Disciplina econômica sempre foi um símbolo de prosperidade. Disciplina econômica sempre esteve presente e intensamente imposta no meio acadêmico, no mercado financeiro e entre as pessoas em geral. Afinal de contas, economia é o estudo da administração dos bens escassos e, por isso, essa tal disciplina sempre foi ponto de foco central entre economistas e governantes. Hoje em dia, será que disciplina de gastos, economizar, poupança têm mesmo relevância na prática? Será que existe mesmo a necessidade de haver alguma poupança para que haja prosperidade via investimentos como muitos continuam clamando por aí, mesmo depois das consequências e atitudes tomadas após a crise de 2008? Será que os países em desenvolvimento sofreram e sofrem porque são indisciplinados fiscalmente? Será que, realmente, imprimir dinheiro cria inflação como é afirmado a séculos? Uma coisa é notável; justamente através da história vimos que os grandes ciclos e impérios acabaram por N motivos, mas com certeza, um dos grandes vilões foi a inflação, porém, hoje isso não se aplica mais, só é uma ideia que continua nas cabeças dos burocratas hipócritas e detalhe, a tese só aplicada nos países pobres e sub desenvolvidos.
Afinal, qual é, ou pelo menos, qual deveria ser o objetivo do estudo da economia? Acredito que a resposta é muito simples. Estudar economia é, ou deveria ser, a idéia ou tentativa de gerar bem estar social ao maior número de pessoas possível na terra sem criar inflação alta ou desconfortável tendo também em vista a manutenção responsável dos recursos naturais. Tendo em vista que o objetivo é esse, vamos analisar a situação dos últimos anos no mundo e vamos ver se existe ou não dois pesos e duas medidas na hora de tratar países "desenvolvidos" e sub desenvolvidos. Detalhe, coloquei países "desenvolvidos" entre aspas, pois na minha humilde opinião, tendo como base a economia clássica, ou melhor, a economia estudada nas melhores universidades pelo mundo; país que não tem como pagar suas contas, pais com bancos super alavancados e quebrados por definição, não podem ser considerados desenvolvidos, simplesmente porque faliram. Com a falência, serviços sociais avançados e da melhor qualidade deveriam cessar de existir e logo esse país desenvolvido deveria quase que imediatamente ser rebaixado a um pais em desenvolvimento ou mesmo pobre, não faz sentido para você?
Vimos o Japão entrar em grande expansão econômica após a segunda guerra mundial, e essa expansão e melhora brutal da qualidade de vida da população chegou ao ápice na década de 80. Logo depois o que acontece? "O país ficou Insolvente baseada nas teses econômicas liberais". Na presença de muitas dívidas e contas a pagar o governo japonês começou a imprimir dinheiro para pagar suas contas e dívidas e principalmente para manter seu sistema financeiro solvente. Eles chamavam isso de medida de emergência heterodoxa, mas o ponto é, a teoria econômica deixou de valer para aquele país, pois o dinheiro não vinha de poupança alguma e sim da "máquina de imprimir do banco central". Até aí tudo bem, emergência, passageiro e consequências ruins iriam acabar surgindo, e logicamente, a inflação foi a primeira variável que "acendeu" na cabeça dos economistas e analistas e, muito provavelmente, tudo aquilo iria desmoronar num caos de espiral inflacionário. Ora, todo mundo sabia que, ir contra a teoria econômica e ser indisciplinado só poderia acabar em problemas.
O que nós vemos hoje no Japão? O bem estar social continua a todo vapor, o desemprego é baixíssimo, não há nenhuma inflação, muito pelo contrário, eles vêm lutando contra a deflação há muitos anos e o principal, a impressão de dinheiro que seria passageira e emergencial continua até hoje, e o "pior" ainda, mais dinheiro do que nunca é criado do AR nos dias de hoje. Além de tudo, o país tem uma dívida do governo de 220% do PIB ( parece até piada, ou mesmo uma lenda, conto de fadas). O que houve com a teoria econômica da inflação por indisciplina e olhem que estamos falando na pior indisciplina da teoria econômica, a criação de dinheiro sem lastro ou como costumo falar, dinheiro do AR?
O que é inflação? E porque esse fenômeno jamais aconteceu no Japão após o início da "crise"? Inflação acontece quando a demanda é maior do que a oferta por tempo suficiente para jogar os preços para cima; mas e se a oferta for sempre equilibrada ou até maior que a demanda mesmo com dinheiro do AR? Resposta, não há inflação alguma, muito pelo contrário. Mas os economistas são teimosos, os economistas são convictos e mesmo sem entenderem nada, clamavam que o Japão era uma exceção a regra e que não era possível para o resto do mundo fazer o mesmo, eu aceitei a tese, o mercado aceitou a tese e o mundo continuou girando.
A crise de 2008 chegou, EUA, Europa, UK literalmente quebraram e que fizeram? Disciplina fiscal? Nem pensar. Deixar os bancos e segurados e várias outras indústrias quebrarem como mando a teoria econômica liberal, nem pensar. O que foi feito? O mesmo que foi feito no Japão. Déficits fiscais monstruosos apareceram, socorros a bancos, seguradoras e outras indústrias aconteceram e tudo isso como? Utilizando o tal dinheiro do AR e dívidas e mais dívidas. Cortaram gastos sociais ou até aumentaram? Pois é, aumentaram. Houve alguma inflação? Não, muito pelo contrário, hoje esses países estão com inflação baixíssima ou até deflação e suas taxas de juros estão a zero ou negativas. Juros zero ou negativo??? Mas, e toda a indisciplina não deveria justamente levar os juros as alturas por causa do maior risco? Pois é, nada disso aconteceu ou acontece hoje em dia. Os bancos centrais tomam conta e garantem "o esquema".
