, uma desvalorização cambial substancial nos últimos 24 meses que também pressionou muito a inflação ( fenômeno mundial de alta no dólar, principalmente nos últimos 18 meses).  Finalmente, a inflação também subiu, porque temos leis ruins para a inflação com uma economia indexada, uma constituição mal feita para nossa época, ou seja, N fatores contribuíram para a inflação do Brasil subir. Contundo, essa inflação vai ceder e se o governo for mais "esperto" vai começar a investir na parte da oferta da economia, com a liderança do Mangabeira Unger, para, aí sim, nos transformarmos em um país mais estruturado, podendo, assim, usufruir de grandes déficits e dívidas sem criar inflação com vem acontecendo em boa parte do mundo.  O que não pode acontecer no Brasil é querer só investir em tijolos sobre tijolos, e querer dar empréstimos subsidiados ( TJLP é um absurdo), é querer ceder empréstimos para grandes empresas esquecendo do médio e micro empresário, ou seja, muita coisa tem que mudar para podermos seguir em frente de maneira mais eficiente, ( principalmente leis). Temos que investir em empregos de maior valor agregado e temos que crescer de dentro para fora, adicionando valor as atividades já existentes. Para que possuir uma fábrica de óleo especial vindo da Amazônia, por exemplo, e exportar o óleo para outro país?  Por que não, ao lado da fábrica de óleo, não construir outra fábrica para adicionar valor a esse óleo e vender um produto com maior valor agregado? Por que deixar que outros países fiquem com a maior parte do lucro e com o maior imposto do produto final mais caro? O brasil precisa amadurecer. Já está mais do que provado, que a correlação entre inflação e juro é bem fraca no Brasil e que a Inflação tende a responder muito mais ao dólar e ao crédito do que qualquer outra coisa. O Brasil não precisa de ajuste fiscal feito da maneira que está sendo feito, estrangulando a economia, o Brasil precisa é de cortar os juros, isso sim, vai economizar muito dinheiro, vale ler http://itisallabiglie.blogspot.com.br/2015/04/juros-real-vergonha-nacional-o-brasil-e.html ). O Brasil é credor internacional hoje em dia, porque não paga a dívida em dólar? para que manter uma dívida em dólar? Vale ler ( http://itisallabiglie.blogspot.com.br/2015/02/requerimento-de-legislacao-para-atenuar.html )
                    
Não podemos nos deixar enganar ou influenciar pelos intelectuais de economia e políticos da atualidade.  Essas pessoas, por mais famosas que sejam, estudaram e receberam seus PHDs de uma "ciência econômica" antiquada como venho explicando. Gestores de fundos, economistas famosos, "todos" estão presos a velhas ordens econômicas de antes do final do padrão ouro. Nenhum ou muito poucos deles sequer contemplaram o que eu descrevi acima e continuam a "berrar"que a economia de um governo tem que se comportar como uma economia familiar, isto não é verdade como é observado pelo mundo e como foi escrito acima.  A pergunta é, quando vamos nos tocar que a maioria maciça dos economistas pensa de maneira errada hoje em dia?  Por que a China não serve de exemplo? Por que a crise de 2008 não abriu os olhos de todo mundo mostrando que a teoria econômica de governo restrito não se aplica mais? Amigos, temos que nos conscientizar e para aqueles que trabalham no mercado financeiro, esses, têm que se apressar mais ainda nessa "reciclagem", porque se forem "apostar" no mercado com o livro texto debaixo do braço, vão perder dinheiro seguidamente e seguidamente, pois, na prática, os fundamentos do livro texto não estão convergindo para a variação de preço de quase nenhum ativo no mundo ou vice versa.  Essa tendência tende só a piorar na medida que a teoria economia moderna vai se espalhando pelos corredores dos bancos, corretoras e universidades. Tudo isso vai ficar cada vez mais claro ao longo do tempo. 

Sunday 26 April 2015

Juro real, vergonha nacional, o Brasil e a vontade política.

Quando vamos a uma feira ou frequentamos super mercados, sempre temos a ideia de estarmos presenciando um mercado livre, aonde o estabelecimento ( loja)  A cobra mais caro do que o estabelecimento B, por qualquer motivo que seja, mas esse estabelecimento A ou B ou C é livre para cobrar "o que quiser". Essa é a ideia básica de como são formados os preços dos produtos nos mercados livres. Quando pensamos nas nossas finanças pessoais, entendemos bem nossos limites. Toda essa ideia de finanças pessoais entra em congruência com o mercado livre de preços nos estabelecimentos comerciais; sabemos que podemos acabar comprando menos ou mais porque o mercado correspondente de preços é completamente livre e, se pesquisarmos, por exemplo, vamos poder comprar mais barato. Mas e o dinheiro? Como é formado o mercado do dinheiro? Quanto custa o dinheiro e quem manda nesse preço? Eu me refiro a quanto custa o acesso ao dinheiro na economia; o juros cobrados no Brasil.  Esse preço é formado no mercado livre como o mercado de tomates? O preço do dinheiro é arbitrado, estipulado matematicamente, mensurado livremente pelo mercado? Ou seja, o dinheiro custa mais ou menos por causa da demanda maior ou menor ou oferta maior ou menor desse dinheiro como acontece com o mercado de tomates?  Pelo que notamos no mundo, o preço do dinheiro é ditado pelos governos e não escolhido pelo mercado e isso deveria ser de total interesse da sociedade. É por isso tudo, que acho os juros reais no Brasil absolutamente inexplicáveis, distorcidos, altos demais!!! Como é possível um sistema econômico hoje em dia, avaliar o capital de maneira tão benevolente relativamente as horas trabalhadas por uma pessoa? O capital no Brasil é o mais valioso do mundo em termos de comparações as horas trabalhadas por pessoas na economia brasileira, isso tendo em perspectiva essa mesma comparação ( capital vs trabalho) com "qualquer" outro lugar do mundo. Muitos falam que o Brasil é caloteiro e, por isso, seu juro é alto, ou é alto por causa de suas instituições fracas, vale ler o texto do blog abaixo, esse tema é amplamente "explicado". http://itisallabiglie.blogspot.com.br/2015/04/o-brasil-merece-esse-tratamento_7.html .

Vamos tentar desmistificar certas ideias. Muitas pessoas falam que o Brasil é caloteiro e que deve sofrer por esses calotes por tempo indeterminado. "Um caloteiro não deve ser bem tratado"; é isso que um analista financeiro brasileiro comum vai falar para um pessoa comum. É de interesse nacional entendermos que calotes governamentais vem acontecendo ha tempos e tempos e nós brasileiros não somos a exceção e sim a regra no mundo. De 1800 até hoje, por volta de 70 países deram calotes governamentais / soberanos. 70!.  E detalhe, 70 países e mais de 160 calotes governamentais na história do mundo aconteceram desde de 1800.  No grupo dos caloteiros de aproximadamente 70 países, vimos em destaque, nas Américas: Chile, Canada, México.  Na Asia: China Japão, Índia.  Na Europa: França, Alemanha e Dinamarca. Ou seja, a fama de caloteiro do Brasil tem que ser revista, porque calotes vem acontecendo ao longo da história aos montes e pelo mundo inteiro.

Voltemos ao mais importante, que é, a vontade política de patrocinar x ou y taxa de juros em um determinado país, mas vamos falar principalmente do Brasil que aceita juros absurdamente altos, gastando aproximadamente 23% da arrecadação apenas para pagar os juros / serviço da dívida. A dívida brasileira nem grande é, quando comparada a maioria maciça das dívidas dos países do mundo, mas sua despesa / serviço da dívida é astronômico, pois o juro é altíssimo. Como falei, existe um gap ( estranha diferença de preço) entre o preço do trabalho e o preço do dinheiro / capital na economia / sociedade brasileira.  Não é possível que uma pessoa que, por exemplo, possua R$300.000 reais no banco ou $100.000 dólares, ganhe só de juros acima da inflação, juros real, R$18.000 reais líquidos em 1 ano em uma aplicação, ou seja, sem se descapitalizar ( contra a inflação), essa pessoa ganha aproximadamente 2 salários mínimos por mês apenas por possuir esse dinheiro, ou, fazendo absolutamente nada. Contando com juro total ganho dessa aplicação básica / "sem risco", essa pessoa ganha R$36.000 reais por ano ( falo do juro nominal também porque a inflação a descontar é muito particular, cada pessoa / família tem uma inflação diferente). Esse juro brasileiro é um absurdo e fora de propósito.

