Na sua História da Análise Econômica Schumpeter debate em
profundidade o tema acerca das relações econômicas. Vejamos um trecho de relevo
em tradução livre:
“Em si mesmo não há nada de novo no que se convencionou
chamar de equação de Fisher ou Newcomb-Fisher. Ela simplesmente relaciona o
nível de preço (P) com (1) a quantidade de dinheiro em circulação (M); (2) sua ‘eficiência’
ou velocidade (V); e (3) o volume (físico) do comércio (T). Vamos expressar
isto escrevendo P = f(M,V,T). A esta relação funcional a equação de Fisher
impõe a forma P = f(V,M,T) = MV / T ou MV = PT. De novo, esta equação não é uma
identidade, mas uma condição de equilíbrio. De fato, Fisher não disse que MV é
a mesma coisa que PT, ou que MV é igual a PT por definição: dados os valores de
M, V e T, eles tendem a trazer um determinado valor de P, mas eles simplesmente
não traduzem um certo P.”
Conceitualmente o que nos importa aqui é notar que a
identidade MV = PT deriva de uma tautologia fictícia. Num mundo de poucos bens,
todos explicitamente transacionados por uma única moeda metálica, existe uma
restrição operacional às transações dado um certo nível de preços. Para que o
volume transacionado fosse alto, uma mesma moeda teria que passar de mão-em-mão
a uma frequência bastante alto, o que pode ser impossível ou muito custoso
dadas as possíveis restrições geográficas e demográficas. Neste sentido, a
relação seria MV > PT, e na hipótese de eficiente uso da escassez da moeda
metálica, MV = PT. Porquanto de um lado M, V e T teriam existência material, e,
por conseguinte, restrições a ajustes sem custo econômico, e do outro P é mera
realização social, quem pode sair de um patamar a outro sem envolver nenhum
outro inter-relacionamento econômico senão a transação em si, Fisher propõe a
regra numa dimensão de causalidade. Conhecidos M, V e T então P tenderia a se
equilibrar na média próximo à relação funcional f(V, M, T) = MV / T. Isto não é
um aforisma, mas em verdade uma proposição teórica justificada pelo apelo ao
bom senso no caso limite em que as transações comerciais são efetivamente
levadas a cabo pela troca monetária em forma metálica. Se concebe-se a
possibilidade de transações sob crédito ou de formas alternativas de dinheiro, então
o argumento não vale mais. A própria identificação do significado das letras
torna-se opaco. Desnudada, a relação resume-se a mera identidade tautológica: o
valor agregado das mercadorias comercializadas em denominação monetária é igual
ao montante de transações monetárias realizadas no âmbito do comércio de
mercadorias. Noutras palavras (PT) e (MV) são formas alternativas de se referir
a uma mesma coisa. As causalidades não são nada evidentes.
Que se diga então com todas as letras: qualquer
identidade econômica são ou mera tautologia linguística ou uma afirmação acerca
das restrições econômicas de ajuste de algumas das variáveis envolvidas. Se for
o primeiro caso, não dizem nada mais do que 2 = 1 + 1. Se for o segunda caso, existe
uma proposição teórica por trás, que pode ser correta ou não. Escrever uma
identidade tautológica na forma de equação e interpretar a seu bel prazer o significado
das letrinhas, isto é desonestidade intelectual. Ou simplesmente burrice mesmo.
No comments:
Post a Comment