Hoje pedem que o Brasil tenha disciplina fiscal, que corte gastos, que aumente impostos que faça exatamente tudo o que os países "desenvolvidos" não fizeram e não fazem. Isso tudo também é "exigido" para vários países sub desenvolvidos pelo mundo, mesmo que, todos os economistas, acadêmicos e participantes do mercado tenham visto que nada da teoria de inflação realmente aconteceu na prática. Afinal, existe no mundo hoje alguma teoria de inflação confiável? Ou o que existe é uma hipocrisia, ou mesmo, um sistema de castas no mundo financeiro aonde só os países com história de domínio possam fazer o que querem, sem deixar que outros façam também. Ou ainda, será que países que detenham o poder bélico podem fazer o que querem mesmo que por coação e influência? A mais pura hipocrisia domina a situação mundial.
O Brasil tem inflação relativamente alta e juros astronômicos, juros impensáveis, juros acima da inflação que são o dobro da própria inflação, o mercado fala que é uma consequência! Balela!!!. Quanto da inflação do Brasil acontece via juros? Quanto de influência o juros tem na cessão de crédito, eu diria e as correlações dizem, perto de zero. Então por que pagamos "o maior" juros real do mundo? Porque amigos existe uma cultura de que tudo tem que ser resolvido via juros, e a classe dominante e formadora de opinião acata isso, afinal é super conveniente ganhar 13% ao ano, ou 6% de juros reais somente freqüentando a praia. Que vergonha! Enquanto isso 23% de toda a arrecadação do país vai para o pagamento de juros, vergonha!
O Brasil hoje tem ameaças de downgrades por causa de indisciplina fiscal, falta de poupança e por causa da possibilidade de não poder pagar suas dividas. Sejamos honestos, o Brasil hoje é AAA e não nota mais baixa, sabem por que? Porque nota de agência de rating é referente a capacidade de um pais honrar suas dívidas. Hoje o Brasil tem $40 bilhões de dívida externa e $370 bilhões em reservas, se quiserem descontar os $100 bi de swaps cambiais mesmo sem esses tenham sido "liquidados", contemos com isso também, sem problema. Sobra muito! O Brasil, se quiser paga 100% da dívida externa amanhã ( algo que deveria fazer) e as dívidas em reais ( moeda local), no limite, imprimimos e pagamos. Não rolávamos nossas dívidas no overnight na década de 80? O único calote que existiu no Brasil não foi de dívida externa? Que conversa de downgrade é essa? Concluindo que hoje o Brasil tem 100% de capacidade de pagamento de suas dívidas e, com isso, pensar em downgrades ou mesmo levar um downgrade por qualquer indisciplina que seja, é hipocrisia, afronta e falta de respeito.
O Brasil tem inflação alta hoje em dia por vários motivos; leis erradas do passado, sofreu uma desvalorização cambial substancial nós últimos dois anos, um governo mais popular tirou 40 milhões de pessoas da miséria e retirou mais 30 milhões da classe pobre para a média, falta de infra estrutura, enfim, um monte de variáveis, mais isso "é normal". A Coréia do sul ao desenvolver-se rodou inflações entre 5 e 9% ao ano por muitos anos e, com o passar do tempo e boas políticas criou bem estar social para o maior números de pessoas possível e hoje não tem inflação alta.
Adotar disciplina para que? Estrangular a população e os meios produtivos via impostos altos para que? Cortar dívidas para que? Hoje vivemos na era dos bancos centrais, vivemos a economia que não é mais o estudo dos bens escassos e sim abundantes!!! ( o capital). Foquemos no bem estar social e em reformas para conter a indexação da economia e os vícios ligados a expectativa de inflação crônica, isso sim tem que ser feito e não ajuste fiscal algum. O dinheiro hoje é sem lastro e é criado ao léu.
Eu "gostaria muito" de ver se "todo mundo" iria gostar de morar no UK se não houvesse segurança, educação, saúde e infra estruturas de qualidade altíssima. Tudo isso é pago também com muito dinheiro do AR e dívidas e mais dívidas e mais dívidas ( Hoje o banco central do UK detém 40% de toda a dívida do país, funny enogh!!!). Lembrem, criando-se dinheiro / riqueza, cria-se dívida e se o dívida não é paga, ou não rende nada, ou roda a taxas negativas, isso não é riqueza. O endividamento é gigante no UK, por volta de 120% do PIB (Brasil tem dívida líquida de 36% do PIB), o UK vem rodando déficits ficais grotescos que já chagaram a 10% do PIB há alguns poucos anos e esse ano será de 5% do PIB ( querem o que pobre Brasil rode superávit fiscal de 1,2% do PIB) pode isso? Eu quero Brasil como o UK, eu quero Brasil Japão, eu quero Brasil Europa, se for para não seguir os livros de economia, o Brasil também quer o mesmo. Queremos o bem estar social para o maior número de pessoas possível, porque, claramente, no mundo não existe mais a tal da restrição orçamentária, isso fica para o museu de economia e não para debates de gente séria ou mesmo gente com um mínimo de inteligência.