Como é que a economia brasileira vai para frente na presença de juros reais tão altos? A despesa financeira "mata" "qualquer" negócio no Brasil.  Eu sei que existem muitas outras mazelas no funcionamento sistemático do Brasil, infra estrutura ruim, impostos complicados, mão de obra desqualificada etc etc, mas notem; a despesa financeira é algo que o governo faz conosco, simplesmente por vontade própria, ou pior, por ignorância. Os governantes brasileiros acham que o mercado vai puni-los por algum motivo que não existe nessa magnitude em nenhum lugar do mundo. Não ha motivo algum que indique que o Brasil precise pagar o maior juros real do mundo.  Eu gostaria, nesse texto, de chamar a atenção sobre essa variável super cara para o orçamento de todos nós brasileiros, o custo do dinheiro no Brasil, os juro altíssimo.

Se pagássemos juros reais ( acima da inflação) semelhantes aos do mundo todo, economizaríamos por volta de R$70 bilhões de reais por ano. O governo, hoje tenta economizar $1 bilhão aqui, $5 bilhões ali, e pode, com um simples "decreto" ( não precisa e nem é para ser feito de uma vez só, mas pode ser feito rapidamente, ao longo de vários meses) economizaríamos R$70 bi por ano!. Quanto desenvolvimento não poderíamos "comprar" com esse dinheiro todo o ano?  "Aaaaaaa, mas a inflação vai "explodir", e o crédito vai "explodir" se os juros caírem!!!" Conversa fiada!!!.  Mil desculpas a quem pensa dessa forma.  A correlação entre juros e inflação no Brasil é fraca ha N anos, e nem "ha correlação" entre juros baixos e altos e a sessão de créditos no Brasil ha N anos, pois o crédito público entrou em cena de maneira forte. E para completar, a correlação entre juros e inflação no mundo ha N anos é fraquíssima.  E pior, não existe teoria de inflação alguma no mundo que seja de algum uso prático, são todas teorias "furadas". Vale ler o texto do blog sobre inflação.  http://itisallabiglie.blogspot.com.br/2014/11/a-engenharia-da-inflacao.html .

Quem dita certas coisas das mais importantes não são o mercados e sim os políticos, o preço do dinheiro é um deles. O que poderia explicar taxas de juros negativas na Europa, depois que os governos aumentaram brutalmente suas dívidas e seus déficits fiscais após 2008, se não a vontade política?  Não houve uma corrida gigante por crédito / poupança porque todo mundo queria pedir emprestado ao mesmo tempo após a crise de 2008? Por que o juros foi para zero e não para cima como os teóricos sempre clamaram? Por que não houve inflação e sim deflação? Mais uma vez, estamos brincando com a sociedade brasileira continuado a pregar teorias que só vão servir para um museu de economia e que hoje, não valem "nada". Vale ler o texto do blog que fala sobre esse tema, http://itisallabiglie.blogspot.com.br/2015/04/o-brasil-e-teoria-monetaria-moderna.html .

A sociedade tem que entender que o preço do dinheiro, é uma função única e exclusiva da vontade do estado, porque o governo faz as leis e o preço do dinheiro hoje, no mundo, é uma lei e não determinado por mercados livres. Não adianta tentar acreditar que os juros são uma variável que depende da oferta e procura por dinheiro, pois, isso não acontece no dia a dia, quem decide o preço do dinheiro, os juros, é o governo. Não seria melhor retirar o banco central da decisão sobre o juros e deixar o mercado livre decidir?  Afinal, não são os agentes dos mercados desenvolvidos no mundo a favor de total liberdade e liberalismo? O governo pode não ter o controle total sobre a oferta do dinheiro no curto prazo ( pois bancos criam dinheiro via criação de empréstimos) e isso faz diferença, mas o preço do dinheiro, ou juros pagos pelo governo, juros básico de uma economia, o controle, a decisão é totalmente do governo.

A taxa de juros no Brasil nos últimos 10 anos esteve em 15%, esteve 10%, esteve 13%, esteve 8%, esteve 13% e a inflação ( medida pelo IPCA) foi na média sempre entre 4,5% e 6,5% ( absolutamente controlada e fora de qualquer correlação relevante com o juros pagos pelo governo).  Entre 2005 e 2007, houve queda de juro de 18.5% para 11.5% e a inflação nos vários anos seguintes ficaram entre 5% e 6%.  E o Crédito? Mesmo na presença dessas oscilações grandes de taxas de juros, o crédito cresceu em linha reta para cima "ininterruptamente" nos últimos 10 anos. No final dessa expansão / "ciclo", é claro, o crédito privado foi retraído, pois a correlação entre juros, atividade econômica e crédito privado é real, mas quando o setor público entra dando crédito até de forma subsidiada, ou contrai o crédito por vontade política, a correlação cai brutalmente. Por que nosso governo finge estar combatendo a inflação via o aumento de juros?  É por que não entendem o que eu acabei de explicar nesse texto? É por complexo de inferioridade, como se aqui no Brasil houvesse mazelas que não existem no exterior?  Ou é porque os intelectuais, os catedráticos continuam a pensar nas teorias antigas de economia, que não valem mais para nada, e continuam a pensar que existe uma poupança finita pré estabelecida e que, por isso, o setor público e privado precisam concorrer por esses fundos no mercado interno e externo? Que besteira! Como já foi amplamente explicado, não ha limite para um governo "estável" em termos de aceso ao dinheiro, o único limite é a inflação.

Como é que os EUA, Europa, Japão e UK criaram tanta dívida em tão pouco tempo nos últimos 6 anos e os juros só caíram, se não por vontade política? Como é que o Brasil, Russia e China compraram tantas reservas internacionais nos últimos 6 anos, se não por vontade política? Novamente, como explicar taxas de juros negativas na Europa hoje, se não por vontade política? Pois é, o dinheiro apareceu nesses países e ainda o dinheiro apareceu bem barato; foi o custo do dinheiro que esses governos decidiram pagar. A inflação faz diferença no preço do dinheiro ou juros? Sim, claro, se a inflação é baixa o juros podem ser baixos "em tese" ( esse tema vale escrever um outro texto). A inflação é importante, mas o problema é que, lembrando, eu estou falando em juros real no Brasil ( juros pagos acima da inflação) o juros no Brasil é aproximadamente 13% e a inflação do ano que vem, vai ser, no máximo 6%, ou seja, é um juro real absurdo.  Podem falar que esse ano a inflação está maior, mas é só olhar a média da inflação dos últimos 10 anos e a média das expectativas da inflação para os próximos 10 anos, que veremos que esse ano de 2015 é um ano fora do normal ou outlier em termos de inflação.

O governo brasileiro acha que resolve grande parte de seus problemas com os juros reais mais altos do mundo e compromete seu desenvolvimento por causa de crenças erradas.  São $70 bilhões gastos "de bobeira" em juro real pago a mais do que deveríamos pagar, isso, só para estarmos em linha com o resto do mundo.  Mas e o dólar, não iria subir brutalmente se os juros caíssem tanto? Bem, entre 2005 e 2008, o juro só caía e o dólar só caía no Brasil; ninguém queria comprar dólar mesmo no período em que a taxa de juros básica no Brasil caiu de 18.5% para 10%. Ou seja, depende muito da situação do mundo e, com isso, a correlação ensinada pelos intelectuais de plantão sobre essas duas variáveis, juros e o preço do dólar também é fraca.  O Brasil tem é que tomar vergonha na cara, expor sua tese, e, com certeza, cair esse juros real maluco, principalmente agora que não ha inflação de demanda e a economia está em recessão. O Brasil tem N mazelas, mas com certeza, a mais fácil e lucrativa de resolver é cortando esse juros real que "usurpa" e "ancora" a economia, acorda Brasil!

