Como os economistas nunca nos brindaram com uma teoria
efetiva e abrangente da inflação, e como depois de várias tentativas frustradas
simplesmente desistiram de buscar uma, mas como a realidade econômica impunha
uma solução do problema da inflação a solução adotada foi pragmática: encarar a
inflação como um problema de engenharia. Em termos mais sofisticados elaborar
um sistema de controle dinâmico que observando um pequeno número de parâmetros
econômicos e a trajetória da própria inflação definir uma função de resposta
dinâmica influindo num número reduzido de variáveis econômicas de forma que no
decorrer do tempo o fenômeno inflacionário permanecesse contido. Eis que nasce
o sistema de metas de inflação.
Assim posto, em termos estritamente técnicos, a função do
economista seria tornada supérflua. Logo, a necessidade de revestir o sistema
de metas de inflação de com uma roupagem ideológica: ancorar expectativas, identificação
de choques de oferta e demanda, credibilidade, previsibilidade. Mas não se
engane: é um problema de engenharia.
Fosse tal problema de engenharia resolvido com métodos puros
de engenharia talvez o resultado fosse diverso. O ponto de partida seria um
estudo empírico profundo da dinâmica da inflação, de suas variáveis relevantes,
e do ajuste no decorrer do tempo das sensibilidades da função de resposta
econômica. Mas estando revestido de ideologia, pode-se cometer um erro
essencial: o economista pode estar implementando um sistema de controle que não
respeite as peculiaridades da dinâmica da inflação.
Olhando para os 16 anos de implementação do regime no Brasil
a incongruência da implementação do modelo com a dinâmica da inflação é
patente. A meta de 4.5% vigente a bastante tempo simplesmente não parece ser
atingível a não ser por profunda manipulação da taxa de câmbio. O IPCA
acumulado de 12 meses só esteve abaixo de 4.5% consistentemente durante os
meses entre maio de 2006 e dezembro de 2007 e entre os meses de agosto de 2009
a dezembro de 2009. E é isto. O que há de específico nestes períodos? A
valorização do câmbio. De maio de 2005 (1 ano antes de maio de 2006) até dezembro
de 2007 o câmbio aprecia-se de 2,60 para 1,75. Ele continua apreciando-se até
os meados dos anos 2008 mas agora com um ciclo altista fenomenal de preços de
commodities (o petróleo sai de US$60 o barril em junho de 2007 e bate abismais US$145
em julho de 2008) que acaba gerando inflação. Entre abril e novembro de 2009 a
taxa de câmbio aprecia-se de 2,30 em média para 1,75. E de novo temos inflação
abaixo de 4,5. E acabou por ai.
Como nem o mais demente analista vai defender que os juros
reais praticados no período foram baixos, cabe a pergunta: será que a meta de
inflação de 4,5% é realista? Visto dentro do escopo ideológico, a meta de
inflação não é uma propriedade da dinâmica da inflação, mas o patamar ao qual o
agente da política monetária ancora as expectativas. Só que o Brasil é ainda
uma economia totalmente indexada. Todo choque temporário de preços é tornado
permanente pelo pacto social da indexação. É portanto legítimo o raciocínio de
que existe uma inflação residual na economia brasileira, advinda da inflação. E
se esta inflação residual não for baixa. E se esta inflação residual for ela
própria maior do que 4,5%? É uma hipótese que não pode ser descartada de antemão.
Ele parece bem substanciada na dinâmica histórica da inflação brasileira. Uma
inflação a taxa de câmbio constante ao redor de 5,5% parece ser bem mais
condizente com o histórico da inflação brasileira.
Cabe então a provocação: será que o regime de metas de
inflação no Brasil está tentando impor um nível de inflação inadequado à
realidade social brasileira? Se o problema é posto como mero problema de
engenharia a provocação é certamente substanciada pela evidência empírica.
Companheiro, então quer dizer que uma inflação de 4,5% é inadequada para a "realidade social brasileira"? O senhor acha, então, que o povo brasileiro, especialmente os mais pobres, está condenado a ter uma inflação mais alta que a do mundo? Dever de casa: vá ao site do FMI e verifique. A inflação média dos ricos está em torno de 1,9%, a do mundo em 3,5% e a dos emergentes (incluídos párias como Argentina e Venezuela, que provocam aumento da média) em 4,7%. A do Brasil tem girado em torno de 6,5%, mas já está acima desse patamar. O senhor sabe o que isso significa? Menos comida na mesa do assalariado brasileiro e menos emprego.
ReplyDeleteBem, estamos bem abaixo pelo menos desde Abril de 2017.
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