Monday 20 April 2015

O que é o dinheiro? O que é o QE? O Brasil e o desenvolvimento

O que é o dinheiro ou o que é riqueza financeira? Da onde vem o dinheiro e de quem é a responsabilidade sobre a criação desse dinheiro? Essas são perguntas que, depois de mais de 170 anos, o parlamento do UK resolveu discutir, mas pouco se avançou, após tal debate. (Vale ver, https://m.youtube.com/watch?v=EBSlSUIT-KM&feature=youtu.be ). Incrivelmente, o parlamento inglês estava bem vazio, porque poucos membros da elite política do UK sequer sabiam debater tal tema. Não seria de total e absoluta vontade da sociedade saber exatamente o que acontece com o dinheiro, da onde ele vem e para onde ele vai?  A democratização desse dinheiro não seria o maior objetivo do governo via o pleno emprego a "todo custo"?  Os políticos mais preparados para discutir assuntos importantes no mundo sequer entendem o básico sobre o dinheiro e para completar, economistas PHDs e muitos dos próprios membros escolhidos para dirigir o FED, banco central americano, também não sabem muito bem o que se passa com o dinheiro e qual teoria a adotar sobre o dinheiro e a sua criação. O que é o QE que aparece nos jornais intensamente desde a crise de 2008? QE ajuda, realmente, a economia a melhorar? Será que o conceito de "print money" QE, imprimir dinheiro, não está equivocado? O resto do mundo não faz QE também?  Será que, não é uma eterna dívida crescente que move a economia do planeta terra? E o Brasil, não deveria se espelhar em economias como a chinesa e se beneficiar em termos de desenvolvimento relativo? 

O Estado / Governo é o monopolista na criação de notas e moedas, ou seja, o governo é monopolista da criação do dinheiro e se responsabiliza por esse dinheiro criado. Contudo, moedas e notas são uma pequeníssima parte do dinheiro total do planeta, a grande maioria do dinheiro está em forma de depósitos bancários. No UK, por exemplo, apenas 3% do dinheiro total está em forma de notas e moedas e no mundo todo é isso acontece. Quando um banco privado cede um empréstimo, esse banco cria um depósito bancário na conta do tomador do empréstimo, com isso, o banco criou dinheiro na hora, ou seja, vivemos em um sistema híbrido entre estado / governo e os bancos privados, pois quando um banco privado cria um claim ( uma revindicação financeira sobre um devedor) ele está criando dinheiro.  Não seria de interesse total da sociedade saber como é o processo ou como foi o processo de escolha de quem, além do governo, vai poder criar dinheiro como o estado faz?  Não seria de total interesse da sociedade querer saber se esses mesmos banqueiros estão servindo a algum propósito econômico - democrático?  Por que, quando os bancos iriam quebrar em 2008 no mundo desenvolvido, não podiam quebrar, se não, "a civilização iria acabar"?  Se existe um setor na economia que não pode quebrar de forma nenhuma, não deveria ser melhor esse setor estar nas mão do governo ou, pelo menos, ser altamente regulado pelo governo?  Não é lamentável o setor privado financeiro ter aproveitado/ ganho, bônus milionários por anos e anos até chegarmos em 2008, quando a sociedade teve que pagar quase que a conta total de apostas irresponsáveis do setor financeiro privado?

Como foi escrito em um outro texto do blog, dívida pública, nada mais é do que déficits fiscais acumulados. O governo gasta mais do que arrecada ao longo do tempo e pronto, um déficit está formado / criado, e dinheiro é criado. Todos os países do mundo têm dívida pública ou escolhem ter dívidas diversas.  Vale ler, (http://itisallabiglie.blogspot.com/2015/02/requerimento-de-legislacao-para-atenuar.html ) Como o dinheiro aparece? Da onde saiu o dinheiro para financiar esses déficits dos governos? Da poupança externa? Da poupança interna? É necessário poupança? É até bonito falar que um dinheiro americano ou europeu tenha vindo financiar um déficit no Brasil, mas fato é, dinheiro, em sua base de criação como instrumento de pagamento, só se cria com dívidas e com a presença dos bancos centrais.  Em situação de déficit fiscal, ou a situação comum, o tesouro gasta com o dinheiro que o banco central criou imediatamente; o banco central deposita o dinheiro na conta do tesouro para o gasto referente do tesouro; o dinheiro gasto pelo tesouro em qualquer que tenha sido o bem ou serviço, no final do dia, vai "dormir" em algum lugar ( banco) e, assim, uma dívida é criada, pois o sistema nacional público cria um título de dívida e paga uma remuneração ao dinheiro criado, o dinheiro é acomodado no final do dia para render algo, business as usual.  Imagine que o tesouro paga a conta de um café, a dona da cafeteria vai chegar ao fim do dia e depositar esse dinheiro no banco para não ficar parado ( sem rendimento), isso acontece em todas as operações de compra e venda de uma economia.  

Quando os bancos privados nos EUA e em outras partes do mundo desenvolvido foram quebrar em 2008, um instrumento foi e é usado pelo FED , banco central americano ( é usado também no mundo inteiro e de maneira muito relevante), algo que foi tratado como não convencional; o tal do QE que aparece a toda hora nos jornais desde 2008, ou "quantitative easing".  Mais QE é, realmente, criar dinheiro novo, ou o que segurou a economia americana do colapso foram os $5 trilhões a mais de dívidas via déficits fiscais acumulados em 5 anos?  QE não faz nada de mais porque não compra bens e serviços na economia, QE ( criação de  dinheiro) compra ativos financeiros, principalmente dívida pública. O dinheiro criado compra outro dinheiro já criado, por que? A dívida pública já vale como dinheiro. Qualquer pessoa tem poder de compra ou de tomar crédito imediato com um título público nas mãos, ou seja, dívida pública vale como dinheiro. QE, sim, diminui o preço do dinheiro no longo prazo ( crédito de longo prazo), pois o banco central geralmente compra títulos de longo prazo forçando as taxas de juros longas momentaneamente a caírem, mas como isso é feito?   

Banco A tem, dentro do FED, banco central, um securities account e um reserve account ( conta títulos e conta dinheiro).  Quando o FED compra o título do banco A, o que faz é, simplesmente, debitar o securities account do banco A e creditar a reserve account do banco A ( reserve = dinheiro imediato, depósito bancário).  Ou seja o net ( o que sobra), ou o movimento feito, gerou zero de dinheiro novo, pois o título comprado que saiu de circulação e foi "depositado" no FED já valia como dinheiro no dia anterior a ser comprado.  As pessoas só falam que QE é dinheiro novo ou imprimir dinheiro porque os economistas ou membros dos governos só contam como dinheiro o reserve account, a conta dinheiro imediato ou cash.  Porém, entretanto, contudo, crédito público / dívida pública vale como dinheiro e, com isso, ambas as contas dos banco A, B, C, D etc dentro dos bancos centrais deveriam ser tratadas como dinheiro. Deveras, o que foi de grande importância na crise de 2008, foi o déficit fiscal criado nos EUA e não o QE em si. O QE facilita a tomada de crédito mais longo, mas se não houver demanda por crédito pelo setor privado, não adianta.  Mas o que o QE e o déficit fiscal estão fazendo no mesmo texto?

Uma das medidas mais importantes e eficientes para os EUA saírem da crise, foi a geração de déficits fiscais ( governo gastar mais do que arrecada)  trilionários  ao longo de 5 anos.  Incrível, mas os EUA geraram déficits fiscais a volta dos 10% do PIB após a crise de 2008, algo absolutamente impensável, porém foi necessário, e essa dívida, na verdade, poderia estar até maior e ter evitado a dor de muitas famílias americanas. O QE apareceu nos EUA em um momento em que o governo americano esteve precisando vender muita dívida pública nova e os compradores externos não queriam comprar mais treasury ( dívida americana) por causa da crise, com isso, os bancos americanos teriam que ser os maiores compradores desse déficit novo e gigante para salvar a economia e isso aconteceu na Europa, UK e Japão em grandes proporções. Ou seja, o banco central "forçou" os bancos americanos a comprarem títulos públicos, pois o banco central estava transformando / comprando a dívida existente em dinheiro imediato sem rendimento, esse dinheiro ou reserva bancária acabaria sempre tendo que render de um dia para o outro e, com isso, o banco que vendeu a dívida pública em carteira para o banco central, acabava comprando um título público novamente, pois o dinheiro tem que dormir rendendo em algum lugar, "se não é prejuízo".  Ou seja, o QE ajudou, pois existia uma necessidade de vender muita dívida nova, e havia, na verdade, muito pouco dinheiro imediato para esse gasto tanto no setor privado quanto no externo.  Concluindo que, é uma lenda a ideia de que dívidas só podem ser criadas através de uma poupança pré existente, seja ela interna ou externa. Dinheiro se cria, não estamos mais no padrão ouro, aonde existia a restrição da quantidade de ouro em circulação. Não é por menos que o valor do déficit fiscal americano acumulado dos últimos anos é muito semelhante ao tamanho do balanço / posses do FED, banco central americano, o tamanho das compras que o FED fez com dinheiro criado é proporcional a dívida criada. 

E no Brasil e no mundo? O Brasil é casta baixa, como já foi dito em outros textos do blog. Acusam-nos de termos instituições fracas, de sermos absolutamente corruptos, apontam o dedo para o nosso déficit,como se dependêssemos da poupança de alguém e quando quase todos os outros países rodam déficits fiscais ao mesmo tempo. Tentam justificar os juros absolutamente altos no Brasil clamando teorias econômicas que não se aplicam mais na prática, como foi amplamente explicado em outro texto do blog. Falam até da dívida brasileira que é das menores dentro do grupo das grandes economias mundiais. Essas idéias contra o Brasil não passam de grandes leviandades; o Brasil tem 1000 problemas, mas relativamente a outros países, é dos melhores em termos econômico financeiros. Os juros absolutamente altos no Brasil são justificados depois de tantas explicações sobre o dinheiro? O Brasil não precisa de superávits e poupança; ideia que tentam nos convencer que precisamos como se houvesse uma escassez de capital para executar algum projeto. Não é um absurdo todo esse juro real na economia brasileira? Enfim. 

Mas falando de QE no Brasil com exemplo. Lembram quando o dólar perdia valor "todo dia" no Brasil por alguns anos, há tempos atrás? O Brasil também fez QE.  Quando sobravam dólares no sistema financeiro a uma determinada cotação, ou o BC, banco central, tomava a decisão de deixar a cotação do dólar cair ou comprava reservas internacionais / dólares.  Se o governo não tivesse comprado nenhuma ou pouca reserva, o dólar teria caído muito mais rápido naqueles anos. O Brasil comprou $370 bi em reservas? QE é a reposta. O banco central cria uma reserva bancária em Reais para o vendedor do dólar e coloca os dólares no seu balanço, mas a contra partida é que esse dinheiro criado em Reais vai ter que "dormir" rendendo em algum lugar (banco), e esse lugar, no Brasil, se chama CDI e custa 13% ao ano.  O importante é notar que o processo é o mesmo dos outros países, cria-se uma reserva bancária no computador que vira dívida no final do dia, pois o país paga uma taxa de juros no seu sistema financeiro em moeda local para acomodar esse dinheiro novo. Novamente; o dinheiro se cria em toda a parte do planeta.

Dívida é riqueza, dívida é dinheiro, dívida vale como dinheiro, dívida vale como riqueza, o problema é que existe muita dívida privada e se não houver mais déficits público, o setor privado jamais será apto a mover as economias com consistência e, pior, vamos ver crises atrás de crises, pois os calotes privados vão aparecer.  O setor privado tem limites, o limite do setor público é apenas a inflação e não a criação o dinheiro novo. O sistema privado  funciona como a conta de uma família, se acabar o dinheiro não tem jeito, a não ser que o setor público salve a situação como aconteceu em 2008.  Notem que, déficit publico é gasto, ou seja, é renda privada, da mesma forma que dívida pública, ou estoque de dívida pública / dinheiro é riqueza privada acumulada, se você shut down / desligar o setor público ou querer diminuí-lo, vai estar fechando a torneira ao desenvolvimento econômico.  O Brasil deveria se espelhar na China e não deixar de se desenvolver por causa de limitações que não existem. Não precisamos de poupança, precisamos de liderança política. A China entendeu muito bem e possui dívidas públicas homéricas via sua instituição e seus bancos. Os ativos financeiro da China saíram de $9 tri de dólares em 2008 para $27 tri de dólares em 2014 e o desenvolvimento aconteceu sem poupança pública e privada de país algum ( a poupança chinesa é insignificante em relação ao dinheiro / dívidas criadas nos últimos vários anos).  Vamos acordar para o fato de que exitem riquezas em formas de terras, de equity ( participações em empresas) e riqueza financeira, essa riqueza financeira, nada mais é do que a dívida de outros.  Será que as pessoas são tão ricas assim? Vamos acordar; o que leva uma economia para frente hoje em dia é mais dívida e mais déficits fiscais e não ao contrário. Acorda Brasil!!! 

Wednesday 15 April 2015

Dick Tatorship

April 15th 2015. Mr Draghi was glitter-bombed. End the ECB dictatorship! One wonders how those institutions originally conceived as a discretionary mechanism to stabilise the banking systems arose to such a position. The amount of power bestowed on them is so tremendous that from a certain perspective they have become the dominant political power in most democracies. It does not matter that they dress themselves with technocratic robes, their decisions are political in the strictest sense of the word: their consequences affect asymmetrically different constituents of a society. They choose winners and losers. Without accountability, without representation. Why do democracies accept this? Let others argue about this. Let us tell the short history.

The single event that catapulted economic bureaucrats to the centre of political power was certainly the disruption of the Bretton Woods monetary system in the early 1970s. What followed was a traumatic and chaotic experience that ended with the elevation of central bankers as the ultimate guardians of money. Not that anybody had any idea of what money was. It must exist in an orderly form. Bureaucrats then argued: we do not need to understand the nature of money; rather we must play an active role in controlling its effects. How? Creating an environment of a relatively high unemployment where demand driven inflation does no arise. From stewards of the banking system to guardians of money to active policers of business conditions. This was not sufficient. Since they have an active role, they can implement those economic policies necessary for the attenuation of the periodic economic business cycles.  Fiscal policies are anathema. This was not sufficient. Since from now and then the banking sector create delicate credit crises why should they resume themselves to provide liquidity of last resort to the banking system. They could prevent such an outcome by acting preemptive and minimising the risks of a vicious full-blown credit crisis. This was not sufficient. If their preemptive actions was not enough to prevent the unfolding of the credit crisis they should have enough power to interfere directly in the financial companies providing explicit or implicit guarantees on their liabilities and broke artificial acquisitions in order to stabilise the banking sector. They could even decide which companies should survive and which should not. This was not sufficient. Here comes Mr. Draghi: they should have enough power to discriminate at will those countries that should suffer from those that should receive “whatever it takes” grace. Is this sufficient or not? We know the pattern. Let everyone decide for himself or herself. They usually grant themselves power when “needed”.


The irony is that at the same time they have so much power and so little. So many responsibilities and so few instruments. The underlying ideology is that money, and only money, can fix everything. What we have seen in the last of couple of years is that money is insufficient to fix anything of magnitude. We are facing the consequences of a dual anomaly. The banking system is incapable of pursuing its economical function of providing capital to credible enterprises and financing to creditworthy consumers; the corporate sector is incapable of pursuing its economic function of reinvesting their profits, in the interests of their stake holders, in order to provide continued economic development. We might invoke a third anomaly: the incapacity of financial markets participants to recycle capital efficiently, but this is a matter for another blog post. These anomalies should be addressed directly. By proper political actors. They involve deep vested interests and affect us all. They will not be fixed by money. We echo the activist mantra: let us bring back democracy to the table. If it is necessary to reform our monetary system and its institutions let us face the challenge. 

Tuesday 14 April 2015

Sobre iPhones e Cabeleireiros

Inflação e produtividade são dois conceitos particularmente problemáticos. Pela mesma razão: eles derivam da comparação do incongruente. Um iPhone e um corte de cabelo não são exatamente dois bens comensuráveis. É necessária uma abstração: de que em última instância o grosso do valor de uma mercadoria é definido pela quantidade e qualidade de trabalho empenhado nela. Noutras palavras, os outros tantos fatores subjacentes, tais como remuneração do estoque de capital físico e intelectual, marcas, poder de barganha, dentre outros, são de alguma forma secundários à monta de trabalho no processo produtivo. Mais do que isso, existe o pressuposto de que as diferentes formas de trabalho são comparáveis entre si e são de alguma forma proporcionais à produtividade subjacente. Mesmo quando este trabalho é realizado noutra economia! O iPhone é certamente um grande exemplo: o trabalho efetivamente empenhado é provavelmente a variável de menor relevância em seu valor final. Existe a marca, existe a infinidade de patentes nos componentes e no software, que nem de longe preservam alguma proporcionalidade ao estoque de esforço humano subjacente, existe muita energia, que em tempos recentes e por razões que não convém discutir aqui, é negociada a múltiplos elevados do custo médio de produção, e finalmente há algum trabalho manual. Muito pouco trabalho manual. No processo de manufatura, no transporte, no varejo. Não obstante, eles têm que ser comparados para se definir de forma adequada a inflação e a produtividade.

Note que refiro-me a inflação e não a custo de vida. Inflação não é custo de vida. No processo de desenvolvimento de uma economia, é natural esperar que a valor remunerado a trabalho comparável convirja em algum horizonte de tempo aos valores praticados nas economias desenvolvidas. O cabeleireiro americano não é mais produtivo que o cabeleireiro brasileiro. O que distingue sua remuneração relativa é outro fator que deveria desaparecer no processo de desenvolvimento da economia Brasileira. A única forma de uma economia se desenvolver sem inflar nominalmente o custo de vida seria através de um processo contínuo e duradouro de apreciação das taxas de câmbio. Mas isto raramente ocorre. Por uma razão muito simples: tipicamente numa economia em desenvolvimento as assimetrias de remuneração são muito maiores na média do que no topo. Um processo contínuo de apreciação cambial muito rapidamente levaria a níveis de remuneração dos mais ricos a um patamar superior ao praticado nas economias desenvolvidas. A não ser que a remuneração do topo caísse em termos nominais. Acontece que isto é muito difícil. É lícito supor que o desenvolvimento se dá pelo caminho com menos atrito, e este é pela elevação do custo de vida. Se isto é incorporado ou não numa medida de inflação é problema metodológico. Não deveria. Inflação não se trata disso, mas de um fenômeno completamente indiscriminado e mais ou menos determinístico de elevação dos níveis de preço. Não de variações de preços relativos.

Mas o que distingue o corte de cabelo do iPhone enquanto processos produtivos? A colaboração do capital. Um cabeleireiro hoje não é nada diferente de um cabeleireiro de 20 anos atrás. Ele, em tese, não é nem mais nem menos produtivo do que antes. O iPhone sequer existia 10 anos atrás. O processo de manufatura revolucionou-se por completo nos últimos 20 anos. Tornou-se obscenamente intensivo em direitos de propriedade intelectual em detrimento do trabalho. De um lado temos ganhos insignificantes de produtividade e do outro um ganho estapafúrdio de produtividade. O conceito de produtividade tornou-se obsoleto. Nada mais do que isso. Noutros tempos foi útil. Hoje cria mais problemas do que esclarecimentos. Ainda assim, desenvolvimento econômico trata-se de alguma forma de prover mais bens e serviços por quantidade de trabalho. Numa economia na qual uma parte da mão de obra é empenhada sem praticamente auxílio algum de tecnologia e outra parte é empenhada com níveis obscenos de tecnologia, existe um caminho aparentemente seguro rumo ao desenvolvimento: deslocar a força de trabalho de uma classe de atividade para outra.

Mais fácil falar do que fazer. Existem ocupações de baixa produtividade (neste sentido de uso da tecnologia) porque tais atividades são demandadas. E a demanda agregada por tais atividades é extremamente dependente do nível de renda dos mais ricos. Deveras, a chamada classe média alta cria uma demanda totalmente desproporcional por serviços tecnologicamente improdutivos. Domésticas, porteiros, babás, garçons, motoristas, manobristas, vendedores, consultores financeiros, tratamentos estéticos, psicólogos, professores, etc. Em sociedades particularmente desiguais como a Brasileira estas distorções são especialmente sensíveis. Os cinco por cento mais ricos detém algo da ordem de 45% da renda total. Que são desproporcionalmente despendidos em atividades tecnologicamente improdutivas. E eis a armadilha brasileira: a fração da renda dos 5% mais ricos não caiu, antes subiu. O fenômeno de redistribuição de renda deu-se unicamente entre a longa cauda dos mais pobres e o que era genuinamente a classe média. E saciou-se pela oferta de bens de consumo importados e pelo elevado nível de subemprego prévio. A demanda pelo trabalho tecnologicamente improdutivo criada pelos mais ricos não perdeu importância. Claramente este processo esgotou-se. O futuro desenvolvimento brasileiro depende necessariamente da queda da participação dos mais ricos no monto da renda total. Quer pela competição, quer pela tributação, quer pela diminuição da rentabilidade da riqueza. De alguma forma isto tem que acontecer. Caso contrário entraremos noutro período de prolongada estagnação.

Sunday 12 April 2015

O Brasil e a teoria monetária moderna





A sociedade quado pensa em medicina de primeira classe, pensa nas ultimas tecnologias a disposição da população, pensa que médicos estão o tempo todo estudando e fazendo pesquisas para melhorarem essa medicina; isso acaba que é uma realidade.  Contudo, curiosamente, essa mesma sociedade deixa de lado algo crucial e não se atenta a ideia de que a teoria econômica está emperrada / parada ha muito tempo; a teoria econômica não evoluiu nos últimos 50 anos. Na prática, "nada realmente  importante" da teoria econômica "moderna" acadêmica se aplica hoje. Os estudos sobre o dinheiro deveriam ser prioridade em uma sociedade e muito mais debates sobre a criação de dinheiro e o bem estar social deveriam acontecer. Na prática, a população acaba caindo na armadilha de pensar que o bem estar social está de certa forma limitado a esse "dinheiro" que é escasso.  A escassez do dinheiro e a restrição orçamentária parece óbvia, pois fazemos sempre a comparação com nossa família ou com o setor privado que, realmente, têm restrições ao dinheiro; mas para um governo soberano isso não se aplica. O dinheiro, na verdade, é ilimitado para um governo soberano e isso deveria ser debatido com afinco.  Essa "incrível verdade" ficou muito mais evidente durante e após a crise financeira de 2008.  Hoje o Brasil sofre com a tal restrição orçamentária, será que isso é justo?  Será que o Brasil não pode pensar diferente? Ou pensar parecido com a China?

O mundo viveu "5000 anos" com uma restrição real de dinheiro (restrição monetária), essa restrição aparecia na forma do padrão ouro.  "Financeiramente falando", do "início da história" para frente, o ouro escasso era a referência para a criação de dinheiro e gastos de um governo e para o setor privado. Como o ouro era escasso, realmente existam restrições de dinheiro ou ao poder de compra em um governo. Até 1971, dólares americanos tinham valor intrínseco, esse valor intrínseco era o ouro depositado no FED, banco central americano.  Pessoas poderiam literalmente pegar o ouro no banco central e levar para casa e isso era ótima garantia, pois a população havia vivido 5000 anos pensando em ouro; algum colateral para o dinheiro ou depósito bancário era ótimo.  Depois de 1971 isso não era mais verdade e o sistema de moeda Fiat tomara forma.  Moeda Fiat é a moeda que tem valor porque o governo aceita como pagamento de impostos e porque o governo diz que, legalmente, os contratos podem ser liquidados nessa nova moeda sem colateral em ouro, nada mais do que isso.  O dinheiro depois de 1971 virou uma promessa do governo e não algo tangível como ouro.  O mundo que via o dólar como a moeda reserva de valor, não teve outra opção mas manter essa ideia, pois todo o sistema financeiro mundial após a segunda guerra havia sido organizado em termos de dólar americano. O dólar passou a ser, na teoria, igual as outras moedas, sem colateral tangível de valor. 



Os políticos, a mídia, os participantes do mercado não notam, ou esquecem que quase 100% da teoria econômica do mundo foi escrita antes de 1971 e como existia a restrição monetária do padrão ouro, aplicar teoria econômica antes e depois de 1971( criação da "nova moeda reserva" Fiat currency) faz uma enorme diferença. Isso ficou evidente, inclusive, no ótimo artigo ( http://itisallabiglie.blogspot.com.br/2015/03/sobre-os-aforismas-economicos.html ).
Nem "vamos perder tempo" falando de teoria econômica clássica e partamos logo para o "keynesianismo neoclásssico"  Afinal, governos podem ficar sem dinheiro?  Existe mesmo uma restrição orçamentaria para um governo?  Governos têm que pegar emprestado para financiar seus gastos? Existe uma poupança pré definida a todo momento que restringe os gastos, pois não se pode gastar sem haver uma poupança ou dinheiro anterior?  Se os governos pegarem dinheiro emprestado eles estarão mesmo competindo por fundos com o setor privado e essa demanda por dinheiro faz as taxas de juros subirem?  Rodar um déficit fiscal é preocupante ou ruim para uma economia?

Não vou aqui nesse documento querer explicar toda a teoria monetária moderna, mas acredito que o conjunto de documentos nesse blog vai acabar explicando-a muito bem. Hoje tenho por objetivo, falar do básico do básico, como o início desse artigo já indica.  Antes 1971, quando o banco concedia um empréstimo, ou quando o governo iria gastar, ambos tinham que ter em mente que aquele dinheiro ou depósito criado, teria que, obrigatoriamente, em parte, estar depositado em ouro no banco central dos EUA, com isso, tudo era restrito e o capital realmente era escasso.  Após 1971 a restrição do ouro desapareceu, com isso, o limite de um governo não passa mais pela ideia de insolvência desse governo e sim pelo perigo de inflação. A inflação potencial é o limite, não existe mais restrição a quanto de moeda ou depósitos um governo pode emitir, ou quanto possa gastar.  Como o governo pode emitir quantidades de dinheiro ou depósitos ilimitadamente, logo a probabilidade de calote de um estado soberano que tem dívidas apenas em sua moeda é = a zero.  

Rodar um déficit fiscal monstruoso é problema se a inflação for baixa? Claro que não. Rodar déficit fiscal monstruoso gera inflação com certeza? Algo que temos que entender é que todos os governos têm dívidas e a dívida nada mais é do que os déficits fiscais acumulados ao longo do tempo.  Quando o governo gasta mais do que arrecada, o banco central credita a conta do tesouro nacional ilimitadamente, não ha restrição a não ser que essa restrição seja uma lei do país, uma lei que o país está impondo em si próprio e não por causa de alguma restrição real, como existia na época do ouro que tinha oferta limitada.  Quando o governo gasta esse dinheiro, em algum bem ou serviço, o dinheiro, no final do dia é depositado em um banco para obter alguma rentabilidade via um CD, por exemplo ( certificado de depósito bancário) ou o dinheiro é aplicado em algum título do governo. Caso esse dinheiro não seja de uso dos bancos e sobrem no sistema, o banco central emite títulos públicos para acomodar esse dinheiro e isso vai somando a dívida pública.  É por isso que as taxas de juros no mundo em geral são tão baixas, as dívidas / riquezas ( contra partida da dívida) são tão grandes que o dinheiro fica sobrando no sistema no overnight, muito dinheiro competindo por aplicações acaba em taxas de juros cada vez mais baixas, pois todos querem evitar que o dinheiro que sobre renda zero, com isso, excesso de déficits e dívidas geram taxas de juros baixas e não altas como a teoria econômica deseja explicar.

Um banco privado também não precisa mais se preocupar com as restrições antigas e se aparecer tomador de dinheiro que seja "da confiança", o banco empresta na hora depositando na conta do cliente via um computador. Existem N maneiras em que o banco pode conseguir esse dinheiro, mas, no limite, o banco central credita a conta reserva daquele banco e dinheiro aparece.  Ou seja, como já falei em outro documento, se um país não entregou sua soberania como a Grécia e Portugal entregaram a união européia, se um país é soberano, tem moeda e dívida aceita por sua população e tem um banco central, câmbio flutuante ( a conversibilidade seria o ideal) o céu é o limite em termos de bem estar social, especificamente o emprego de toda a sociedade, ou full employment.  

Em várias épocas na história ficou claro que quando os déficits do governo foram pequenos, o desenvolvimento parou e ou o setor privado teve que se alavancar para substituir o governo na composição do PIB.  Na era Clinton, que foi conhecida como um governo superavitário, o que tínhamos de contra ponto, era o crédito do setor privado crescendo a passos gigantescos até o momento que isso se esgotou a economia "colapsou".  Em 2006 o déficit público não foi suficiente e o que aconteceu depois? Novamente o setor privado se alavancou demais e tivemos o super problema em 2008. Por que não ter baixado o imposto das famílias para zero para que essas pudessem fazer o pagamento de suas hipotecas? Iria fazer alguma diferença para o governo que não pode ficar insolvente em moeda local nunca, principalmente nos EUA onde a moeda reserva é criada?  Na época que o "Bush pai" aumentou impostos brutalmente o que sucedeu? Menor déficit e crise econômica.  O setor privado tem limites, como uma família tem, o setor público não tem limites e não pode ficar insolvente, por isso, déficit público é uma coisa boa e não ruim até que a inflação apareça se aparecer.  O mal das pessoas foi achar que a alavancagem do setor privado não tinha limites e que a do setor público tinha, quando a verdade é justo ao contrário, quantas crises poderiam ter sido evitadas no mundo todo?

Falando dessa maneira parece até que os governos podem gastar a vontade que não vamos ver inflação em hora nenhuma. Como falei em outro texto, não existe teoria de inflação confiável no mundo e é complicado apontar motivos específicos de país para país em termos de processo inflacionário, porém a observação dos últimos vários anos nos dão uma boa ideia do que está acontecendo. Ora, acho que já está mais do que provado que déficits gigantes, criação de dinheiro para financiar os governos, e crédito privado gigante não estão relacionados a inflação e a alta de juros e isso está claro olhando para um mundo que vai da China aos EUA.  Déficits gigantes foram e são  rodados nos EUA, UK, japão e em grande parte do mundo nada de inflação e sim perigo de deflação e tudo isso acompanhado de juros zero ou negativo. Afinal déficit fiscal não gera inflação? Afinal dívidas maiores e gigantes dos governos não geram inflação, está mais do que provado que não.  Não é por menos que a China já notou isso a apertou fundo no acelerador, criando, só de ativos financeiros, $17 tri de dólares em 5 anos, sem dar satisfações a ninguém. Vejam se os chineses estão com problema de inflação, vê se os EUA, UK, Japão e Europa estão com problema de inflação, pois é. não estão.

Minha ideia nesse documento é iniciar alguns ou a maioria dos leitores sobre a teoria monetária moderna, que já é escrita a passos largos no exterior ( MMT: Modern Monetary Theory) que na verdade nada mais é do que a teoria sobre a observação da economia na prática e não com base em teorias que foram escritas mediante o padrão ouro.  E o Brasil, como entra nessa estória?  Ha algum tempo, foi escrito um texto sobre o pagamento imediato da dívida externa do Brasil ( http://itisallabiglie.blogspot.com.br/2015/02/requerimento-de-legislacao-para-atenuar.html ).  Para que ter dívida pública externa se temos muito mais dólares do que devemos ao exterior? Ou melhor, precisamos de dívida externa para alguma coisa? Não. Nós temos é que operar dentro de nossa moeda para que nós, também, tenhamos soberania e que nosso estado, também, não tenha limite de dívidas e déficits como aconteceu com todo o mundo desenvolvido, sem maiores problemas.

O Brasil não precisa ter medo de déficit ou de dívidas altas, o Brasil precisa de reformas estruturais ( já é tema para um próximo documento) para que a parte da oferta de sua economia esteja preparada para a demanda, para que não haja inflação. JÉ por isso que as taxas de juros no mundo em geral são tão baixa, as dívidas são tão grandes que o dinheiro fica sobrando no sistema no overnight, muito dinheiro competindo por aplicações acaba em taxas de juros cada vez mais baixas, pois todos querem evitar que o dinheiro que sobre renda zero, com isso excesso de déficits e dívidas geram taxas de juros baixas e não altas como a teoria econômica deseja explicar.Historicamente, é só observar a própria história econômica dos países no século 19 e 20 e ver que a inflação aparece por problemas de oferta e não demanda. 
Não sejamos hipócritas e achemos que existe restrição orçamentária para o Brasil e ou que o Brasil pode ficar insolvente ou que os juros gigantes no Brasil são justificados, seja por instituições fracas relativamente, seja por corrupção relativamente alta ou por que existe teoricamente uma restrição contra os gastos do governo.  O Brasil é nosso, vamos cuidar dele é só entender o que está acontecendo na prática econômica e não na teoria velha e antiquada.  As populações do mundo deveriam cuidar da teoria econômica como cuida da medicina, com atenção.

Wednesday 8 April 2015

Gravity, Heat, Light, Money and Freedom

Typically great scientific achievements start with some clue that provides a framework from which the right questions start to be considered. Curiously the time span from the start to the end of a theory is that of one generation: from Galileo formulation of the physics in terms of variable motion to Newton theory of universal gravity; from Thomson and Carnot formulation of heat in terms of mechanical work to Joule and Clausius kinetic theory of heat; from Faraday discovery of magnetic induction to Maxwell theory of light. From a Kuhnian perspective the one generation span is not that surprisingly. There must be dramatic shift in mindsets in order to fully grasp the meanings and potentialities of the new framework. The intra-generational period provides a gradual exploration of the potential implications of the new framework until someone completely absorbed by the new method of thinking is able to synthesize the achievements into a general grand theory that, if lucky enough, can reveal deep truths beneath the phenomena.  The beginnings of a new theory are not fortuitous. They always occur at the time when the prevailing technique can provide relevant data. Galileu, Thomson, Carnot and Faraday are children of the industrial technology of their time. The telescope, the heat engines, the controlled use of electricity could not have been achieved much before. The technique and the genius coalesce into one major new idea.

And I believe we are in one of those moments in scientific history. The major recent developments of  financial technique together with the vast experimentation in monetary theory has provided a fertile ground from each some genius can glimpse some deep clue about the nature of money. It is some sort of Galileo moment, we just do not know yet who the new Galileo is/are. It is pretty obvious today to anyone who take seriously the inquire about the nature of money that the whole previous obsession with concrete manifestations of money and their efficiency of use were misguided. The social realization of money does not seem to be relevant at all: money must have a deeper meaning within the functioning of the economy the surpasses its manifestation as metal, paper, digits, or credit or block chain. Every one of these can serve as money, but none of these is money. If we are able to abstract its meaning from its manifestations we can potentially implement a new kind of money that frees us from the radical shortcomings of its historical social realizations. Just like the failure of the metallic money is well understood for quite some time, the failure of the fiat money should now be evident to any sensible person. Not because of inflation, as many have feared for so long. Fiat money as we know it today has empowered the monetary bureaucrats with authority that should be unacceptable to anyone who take seriously the problem of political representation. The single most important price of the economy, the cost of capital, cannot simply be dictated by the will of a central ruler. Do not be fooled: the bureaucrats have no clue about what they are doing. Inflation targeting is over. We live in the era of monetary bureaucrats with unbounded power and unbounded ego. We desperately need a true theory of money.

Tuesday 7 April 2015

O Brasil merece esse tratamento? Instituições absolutamente fracas?

No Brasil hoje, reina o ódio em relação ao PT, isso é baseado em muitas razões pertinentes, principalmente a corrupção.  Esse ódio aumenta a possibilidade da miopia coletiva popular, que já é enorme e a cegueira coletiva acabou reinando.  Ao longo dos anos, teses foram adotadas em N disciplinas, mas como saberemos se essas teses adotadas são as certas ou erradas, ou até, vamos mais longe, se essas teses realmente senvem na prática, ou apenas para os interesses de alguns poucos grupos?  Depois de esrcever o ultimo artigo, recebi um comentário que acabou dando origem a esse "documento" e o tema é: as instituições são realmente fortes no mundo desenvolvido para que exista o argumento que o Brasil ou qualquer outro país mereça "ser tratado" de maneira diferente pelas pessoas em geral e pelos mercados?  O mundo desenvolvido realmente tem se comportado bem respeitando contratos e mostrando que suas instituições são fortes? Será que o Brasil não cumpre mesmo seus contratos? Será que o Brasil merece taxas reais de juros mais altas e um tratamento internacional inferior? É claro que o Brasil tem muitas instituições fracas, mas isso é comum em toda parte pois, como diz um amigo meu, "sempre que as instituições são testadas, "abrem o bico"", ou seja, amarelaram ( chicken) para a realidade, mesmo que a realidade caracterize tudo o que tenha sido pregado de melhor por essas mesmas instituições por anos e anos; a famosa hipocrisia na hora que o sapato aperta.

Afinal, que instituições são essas que fazem do mundo desenvolvido realmente desenvolvido? O banco central europeu que fala, "what ever it takes", "farei todo o necessário"? (quando a crise realmente ficou grave). O banco central americano que falou abertamente que grande parte do seu objetivo ao fazer QE ( criação de dinheiro imediato do AR) era fazer o preço da bolsa subir, para que as pessoa se sentissem mais ricas para poderem gastar mais? Sem nenhuma vergonha na cara! Isso é sem precedentes na história do FED, que sempre disse não querer se envolver na formação de preços dos mercados. Ou, é melhor falar das fraudes contábeis de Enron e Worldcom no inicio da década passada, expondo, de vez, a fragilidade da industria de auditorias de alto nível no mundo desenvolvido. E a fraude gigante do subprime, aonde milhões de documentos foram forjados para que contratos de imóveis fossem fechados e executados nos EUA há poucos 10 anos atrás?

Ano passado, a ideia de que houve quebras de contraos no Brasil ficou muito forte, porque, em tese, o governo não deixou certos preços subirem na economia, preços esses que garantiriam retornos financeiros contratados pelas empresas com o governo.  Isso não confere.  A realidade é, nesses casos, os preços são regulados, existe uma regra intertemporal para garantir rentabilidade do contrato, algo que vai ser cumprido como sempre foi.  Não houve quebras de contrato. Os EUA como no Brasil, já congelaram os preços nos mercados; quer maior quebra de contrato do que essa? E então, esquecemos do que os outros fazem e carregamos a cruz de cristo para sempre? Existe algum complexo de inferioridade dos analistas brasileiros? Falta de informação? Doutrinação?

Algum ser humano no século 20 e 21, pensa em quebra de contrato maior do que o calote de 1970 nos EUA? Os EUA calotearam sua população em $60 bilhões de dólares em barras de ouro, um contrato de 25 anos. Para muitos o maior calote do século 20!? E então, cadê a instituição forte?  E a União Europeia? Deu calote generarizado no Chipre da noite para o dia, sendo o Chipre membro do grupo europeu.  Que instituições maravilhosas são essas que, da noite para o dia, mudam as regras do mercado financeiro, proibindo apostas contra o mercado na hora que o sapato apertou? ( "vender a descoberto": vender hoje para comprar no futuro mais barato) não pode mais porque o sapato da instiutição está ameaçado? "Não pode vender título público europeu a descoberto!!!???" Por que? Cade o liberalismo? Cadê o mercado aberto? Mais uma quebra de contrato? Pimenta no rabo alheio é refresco!!!  Que instiutições fortes e exemplares são essas que deixaram os bancos europeus marcarem seus balanços "a modelo" e não a mercado, porque, se não,"todos" os bancos estariam quebrados? Aonde está o liberalismo capitalista de mercado aberto? Tudo isso aconteceu no UK, EUA, e Europa há pouco tempo!

A corrupção. No Brasil hoje vivemos abaixo das nuvens da currupção exposta e aberta, parece uma sala de CTI / UTI de um hospital; sofrimento psicológico nas máximas.  O humor das pessoas gira em torno da corrupção, o dia a dia das pessoas gira em torno da corrupção, Um dia isso vai passar, porém vale notar estatísitcas importantes sobre corrupção no mundo. Segundo https://www.transparency.org/cpi2014/results o Brasil aparece em número 69 em termos de corrupção percebida no mundo. Notem que estamos melhores em termos de corrupção que o México e empatados com a Itália, com a Itália! Brasil melhor que 90% da america do sul.  Mesmo que caiamos no raking por causa dos últimos casos de corrupção, nada justifica ou justificará se falar que o Brasil é um horror absoluto completo por causa da corrupção.  Eu falei de corrupção  porque a corrupção acaba sendo uma "instituição" na prática e muitos argumentam contra o Brasil e a favor de outros países justamente falando da corrupção comparativa.

Mitos que as instituições dos países desenvolvidos são fortes e merecem louvor e tratamento diferenciado, mito que o Brasil é extremamente corrupto e tem instituições não confiáveis absolutamente falando. Como o mundo "vive" de mitos, ou melhor é manipulado por mitos!!!

Agora, algo muito importante, e se as instituições "fortes", não são correlacionadas com o desenvolvimento economico? Ai, é pior ainda, porque estamos aqui argumentando sobre instituiçoes fortes e essas instituições não são, na verdade, um fator determinante para o desenvolvimento econômico. Isso é provavelmente verdade.  Um paper do Faculty of Economics, University of Cambridge (http://hajoonchang.net/wp-content/uploads/2011/01/JOIE-institutions-and-development-published.pdf) , fala que certos aspectos de instituições "fortes"( proriedade privada, por exemplo), que, em tese, existem em países desenvolvidos, não têm correlação histórica com o desenvolvimento econômico e,que, na verdade, países que mudaram suas instituições para um modelo mais neo liberal, passaram a desenvolver-se menos e não mais nos últimos 30 anos.  Modelos mais rígidos acabaram registrando um desenvolvimento mais forte, em média, no mundo, pense na China agora como exemplo máximo

A China. Corrupta, muito mais que o Brasil, sistema judiciário bem menos desenvolvido que o nosso, quebram contratos a toda hora, dão calotes em patentes e etc.  Hoje, a China é o motor do mundo e seu desenvolvimento econômico e social é sem precedentes. Agora, me digam por que usam o argumento de que o Brasil deve pagar juros astronômicos por casa de suas instituições fracas, ou mesmo, por causa da corrupção relativa gigantesca?  O que temos que aprender sobre o mundo de hoje é, se houver aceitação da moeda local pela população e aceitação dos títulos públicos como ha no Brasil (mesmo com o ódio do PT), se houver um banco central e não houver problemas de oferta para causar inflação, o céu é o limite em termos de desenvolvimento, mesmo para países de "casta baixa" como o Brasil e a China. "Instituições fortes", foi um argumento inventado pelos países "desenvolvidos" para nos doutrinar mais e mais. Esse argumento de instituições fortes começou mesmo no início na década de 90. Antes disso, pouco era clamado sobre a correlação entre instituições fortes e o desenvolvimento. Espero que meu amigo que comentou o texto anterior esteja completamente satisfeito. Espero que entendamos que, nem sempre as teses adotadas pelas instituições e pelo meio acadêmico são as mais corretas.  Temos, muitas vezes, que pensar por nós mesmos.

Darwin and Economic Reforms

Frequently science advances by the proposition of theories that are able to explain certain phenomena under a certain ideological framework. Evolution theory is one of the greatest examples. Darwin proposed a reasonable mechanism that could explain life under a strictly materialistic framework of biological nature. The early enthusiasm about the theory did not derive from its empirical accomplishments, but from the attractiveness of its underlying ideological framework. It was now possible to adhere to all-encompassing materialism without any plausible rational objection. Nonetheless, the theory made very broad predictions about the nature of life, the nature of heritage, the possibility of mutations, the continuity of specie differentiation and the power of a natural selection optimization algorithm. The ultimate vindication of the theory dependent on the adequate confirmation of each of those bold predictions. Ideology in itself would hardly have been sufficient for one of the greatest scientific achievement of all time.

It is important to recognize that even though ideological reasoning can be a plausible motivation for advancement of knowledge it cannot be sufficient in itself. The inner logic of a theory, often sufficient to convince adherents of that specific ideology, cannot form the basis of proper scientific knowledge. Any theory based on ideology must be able to either make new factual predictions or explain other phenomena that are somewhat alien to the original scope of the theory.

The so-called New Institutional Economics is a good example of an ideology-based theory. By invoking high transaction costs and partial information, it proposed a mechanism, from which a system of rational self-interested agents could create, by the imposition of those with bargaining power, sub-optimal institutional frameworks. From a strictly theoretical point of view, it was nothing more than giving enough degrees of freedom to a new classical model in order to allow it to accept stable sub-optimal equilibrium. However, from an ideological point of view it was a major achievement: it was now possible to adhere to neoclassical economics without any plausible rational objection. In theory, any historical institution of societies could result by this mechanism. Even more important, it introduced the possibility of path dependency on economic development: it was plausible for an economy to be stuck in a sub-optimal equilibrium because those with bargaining power were able to devise stable institutions to serve their own interests. Just like evolution theory, it became mainstream almost overnight by those captivated by the neoclassical ideology. Both the IMF and the World Bank were eager to implement its prescriptions to their programs. It gave them as an institution, and their bureaucracy as ideologues, a new reason for existence. The era of economic reforms began: every country should be “forced” to reform their existing institutional framework to make them more like those of developed economies. It was the stairway to heaven. The global general equilibrium of all nations was within grasp.

The theory made bold predictions, or at least as bold as we can get from social sciences. First, since there is still a general equilibrium without transaction costs, there are potentially perfect institutions. Those economies that were able develop continually should be closer to those institutions. Moreover, as consequence, they should be much less subject to abnormal economic cycles than those predicted by traditional neoclassical economic models. In addition, even though there is no unique path to approach the optimal equilibrium, on the long run those idiosyncratic paths should more or less converge to each other. In other words, there should be no sustained development strategy very different from those pursued by the developed economies. Small variations in accordance to the historical idiosyncrasies of each economy are reasonable, but a radical deviation would be a huge anomaly.


How then could the 2008 economic crisis happened? How such a divergent outcome be possible? Even more shocking: it was very clearly caused by the state-of-the art institutions (like Basel capital rules). Even more shocking: how could China find a sustained development trajectory so alien to those of the past? How could an economy so far away from neo-liberal political and social institutions be the best performing economy for so long? In its bold predictions new institutional economics failed badly. Nonetheless, it continues to be preached as sacred scripture all over the developing world. Reform, reform, reform. Basle II failure? Bring us Basle III. The ultimate irony is that those proponents of the theory seem to be stuck in a suboptimal methodological equilibrium: the theory seemed too beautiful to be false.